Estudo de um grupo de pesquisadores da Universidade de Kansas (EUA) e da Embrapa, recentemente publicado, traz uma avaliação positiva do impacto da Moratória da Soja no Bioma Amazônia, em seus quase 11 anos de existência, no sentido de reduzir as taxas de desmatamento no principal estado produtor da oleaginosa, o Mato Grosso.
O estudo norte-americano incorporou dados de desmatamento do Prodes produzidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A pesquisa “Soy Moratorium impacts on soybeans and deforestation dynamics in Mato Grosso” detectou uma “redução abrupta” de cinco a sete vezes da taxa de desflorestamento, imediatamente após a implementação da Moratória da Soja, em julho de 2006, resultado que reforça o significativo papel desse pacto no declínio do desmatamento associado à soja no bioma Amazônia. A redução relatada no estudo revela que o efeito da Moratória é maior do que o considerado anteriormente.
"Com base na nossa análise, encontramos um declínio muito mais forte do desmatamento coincidente com a Moratória da Soja do que outros estudos relataram", disse Jude Kastens, da Universidade de Kansas, que conduziu a investigação em coautoria com J. Christopher Brown e Christopher R. Bishop, da mesma instituição acadêmica, e com Alexandre Camargo Coutinho e Júlio César D. M. Esquerdo, da Embrapa.
Segundo Kastens, "a Moratória da Soja tem sido minimizada em algumas pesquisas como um fator na redução do desmatamento. Nosso exame, baseado nos mesmos dados de desmatamento usados por outros, revelou que um declínio importante ocorreu imediatamente após a vigência da Moratória (...) O desmatamento ainda está acontecendo, mas desacelerou, e menos dessa terra (no bioma Amazônia) está sendo usada para a produção de soja", afirmou Kastens.
Contudo, os autores mostram que centenas de “propriedades de soja” em Mato Grosso sofreram desflorestamento após a implementação do Código Florestal (maio de 2012), embora permaneçam em conformidade com a Moratória, uma vez que não plantaram nestas áreas desmatadas.
Os pesquisadores observaram uma intensificação vertical do uso do solo, prática positiva para o meio ambiente. "Vimos um aumento dramático do plantio de duas safras na mesma área, na qual os fazendeiros plantam inicialmente soja e em seguida cultivam uma segunda cultura comercial, normalmente o milho”, disse Brown.
As preocupações sobre o desmatamento generalizado no bioma Amazônia, em uma época de incipiente governança ambiental, levaram à criação da Moratória da Soja, em julho de 2006, pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) e empresas afiliadas. A esse pacto juntaram-se ONGs ambientalistas e o governo federal. Sob a Moratória, a indústria processadora e os exportadores de soja concordam em não comprar nem financiar a oleaginosa produzida em áreas desmatadas no bioma Amazônia após julho de 2008.
Em julho de 2016, ao comemorar uma década da Moratória, o Grupo de Trabalho da Soja (GTS) revelou que os 37,2 mil hectares de soja da safra 2015/2016, em desacordo com a Moratória, representaram apenas 1,1% da área desmatada no bioma. O Relatório de Monitoramento do Plantio de Soja no Bioma Amazônia na safra 2015/2016, elaborado pela Agrosatélite e auditado pelo Inpe, mostrou que a principal cultura agrícola do País não tem sido um fator relevante de desmatamento naquela região, que ocupa quase metade do território brasileiro. Revelou, também, que tem sido possível conciliar a produção de alimentos com a conservação dos recursos naturais da maior floresta tropical do mundo.