Estudo mostra piora da logística no Brasil

Publicado em
24 de Março de 2014
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O Brasil caiu 20 posições no ranking de logística comercial do Banco Mundial, recuando do 45º lugar registrado no relatório anterior, de 2012, para o 65º posto no deste ano. Divulgado nesta quinta-feira, o estudo da instituição multilateral traz o Índice de Desempenho Logístico (LPI, na sigla em inglês), que classifica os países em várias dimensões do comércio, como o aspecto alfandegário, a qualidade da infraestrutura, a pontualidade no embarque e a qualidade e competência logística.

O Brasil aparece atrás de vários emergentes de peso. A China ficou em 28º lugar, a África do Sul, em 34º, o Chile, em 42º, o México, 50º, a Índia, em 54º e a Argentina, em 60º. Entre os países em desenvolvimento mais importantes, a Rússia ficou atrás do Brasil, em 90º.

Neste ano, numa pesquisa com 160 países, a Alemanha registrou o melhor desempenho geral, seguida por Holanda, Bélgica, Reino Unido e Cingapura. Os Estados Unidos estão em nono lugar. A lanterninha ficou com a Somália. No estudo realizado em 2012, a pesquisa analisou 155 países. O primeiro da lista foi Cingapura.

No item sobre a eficiência da alfândega, o Brasil aparece em 94º lugar. Em embarques internacionais, fica em 81º. O resultado é um pouco melhor no item infraestrutura - 54º - e qualidade e competência logística - 50º. São todos números piores do que no relatório de 2012. Naquele estudo, o Brasil estava em 78ª posição no item da eficiência da alfândega, em 41º lugar em embarques internacionais, em 46º em infraestrutura e em 41º primeiro em qualidade e competência logística.

Alguns indicadores dão uma ideia dos gastos com as atividades comerciais no país. Numa questão sobre o tempo e o custo de exportação, o custo de um contêiner de 12 metros ou semi-trailer no Brasil fica em US$ 866, acima dos US$ 494 da China e dos US$ 492 da Índia, mas inferior aos US$ 1.348 do México. O Brasil também não vai bem quando se mede o tempo entre a entrega de uma declaração na alfândega e a notificação de desembaraço, incluindo inspeção física. Isso demora oito dias no Brasil, acima dos três na China, dois na Índia e dois no México.

O relatório mostra que a distância entre os países com os melhores e os piores desempenhos em logística comercial continua muito grande, embora tenha havido uma lenta convergência desde 2007, quando foi realizada a primeira edição do trabalho. "Essa distância persiste por causa da complexidade de reformas relacionadas à logística e do investimento em países em desenvolvimento, e apesar do reconhecimento quase universal de que uma baixa eficiência na cadeia de suprimentos é a principal barreira para a integração comercial no mundo moderno", diz o Banco Mundial.

Essa é a quarta edição do relatório do LPI. As outras saíram em 2007, 2010 e 2012. O estudo deste ano traz também uma classificação dos países levando em conta os quatro resultados, atribuindo peso de 53,3% para o de 2014, de 26,7% para o de 2012, de 13,3% para o de 2010 e de 6,7% para o de 2007. Por esse critério, o Brasil fica em 57º lugar.

Logística deficiente agrava a posição relativa do País (O Estado de São Paulo)

Em apenas um ano, o Brasil perdeu 20 posições no ranking mundial de logística do Banco Mundial, segundo reportagem do Estado de sexta-feira. A posição ocupada pelo País já era ruim (45.º lugar), mas ficou muito pior: o Brasil caiu para o 65.º posto, o mais baixo desde o início do levantamento, em 2007. Entre os latino-americanos, Chile (42.º lugar), México (50.º) e até a Argentina (60.º) ocuparam posições melhores. Entre os países do Brics, a posição do Brasil também é a pior.

A classificação do Banco Mundial se baseia em entrevistas com mil pessoas, em todo o mundo. São avaliados a qualidade da infraestrutura de transporte, de serviços e a liberação das mercadorias nas alfândegas, o rastreamento de cargas, o cumprimentos de prazos de entrega e a facilidade para identificar os fretes mais competitivos, entre outros itens. O Banco Mundial não mede avanços ou retrocessos no plano físico, mas a percepção dos empresários - e esta oscilou muito nos últimos anos.

No item serviço de aduanas e alfândegas, por exemplo, o Brasil figurou no 94.º lugar e no item entregas internacionais, no 81.º posto.

Os empresários se reportaram a problemas objetivos - e bem conhecidos - das empresas brasileiras. O atraso médio nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é de quatro anos, segundo levantamento do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), cujo diretor, Paulo Fleury, definiu o resultado da avaliação do Banco Mundial para o Brasil como "desastroso".

Não falta só qualidade, mas oferta de serviços. O País tem 212 mil km de rodovias pavimentadas, ante 1,57 milhão de km na Índia e 1,58 milhão de km na China. A Rússia tem 87 mil km de ferrovias; a China, 77 mil; e a Índia, 63 mil; enquanto o Brasil tem apenas 29 mil km, segundo o Ilos. A distância que separa os números brasileiros dos de países desenvolvidos, como a Alemanha, a Holanda e a Bélgica (que ocupam os primeiros lugares na pesquisa) e os Estados Unidos, que estão na sexta posição, é ainda maior.

Os ônus decorrentes das deficiências logísticas são conhecidos, caso do custo do transporte da safra de grãos, em especial da soja, deslocada por estradas mal pavimentadas, paralisada em filas antes de chegar aos portos e, afinal, impossibilitada do pronto embarque nos navios. Sacrificam-se, assim, não somente o lucro dos produtores, mas as exportações, a começar do agronegócio, em que o País é mais competitivo.

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