Desde sexta-feira no Brasil, o líder humanitário indiano Sri Sri Ravi Shankar proferiu palestras sobre o futuro do planeta, transformação pessoal, respiração e liderança. Neste domingo ele estará no Medita Rio, das 15h às 18h, na Cinelândia. O evento é organizado pela Fundação Arte de Viver, presente em 160 países e consultora do Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas.
O GLOBO - Como a sociedade moderna respira? E como deveria respirar?
Sri Sri Ravi Shankar - Você já observou como um bebê recém-nascido respira? Os recém-nascidos respiram plenamente, há um funcionamento perfeito de todo o mecanismo torácico e abdominal. À medida que nos desenvolvemos física, mental e emocionalmente, nossas experiências (traumas e emoções negativas) interferem em nosso ritmo respiratório natural. Ao longo dos anos, a exposição ao estresse gera alterações permanentes em nosso padrão respiratório, contribuindo para nos afastar do padrão natural, a ponto de um ser humano adulto utilizar, em média, menos de 50% de sua plena capacidade pulmonar. Uma vez que a respiração está diretamente ligada aos estados mentais e emocionais, além de contribuir significativamente para a eliminação de toxinas orgânicas, seu mau aproveitamento reduz em muito nossa capacidade de processar subprodutos físicos e emocionais indesejados. Ao resgatar a importância da respiração como ferramenta de manutenção da saúde e redução do estresse, ganhamos vitalidade, alegria e qualidade de vida.
O estresse é o grande mal da sociedade moderna?
Ravi Shankar - O estresse é a raiz da violência e da intolerância. O ser humano é naturalmente amoroso e compassivo, mas sua verdadeira natureza está encoberta por camadas e camadas de estresse, sobrepostas ao longo da vida. Através da meditação e da respiração podemos voltar ao nosso estado natural. Todo ser humano tem direito a um corpo livre de doenças, a uma mente livre de estresse e a um sorriso inabalável no rosto.
Com o homem cada vez mais conectado em diversas mídias, com informação 24 horas por dia e aumento da carga de trabalho, o senhor acredita ser possível a realização de um mundo sem estresse?
Ravi Shankar - Em todas as épocas da História o ser humano enfrentou desafios sociais, de ordem econômica e ameaças à sobrevivência. Desafios de naturezas diferentes, mas sempre gerando o mesmo impacto: conflitos na mente, emoções negativas, traumas, estresse e violência. O estresse é inerente à natureza humana, estamos todos expostos às solicitações da vida. A questão é como lidar com isso, como entender a natureza da mente, como lidar com nosso lixo emocional. A grande maioria das pessoas não aprende a lidar com as suas próprias emoções negativas, então crescemos sem conhecimentos básicos de como eliminar o estresse de nosso sistema. Mas é possível que haja uma sociedade saudável, na qual as pessoas assumam responsabilidade pelas suas próprias ações e emoções. A transformação é individual, mas todos podem assumir responsabilidade por si próprio e por aqueles à sua volta.
De acordo com a técnica Sudarshan Kriya, para cada sentimento ou emoção, há um ritmo respiratório correspondente. Como devemos praticá-lo de forma a eliminar ou diminuir o estresse?
Ravi Shankar - A técnica é muito simples, eficaz e pode ser aprendida em qualquer programa básico da Fundação Arte de Viver ao redor do mundo.
De que forma a Sudarshan Kriya é capaz de atuar diretamente na saúde, reduzindo o cortisol, o colesterol e melhorando o sistema imunológico, o sono e aumentando a concentração?
Ravi Shankar - Nossa experiência mostra que os efeitos físicos e emocionais podem ser percebidos muito rapidamente. Sugerimos que as pessoas sigam normal e responsavelmente seus procedimentos médicos e observem, junto com seus médicos e terapeutas, os efeitos fisiológicos e emocionais da prática diária. Pessoas com questões associadas ao sono e à depressão relatam, muito frequentemente, alterações positivas de padrão antes mesmo do término do curso. Estudos médicos mostram que o Sudarshan Kriya atua na eliminação de toxinas físicas, aquelas resultantes de estados emocionais alterados e que acarretam no aumento do processo de oxidação, envelhecimento precoce e morte ou esclerose celular, contribuindo para o restabelecimento da saúde geral.
O que o senhor espera desta sua sétima visita ao Brasil?
Ravi Shankar - Eu me sinto em casa no Brasil, somos todos parte de uma grande família global, nossos caminhos estão irremediavelmente entrelaçados. Espero que minha passagem pelo Brasil contribua para inspirar mais e mais pessoas a tomarem responsabilidade pelas suas próprias vidas e pela sociedade onde vivem. Mentes e corações livres de estresse podem manifestar seu máximo potencial e ainda contribuir para a construção de uma sociedade mais justa em todos os aspectos.
Há alguma característica dos brasileiros que chame mais a sua atenção?
Ravi Shankar - O brasileiro é um povo alegre que manifesta sua espiritualidade e amor de forma muito espontânea e natural, assim como os indianos. Culturas diferentes, mas muitas semelhanças!
Nesta visita o senhor dará cursos em São Paulo e no Rio de Janeiro, duas cidades com populações e características diferentes. Há diferença entre as duas no que diz respeito ao nível de estresse?
Ravi Shankar - O estresse é uma questão global. Não respeita fronteiras, não distingue pessoas por etnia, crença, regime político ou classe social. Precisamos estender nossa mão à pessoa ao lado e trabalhar ativamente para que todos tenham acesso ao conhecimento. Ao limpar as camadas de estresse que se acumulam ao longo da vida, cada pessoa pode manisfestar seu potencial, permitindo que sua verdadeira natureza de amor, tolerância, compaixão, solidariedade e habilidades venha à tona.