Estoques vão a quatro meses na distribuição

Publicado em
25 de Novembro de 2010
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O pesadelo das importações continua a rondar as siderúrgicas e os distribuidores de aço no Brasil. A entrada de material estrangeiro, que bateu novo recorde em outubro, está abarrotando os estoques das empresas que atuam no mercado de produtos planos. A estimativa é que 33% desse tipo de aço consumido no mês passado em todo o país veio de fora. Até o ano passado, a presença de aço estrangeiro no consumo doméstico variava de 3% a 8%, mas a avaliação é que a indústria siderúrgica do país terá de conviver com taxas entre 10% a 15% no futuro.

Esses produtos são usados na fabricação de autopeças, tubos e máquinas até geladeiras e automóveis, além de expressiva aplicação no setor da construção civil.

Os estoques da rede de distribuição subiram às nuvens em outubro - 1,3 milhão de toneladas. É um volume recorde no setor e representa 4,1 meses de vendas das empresas distribuidoras. "Trata-se do maior índice deste ano", afirmou Carlos Loureiro, presidente do Inda, cujos dados foram compilados em reunião dos associados da entidade realizada na noite de segunda-feira. O canal da distribuição é responsável por cerca de um terço das vendas de aço plano no país e é considerado um importante termômetro do mercado de aço no país, pois atinge desde grandes consumidores até o consumo formiguinha em milhares de lojas no país.

Usiminas, CSN e ArcelorMittal são as três grandes produtoras de aço plano no Brasil e são as principais abastecedoras da rede. O grupo Gerdau também está entrando na produção de chapas e tem uma das maiores distribuidoras, a Gerdau Comercial. CSN e Usiminas, nos planos, e Gerdau, nos longos comuns, mostraram queda de vendas no mercado nacional no terceiro trimestre, conforme balanços divulgados.

"Nosso índice de referência são estoques suficientes para 2,5 a 2,6 meses de vendas", destacou Loureiro, que vislumbra ligeira melhoria neste mês e em dezembro e algo mais consistente somente quando as importações de aço plano caírem ao nível de 150 mil toneladas mensais. Ou seja, um terço do volume desse tipo de aço que entrou no mês passado. Para novembro, a previsão é que ainda entrem 250 mil toneladas.

Segundo o executivo, que já presidiu a antiga Rio Negro, uma das maiores distribuidoras do país e há mais de um ano incorporada à Usiminas, do total comprado pela rede em outubro - 394 mil toneladas -, cerca de dois quintos foram de aço estrangeiro encomendado por associadas da entidade. As vendas no mês alcançaram 319 mil toneladas - 75 mil a menos do que total adquirido, o que ajudou muito a inflar o nível de estoques (ver quadro ao lado).

O que ocorre na distribuição é um retrato do cenário crítico do setor, que vê uma onda recorde de consumo no país, mas não está se aproveitando dessa bonança. "No ano, até outubro, o importado ficou com fatia de 23% de toda a demanda de aço plano no país".

O consumo aparente total de todos os tipos de aço (planos, longos, inox e especiais) no país deve atingir 26,5 milhões de toneladas este ano. As importações, que até outubro foram de 5 milhões, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), podem beirar 6 milhões de toneladas. Algo nunca imaginado.

Para Loureiro, a partir de agosto houve um estancamento de novos pedidos, pois as siderúrgicas locais baixaram significativamente seus prêmios - praticava-se até 50% no início do ano. Essa festa acabou cedo, com forte contribuição do câmbio (dólar desvalorizado), estímulos fiscais em portos de vários Estados, excesso de oferta no mundo e preços mais atraentes em vários produtores estrangeiros.

"Atualmente, há casos de preço de venda similar ao do importado internado com todas as taxas", informa. Em outros casos, conforme conferência da diretoria da Usiminas com analistas, variam de 10 a 15%. "Muitos importadores estão amargando perdas, pois o cancelamento da encomenda significava perder adiantamento de 20% da fatura", diz o dirigente do Inda. O problema é que as tradings acabam desovando esse material aqui de qualquer jeito, observa ele.

Diante desse cenário, a rede prevê venda inferior ao que traçou no início do ano. "No terceiro trimestre vendemos menos que no segundo e o quarto deve ficar igual. Vemos dificuldades para crescer 15%", diz Loureiro. No ano, pode atingir 3,8 milhões de toneladas, 10% menos que o previsto.

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