Estado debate volta de transporte de contêineres pelos rios e lagoas

Publicado em
03 de Novembro de 2014
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Se o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” estiver correto, o retorno da atividade de um terminal de contêineres na hidrovia interior gaúcha está prestes a acontecer. O serviço deixou de existir na região desde que a Braskem resolveu adaptar, em 2009, o terminal Santa Clara, situado em Triunfo, para receber etanol destinado à fabricação do chamado “plástico verde”.

Terminal de Santa Clara é o porto que reúne as melhores condições de retomar a movimentação de carga
Terminal de Santa Clara é o porto que reúne as melhores condições de retomar a movimentação de carga

Se o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura” estiver correto, o retorno da atividade de um terminal de contêineres na hidrovia interior gaúcha está prestes a acontecer. O serviço deixou de existir na região desde que a Braskem resolveu adaptar, em 2009, o terminal Santa Clara, situado em Triunfo, para receber etanol destinado à fabricação do chamado “plástico verde”.

Hoje, três empresas estão diretamente envolvidas na discussão para retomar o transporte de contêineres pela hidrovia: a própria Braskem, a Navegação Guarita e a Wilson, Sons (empresa controladora do Tecon Rio Grande). O município de Triunfo é o que surge com maior potencial para o funcionamento de um novo terminal de contêineres, até porque possui uma estrutura já implementada. No entanto, nomes de cidades como a de Estrela já foram citados também.

Independentemente do local em que será construído, o principal motivador de um investimento em um complexo dessa natureza é a via fluvial disponível. “Nós temos uma dádiva de Deus que é a Lagoa dos Patos, a Bacia do Sudeste como um todo, então deveria haver grandes investimentos do Estado para que isso fosse muito bem-aproveitado”, defende o diretor-presidente do Tecon Rio Grande, Paulo Bertinetti.

O executivo é tão otimista sobre o assunto que acredita que um terminal em Triunfo e outro em Estrela atenderiam a mercados complementares. Há cargas localizadas próximas a Estrela que poderiam ser movimentadas por contêineres, como é o caso do tabaco, enquanto Triunfo poderia atrair demandas de calçados, petroquímicos e do segmento metalmecânico. Porém, o diretor do Tecon Rio Grande argumenta que, no caso de Estrela, seria necessário construir mais uma eclusa na hidrovia para garantir o calado.

O dirigente admite que, para operar com contêineres, é necessário área, calado e equipamentos. “Esse é um investimento que não é barato e, consequentemente, o retorno disso ocorre com muitos investidores”, sustenta o executivo. Segundo Bertinetti, não é possível precisar valores quanto à implantação de um novo terminal, pois são muitas as variáveis envolvidas.

Se o complexo for instalado em um porto já em atividade, os custos serão menores. Agora, se o projeto for para um local inexplorado, os recursos necessários aumentariam consideravelmente com a dragagem e a construção de um cais.

Outra questão, levantada por Bertinetti, é que no Rio Grande do Sul existe uma enorme pulverização no transporte rodoviário, com várias empresas que prestam esse serviço, tornando o caminhão muito competitivo. “Então, o terminal precisa estar mais próximo da carga”, argumenta. Dentro desse cenário, apesar do diretor do Tecon levantar a possibilidade de haver dois terminais de contêineres na hidrovia interior, crescem as vantagens de instalar uma estrutura como essa em Triunfo.

Atestando isso, Bertinetti revela que está em fase de negociação entre Braskem, Navegação Guarita e Wilson, Sons a retomada do terminal Santa Clara. O executivo acrescenta que podem ser atraídas para esse terminal cargas de empresas como Masisa, John Deere, Braskem, Innova, entre outras. “Tem demanda, claro que tem”, sustenta Bertinetti.

Em 2008, última vez que houve o transporte de contêineres durante um ano inteiro, o terminal Santa Clara, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), movimentou 18.490 TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). No ano anterior, o desempenho foi de 15.450 TEUs, e em 2006, registrou 20.427 TEUs.

Tecon pretende qualificar a estrutura para receber barcaças

Não é somente a implantação de um terminal de contêineres na hidrovia interior que deve ajudar a volta desse tipo de transporte. Durante a adequação dos berços do Tecon Rio Grande para receber navios de maior porte, uma área com cerca de 200 metros será destinada a cais internos para a operação de barcaças, que poderão transportar contêineres através da hidrovia. O diretor-presidente da companhia, Paulo Bertinetti, adianta que a ação deverá ser concluída no final de 2016 ou no começo de 2017.

O executivo ressalta que as barcaças já poderiam operar hoje no Tecon, através de janelas de atracação. Na operação, o contêiner chegaria a Rio Grande e seria deslocado para um navio adaptado ao deslocamento no oceano, para alcançar os destinos mais distantes. Na importação, o processo seria o inverso. “A barcaça faria o papel do caminhão”, compara Bertinetti. Problemas de calado e a necessidade de embarcações especiais dificultariam a realização da cabotagem direta, sem a necessidade de fazer transbordo.

O diretor-presidente da Navegação Taquara (empresa que mantém uma parceria com a Guarita), Frank Woodhead, concorda que a instalação de um terminal de barcaças ao lado do Tecon Rio Grande será um mecanismo capaz de incentivar a retomada do transporte de contêineres na hidrovia. “Não se pode ficar esperando com o contêiner, é preciso aprimorar o ritmo de carregamento e descarregamento”, salienta o empresário, que também é coordenador da comissão de infraestrutura do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs).

O diretor executivo da Navegação Guarita, Werner Barreiro, é outro que pensa que a Região Metropolitana tem espaço para um terminal de contêineres, contribuindo para o uso da hidrovia até a Metade Sul gaúcha. Ele estima que cerca de 4 mil caminhões circulem da Região Metropolitana de Porto Alegre para o porto do Rio Grande todo dia. “Utilizando embarcações que fizessem uma mínima parte disso, já aliviaria as estradas”, enfatiza.

Barreiro recorda que a Navegação Guarita operou no terminal Santa Clara durante nove anos, transportando cargas da região de Santa Cruz do Sul e produtos como frango, couro e alguns petroquímicos do polo de Triunfo. “É um ponto estratégico importante”, considera o diretor. No entanto, ele acrescenta que não há problema em avaliar algum outro lugar de embarque para a implementação de um terminal.

Barreiro admite que a volta da operação com contêineres é discutida permanentemente pela Navegação Guarita, Braskem e Wilson, Sons. Porém, salienta que, para o empreendimento seguir em frente, é preciso vislumbrar um resultado final positivo para as três companhias. Barreiro argumenta que a Região Metropolitana sai na frente na disputa por um terminal, com melhores condições do que outros locais, como Estrela, por exemplo. Os empresários do setor também lembram que as condições da hidrovia até Estrela não são as melhores, necessitando de investimentos em dragagem e em sinalização.

Nesse momento, informa o executivo, a Guarita teria possibilidade de destinar para essa atividade três embarcações, cada uma com capacidade para transportar em torno de 80 contêineres de 40 pés. Uma viagem de ida e volta de um navio desses, entre a Região Metropolitana e Rio Grande, levaria aproximadamente três dias, dependendo da agilidade dos terminais de carga e descarga. Barreiro estima que, a partir do “sinal verde” para as obras, é possível iniciar a operação com um terminal de contêineres em menos de um ano.

Ociosidade no transporte de etanol facilita o retorno dos contêineres

Ironicamente, o envio e recebimento de contêineres entre o píer IV do terminal Santa Clara e o Tecon Rio Grande foi encerrado em 2 de fevereiro (dia de Nossa Senhora dos Navegantes) de 2009. A Braskem investiu cerca de R$ 20 milhões em modificações no píer IV com objetivo de viabilizar a logística de recebimento de etanol. Porém, o diretor-presidente da Navegação Taquara, Frank Woodhead, informa que não está vindo álcool pela hidrovia até Triunfo, fato que contribui para a recuperação da atividade com contêineres.

O terminal Santa Clara possui quatro píeres, dois destinados a produtos líquidos e gasosos, um para carvão e o quarto que seria voltado ao recebimento do etanol. Apesar desse propósito, o coordenador de logística da Braskem, João Batista Dias, confirma que o píer IV encontra-se ocioso. A maior parte do álcool que vem de São Paulo para atender à demanda da Braskem chega hoje ao polo petroquímico através do modal ferroviário. Dias explica que o custo para trazer o produto pela hidrovia demonstrou-se muito elevado. O dirigente concorda que o cenário atual facilita a volta da operação com os contêineres.

O coordenador de logística, que presenciou os últimos momentos desse tipo de transporte no terminal Santa Clara, recorda que a atividade não gerava um lucro expressivo, contudo era uma operação segura. A movimentação incluía cargas como móveis, calçados, fumo, frango, entre outras. O dirigente estima que essas cargas poderão ser reabsorvidas com a retomada do terminal de contêineres, e inclusive a própria Braskem poderá movimentar algum volume de resinas.

Dias reforça que estão sendo feitas negociações para a retomada do terminal de contêineres, mas a finalização de um eventual acordo ainda depende de acertos contratuais. Conforme o integrante do grupo petroquímico, não seria necessário um investimento muito elevado para recuperar a operação. “O melhor local no Estado para fazer a movimentação de contêineres no Rio Grande do Sul seria no terminal Santa Clara”, defende.

SPH defende condições da Capital para receber o empreendimento

Bonete sugere a instalação no Cais Marcílio Dias, na Capital. MARCELO G. RIBEIRO/JC

Mais um agente do setor hidroviário que apoia a ideia da instalação de um terminal de contêineres na Região Metropolitana é o superintendente da Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH), Arlindo Bonete. O dirigente salienta que, para realizar esse tipo de atividade, basta ter área disponível, com condições de trafegabilidade. Bonete afirma que há espaço no porto da Capital para um complexo como esse e cita o Cais Marcílio Dias como uma das opções.

Recentemente, a SPH destinou à MB Serviços de Manutenção e Reparos Industriais (MBS) o terreno que antes estava previsto para a operação de contêineres em Porto Alegre. A empresa pretende instalar ali uma planta de construção naval. Contudo, o diretor de portos da autarquia, Paulo Astrana, enfatiza que há outros espaços para a movimentação de contêineres e acrescenta que a superintendência foi procurada por uma companhia interessada em utilizar o porto para isso e está aguardando o retorno das conversas. O diretor prefere não revelar o nome do grupo envolvido nas negociações.

Apesar da defesa de Astrana e de Bonete, no passado foi realizado um protocolo de intenções com o governo do Estado, na época da gestão de Yeda Crusius, envolvendo Guarita, Doux e Tecon Rio Grande para implantar o transporte de contêineres por hidrovia entre Porto Alegre e Rio Grande.

O diretor-presidente do Tecon Rio Grande, Paulo Bertinetti, diz que a iniciativa não deu certo justamente porque o terminal seria implementado no porto da Capital, o que implicaria custos elevados com mão de obra e frete rodoviário. O dirigente explica que seria difícil o acesso dos caminhões ao complexo na Capital.

Segundo o diretor-presidente da Navegação Taquara, Frank Woodhead, existem oportunidades para operar um terminal de contêineres na Região Metropolitana, principalmente se for levado em conta o complexo Santa Clara, em Triunfo. “Lá é o local, não é Porto Alegre”, indica. O empresário calcula que seja possível movimentar por ali algo entre 20 mil e 30 mil contêineres por ano.

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