“O segredo de uma logística eficiente é a utilização apropriada de todos os modais”, aponta Julian Thomas
O modal aquaviário tem um papel preeminente na cadeia de logística, sobretudo em um país como o Brasil, com mais de 7.400 km de litoral e 80% da população vivendo a 200 km da costa. A constatação foi feita por Julian Thomas, diretor-superintendente da Hamburg Süd no Brasil, empresa alemã do setor de transporte marítimo, e um dos maiores especialistas das áreas de comércio exterior, logística e transportes. "O serviço (de navegação de cabotagem) desempenha um papel crucial no desenvolvimento da multimodalidade e, por sua vez, é imperativo para a competitividade do País", afirmou.
Em artigo publicado no BrasilAlemanha News, plataforma de informações das Câmaras de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, no dia 4 de julho, Thomas chama atenção para o fato de que é importante desmistificar a imagem de que a cabotagem (a navegação entre portos de um mesmo país) é mais cara e inacessível para empresas de pequeno e médio porte – percepção que, às vezes, pode ser reforçada pelos problemas logísticos portuários atuais. Ele acredita que é fundamental romper com as barreiras "mentais" e "culturais", que levam a pensar que o serviço rodoviário é mais prático do que os demais.
O especialista aponta que, entre outras vantagens da cabotagem, pode-se destacar a rastreabilidade em qualquer ponto, a integração dos modais para otimização da cadeia logística e o menor índice de avarias. "O segredo de uma logística eficiente é a utilização apropriada de todos os modais, cada um desempenhando o seu importante papel na cadeia. O que não devemos é incorrer novamente no erro de priorizar apenas um deles", diz.
Pesquisa CNT do Transporte Aquaviário – Cabotagem
Em 2013, a CNT (Confederação Nacional do Transporte) fez uma pesquisa detalhada do setor de cabotagem com a identificação das principais características e números desse tipo de navegação, além de uma análise qualitativa realizada por meio de entrevistas com 92 clientes que utilizam regularmente a cabotagem no Brasil. O estudo apresentou os principais entraves existentes para o desenvolvimento da atividade e propôs soluções.
Para 79,3% dos entrevistados, a infraestrutura portuária deficiente foi considerada um problema muito grave que impede o desenvolvimento da atividade. Na sequência, apareceram a deficiência dos acessos terrestres aos portos e a ausência de manutenção dos canais de acesso e dos berços (63%). As tarifas elevadas também foram consideradas um problema muito grave por 56,5% dos clientes, assim como a baixa oferta de navios (55,4%), o excesso de burocracia (53,3%) e a carência de linhas regulares (52,2%).
Porém, mesmo diante desse cenário, a navegação de cabotagem apresentou crescimento nos anos anteriores. Entre 2006 e 2012, a alta foi de 22,9%. Sendo que um ano antes da pesquisa, foram movimentadas 201 milhões de toneladas por toda a costa brasileira, volume 3,9% superior a 2011. Entre os principais produtos transportados destacaram-se os combustíveis e os óleos minerais, com 77,2% de participação, a bauxita, com 10,1% e os contêineres, com 5,1%.
O estudo apresentou ainda as vantagens oferecidas pela cabotagem quando comparada aos demais modos de transporte. Destacaram-se o aumento da eficiência energética, a elevada capacidade de transporte, a segurança da carga, e os reduzidos números de acidentes, nível de avarias, custo operacional e impacto ambiental.
A íntegra da pesquisa e um resumo com os principais dados podem ser acessados aqui.
CNT na Alemanha
A CNT vê grande potencial de negócios na aproximação entre os mercados do Brasil e da Alemanha, e reforçar a cooperação econômica entre os dois países no setor de transportes é uma das estratégias de atuação da Confederação. Por isso, a entidade anunciou a abertura do seu segundo escritório internacional em Berlim.
"Considerando que a Alemanha é o quarto maior parceiro comercial e um dos países que mais investe no Brasil, teremos a oportunidade de estreitar ainda mais os laços de amizade e cooperação entre empresas de ambos os países em um setor prioritário para a redução do custo Brasil", explica Harley Andrade, Diretor Internacional da CNT.
E uma das primeiras atuações previstas será a participação da entidade na comitiva brasileira de empresas e executivos que estarão na Innotrans, maior e mais concorrida feira ferroviária do mundo, em busca de estreitamento e cooperação com grupos estrangeiros. O evento acontecerá entre os dias 20 e 23 de setembro, em Berlim.