O novo coronavírus trouxe desafios extras para os gestores da cadeia de suprimentos, que deverão assimilar os novos padrões de consumo provocados pela pandemia
Artigo escrito por Antonio Brito*
Chegamos em maio e o surto do novo coronavírus continua provocando forte abalo na economia global. A pandemia trouxe a paralisação das principais atividades econômicas no mundo todo, com impacto significativo nas cadeias globais de suprimentos e no comércio em geral. A crise provocada pela Covid-19 praticamente inutilizou todos os modelos de previsão de demanda, de planejamento do supply chain, de uso de mão de obra e de projeção de caixa. Muitos negócios lutam para sobreviver em um novo ambiente.
E neste novo cenário, é importante entender que o consumo teve uma mudança drástica de patamar. Estamos consumindo mais produtos in natura ou para preparar em casa, comprados em supermercados ou em hortifrútis. As medidas de isolamento social, como alternativa para contenção do vírus, restringiram as idas aos restaurantes, que passaram a atuar no formato delivery. No caso do canal HORECA (Hotéis, Restaurantes e Cafés), houve uma queda brusca nas vendas e foi transformado em uma única entrega nos CDs dos grandes supermercados e redes de varejo.
Mudanças de hábitos de consumo
Esse novo ambiente faz parte de um quadro de mudanças forçadas nos hábitos de consumo representado no estudo feito pela HSR Researchers. Segundo o relatório, 23,4% da população brasileira já fez compras abastecedoras para estoque de produtos. Além disso, dos 76,6% que ainda não fizeram, 28% têm intenção de adotar essa medida. E para 24% dos entrevistados, o produto mais procurado para estocagem foi o álcool gel.
Estamos atravessando uma crise e, por esse motivo, não será possível fazer projeções de consumo baseado no histórico de compras. A pandemia trouxe para a realidade das empresas um conflito entre o que as pessoas precisam versus o que existia nos estoques.
Falando em estoques, outro recurso estressado com a crise do Covid-19 é a capacidade de armazenamento e as práticas de gestão de armazéns. A alta demanda de alguns produtos exige adoção do cross-docking, conceito de operação logística que acelera o fluxo de mercadorias, reduz os custos por condensar cargas e, principalmente, dispensa armazenagem.
Um dos mercados mais afetados pela falta de capacidade de armazenamento é o petroleiro. O setor finalizou o mês de março com redução de 30% no preço do barril de petróleo e estimativa é fechar o ano de 2020 com um crescimento tímido de 2,4%, de acordo com dados da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep). Houve uma redução brutal no consumo de derivados de petróleo no mundo todo e toda a produção foi transferida para os navios-tanque, que não conseguem descarregar.
Resposta do Supply Chain
Aplicar os modelos de projeção de demanda antigos pode resultar nos conhecidíssimos problemas de projeção: mudanças inesperadas do perfil de consumo, ainda que em pequena escala, fazem com que crie um “efeito chicote” na curva de demanda, ou seja, um excesso de pedidos, desproporcional e que leva a faltas ou sobras excessivas de produtos na cadeia de suprimentos.
É preciso ajustar os modelos e a melhor alternativa agora é fazer uso de uma ferramenta de planejamento de demanda mais flexível e que seja altamente adaptável às mudanças de comportamento. As soluções de software de gestão do supply chain oferecem vários modelos de projeção e alertam sobre mudanças de cenário de forma ágil. A equipe da cadeia de suprimentos pausa as atividades corriqueiras e começa a pensar nos cenários futuros, como identificar o posicionamento dos seus concorrentes e basilar seu modelo de demanda.
Planejamento avançado é outra solução para entender os cenários atuais e assim realizar ajustes no sistema. Ela fornece visibilidade sobre todas as limitações da sua linha produção, permitindo que você produza dentro do seu enquadramento. Além disso, a solução também oferece um mapeamento do produto mais lucrativo e se este está em falta no estoque. Ela permite às empresas ter lucro no curto prazo porque fornece o comportamento de consumo naquele exato momento.
Toda crise tem seu fim!
Em resposta ao Covid-19, as empresas estão assimilando as lições deixadas pela pandemia para desenvolver seus planos de contingenciamento – com adoção de medidas de prevenção, além de repensar seus planos de negócio para se adequarem rapidamente ao atual cenário e se prepararem para o futuro. Momentos de crise são feitos para se repensar suas estratégias, avaliar a sua jornada até o momento e buscar novas maneiras para atingir o crescimento. Esse é o momento para refletir e enxergar novas oportunidades de negócios.
* Antonio Brito é Sr Principal, Digital & Value Engineering, Infor LATAM