Empresas depõem sobre subutilização de hidrovias

Publicado em
09 de Novembro de 2012
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A Braskem poderia movimentar um milhão de toneladas ao ano pela hidrovia que liga a indústria no Polo Petroquímico ao porto de Rio Grande, mas pelo assoreamento e a falta de sinalização, consegue transportar apenas 600 mil toneladas. O cenário da subutilização do modal hidroviário no Estado foi traçado nesta quinta-feira pelo coordenador de logística da empresa, João Batista de Souza, que participou de uma audiência pública na Assembleia Legislativa.

Segundo ele, a hidrovia é essencial, e sem ela o Polo Petroquímico pararia, pois é por água que todo o excedente é escoado e por onde ingressam as matérias-primas. “Hoje, com todos os gargalos que o modal apresenta, enfrentamos um custo de US$ 30,00 por tonelada transportada de barco, enquanto o transporte rodoviário custa US$ 40,00 por tonelada, considerando os custos de carga, descarga e do caminhão”, informa. O executivo lembra ainda que se a hidrovia suportasse navios maiores (fosse dragada continuamente para manter o calado) e tivesse sinalização para permitir navegação noturna, seria possível ampliar essa vantagem.

Souza foi um dos convidados pela Comissão de Segurança e Serviços Públicos da Assembleia a participar da audiência pública proposta pelo deputado Frederico Antunes. Quando o parlamentar questionou se a Braskem já havia tentado se articular com as demais empresas usuárias da hidrovia do rio Gravataí para viabilizar uma parceria público-privada, o executivo disse que nunca a empresa consegue ir além da fase de exposição das suas dificuldades. “Não se chega a nada concreto. Imagino que a Refap, a Petrobras e a Yara devam ter os mesmos problemas (negociações com o governo)”,
concluiu.

Em outro depoimento, o gerente de planejamento da rede logística da Petrobras, Eric Marcos Futino, contou que a empresa transporta gás de cozinha do porto de Rio Grande para a unidade em Canoas em navios de 4 mil toneladas de capacidade. Mas as embarcações precisam ser carregadas com apenas a metade para que não encalhem. “A hidrovia tem uma ineficiência por questão de dragagem”, alertou. Ela projetou a internalização de diesel com baixo teor de enxofre por navios até que a unidade gaúcha de produção fique pronta, o que deve acontecer em 2014.

Para o professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Ufrgs, Francisco Bragança, a hidrovia é um sistema integrado e suas falhas atuais são reflexos da “falência do setor público”. Ele argumenta que a dragagem, que tira material do leito do rio ou da laguna, encontra material contaminado. “É inadmissível que um município que recebe royalties não tenha uma estação de tratamento e jogue esgoto in natura no rio. Também temos que olhar a questão da retirada de água para a irrigação de lavouras. Não basta só dragar e sinalizar, temos que parar de poluir e de tirar tanta água”, argumentou.

Bragança lembrou que o rio Gravataí é o segundo mais poluído do Brasil, atrás apenas do rio Tietê no trecho que corta a região metropolitana de São Paulo. O professor afirmou, ainda, que não é preciso fazer nenhum novo estudo para criar um Plano Diretor Hidroviário.

Segundo ele, existe um pronto “e muito avançado” na biblioteca da Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH), e muitos dos investimentos nele previstos, como a criação de barragens ao longo do rio Jacuí, já foram feitos.

A representante da Agência Gaúcha de Desenvolvimento Industrial, Ana Ortiz, assegurou que o Estado irá investir R$ 120 milhões em distritos industriais às margens de hidrovias e irá ampliar as estruturas de escoamento em Pelotas, Cachoeira do Sul, Lajeado e Triunfo.

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