Empresa gasta 11% da receita com logística

Publicado em
29 de Setembro de 2014
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Forte dependência do transporte rodoviário é um dos principais fatores para o alto custo no Brasil, que supera o de países como China e EUA

Se da porta da fábrica para dentro a competitividade das empresas é comprometida por uma pesada carga tributária e pela elevada burocracia, da porta para fora são as deficiências na infraestrutura que atormentam o dia a dia do setor produtivo. Hoje, os gastos com logística absorvem, em média, 11% do faturamento das empresas, acima da média de concorrentes como EUA (8,5%) e China (10%).

Em algumas áreas, o peso da logística é ainda mais perverso à competitividade das empresas. No setor de papel e celulose, o custo corrói 28,33% da receita bruta; na indústria da construção, 21,33%; e na mineração, 16%, segundo pesquisa da Fundação Dom Cabral, com 111 empresas, responsáveis por 17% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Na média, a participação dos custos nas contas das empresas já foi maior. Em 2012, na última pesquisa da fundação, estava em 13%. Mas a melhora do indicador está mais associada à desaceleração da economia nacional, que reduziu a pressão sobre a oferta de serviços, do que aos avanços - ainda tímidos - da infraestrutura, explica o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, um dos autores da trabalho.

Exemplo disso é que no último ranking de competitividade divulgado pelo International Institute for Management Development (IMD), em parceria com a fundação, a infraestrutura básica do Brasil caiu três posições e ficou na antepenúltima posição entre 60 nações. Esse item inclui a qualidade de estradas, portos, aeroportos e energia. Um dos fatores que explicam o custo logístico brasileiro é a alta dependência do transporte rodoviário.

Entre as empresas pesquisadas pela Dom Cabral, 82% usam, predominantemente, as rodovias para transportar suas mercadorias. "Por isso, a maioria elegeu a recuperação das condições das estradas como uma prioridade para reduzir o custo logístico", diz Resende.

Da mesma forma, elas reivindicam agilidade na expansão da malha ferroviária, usada por apenas 14% delas. O transporte sobre trilhos recebeu a pior nota entre as demais modalidades. Quase 92% das empresas consideram o transporte muito ruim ou ruim. Hoje uma das maiores deficiências da malha ferroviária é a falta de capacidade para atender novos clientes. Os projetos em construção andam a passos lentos, a exemplo da Ferrovia Norte Sul e Transnordestina.

"A maior parte da soja, por exemplo, é transportada em caminhões até os portos, que ainda não atingiram um nível ideal de eficiência. As hidrovias, amplamente usadas nos Estados Unidos, tem pouca participação na matriz. Tudo isso encarece o custo logístico e acrescenta um componente a mais nos produtos exportados", afirma o diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz. Hoje o custo logístico do agronegócio está em 12%.

O secretário do Ministério da Agricultura, Carlos Alberto Nunes, acredita que com o desenvolvimento da nova rota de transporte de grãos via Miritituba, no Pará, os custos logísticos vão diminuir. Nesse corredor, boa parte do trajeto é feito por hidrovia. Inicialmente, diz o secretário, haverá uma redução de US$ 50 por tonelada. Para se ter ideia, o transporte entre Sorriso (MT) e Santos (SP) está em US$ 150. Ou seja, o preço do frete vai cair em um terço. "Com o aumento da concorrência, o potencial de queda tende a crescer."

O setor produtivo, no entanto, acredita que será preciso muito mais para que haja uma queda generalizada para outros setores além do agronegócio. Na Zona Franca de Manaus, por exemplo, uma reivindicação é um terceiro porto para ampliar a velocidade de carga e descarga dos navios, que hoje é limitada. Parte dos produtos fabricados em Manaus é transportada para o Sudeste por navios ou avião. Outra parte é escoada por hidrovia até Belém ou Porto Velho e dali seguem de caminhão até o destino. "No final, o custo logístico varia entre 8% e 15% do custo do produto", diz o presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Perico.

Investimento. Pela pesquisa da Dom Cabral, uma das soluções para reduzir os gastos é aumentar os investimentos no setor, transferindo os projetos à iniciativa privada. Segundo o professor de política econômica internacional Carlos Braga, do IMD, nos últimos 12 anos, com a melhora do consumo doméstico e o avanço na distribuição de renda, a falta de investimentos ficou mais evidente e criou uma série de gargalos. O volume de dinheiro injetado no setor foi, em média, de 2% do PIB, sendo que as estimativas sugerem o dobro desse montante.

Terceirização tem sido uma saída para reduzir custos

A logística virou um departamento estratégico dentro das empresas. Com as deficiências da infraestrutura brasileira, os profissionais dessa área passaram a ter a missão de criar alternativas, simples ou sofisticadas, para amenizar o impacto do custo logístico no caixa das companhias.

No setor de papel e celulose, cujo gasto médio chegou a 28% das receitas, cada operação é estudada com detalhes e os produtos, customizados de acordo com as peculiaridades do setor. O diretor de Suprimentos e Logística da Fibria, Wellington Giacomin, conta que há alguns anos a empresa, que também investiu em um porto, decidiu fechar parceria para a construção de cinco navios desenhados exclusivamente para a exportação de celulose. A medida melhorou a velocidade de embarque e desembarque das cargas, que era um dos principais gargalos.

Mas, antes de chegar ao porto, a Fibria apostou em outras soluções para diminuir os custos de transporte da madeira da floresta para a fábrica. Como as plantações são distantes, dois produtos foram criados para dar mais agilidade ao transporte rodoviário e de navegação. Além de barcaças especiais, que carregam a mesma quantidade que 100 caminhões juntos, a empresa desenvolveu um projeto com a Universidade Federal de São Carlos de uma carroceria específica para o setor.

"Reduzimos o peso da carroceria e conseguimos transportar 10% mais madeira num único caminhão. Com isso, reduzimos entre 8% e 12% o custo", afirma Giacomin. Segundo ele, a logística se tornou tão essencial para a empresa como o desenvolvimento da própria fábrica. "Se não trabalharmos bem essa área, perdemos competitividade e ficamos fora do mercado."

Parte dos serviços logísticos da Fibria é terceirizada, uma tendência forte no setor produtivo. Segundo a pesquisa da Fundação Dom Cabral, 70% das empresas veem a terceirização da frota e serviços logísticos como uma das principais medidas para redução do custo de movimentação de carga. A demanda pelos serviços da JSL, empresa de transporte e logística, é um retrato dessa busca. Nos últimos 13 anos, a companhia cresceu a um ritmo de 26% ao ano.

"Quem terceiriza os serviços logísticos tem dois objetivos: reduzir custos ou ampliar a qualidade dos serviços", afirma o diretor executivo da JSL, Adriano Thiele. Segundo ele, o grande benefício das empresas nesse processo é que elas passam a focar as energias na sua atividade fim e deixam a logística com uma empresa especializada no assunto. "Numa compra de pneus, por exemplo, temos mais poder de barganha, já que temos uma frota maior."

Hoje, a JSL atende a 16 setores da economia e fatura R$ 5,2 bilhões. Para cada cliente, a empresa cria uma solução específica. No setor automobilístico, além de abastecer a linha de produção, ela já começa a entregar algumas peças montadas.

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