Em Paranaguá, uma espera de US$ 137 milhões

Publicado em
14 de Junho de 2012
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O longo tempo de espera para que os navios atracassem no Porto de Paranaguá no ano passado gerou US$ 137 milhões em demurrage – multa paga pelo contratante da carga ao dono da embarcação quando a demora no porto ultrapassa o prazo acordado. Se fosse revertida para a administração portuária, a quantia seria suficiente para realizar parte das obras necessárias para modernizar e tornar mais eficiente o terminal, inclusive a instalação de cobertura no corredor de exportação. Atualmente, ao menor sinal de chuva, as operações no cais são suspensas, ocasionando aumento da fila de navios ao largo (longe do porto, à espera de liberação para chegar ao cais) e perdas de prazos de contratos.

De acordo com a Admi­nistração dos Portos de Para­naguá e Antonina (Appa), o mau tempo nos últimos 30 dias significou 12 dias, 22 horas e 45 minutos de paralisação na movimentação de grãos no corredor de exportação, suficiente para a fila de navios alcançar tamanho recorde no ano. Ontem, o site da autarquia registrava 87 navios ao largo e outros 25 esperados para as próximas 48 horas, sinal de que a demurrage deste ano deve superar o valor de 2011. “Fila é sinônimo de ineficiência. Esse tipo de multa é a pior coisa que existe, pois não gera riqueza”, afirma João Gilberto Cominese Freire, diretor do Sindicato dos Operadores Portuários do Paraná (Sindop).

Coberturas - Dependendo do tamanho da embarcação e da carga, a demurrage por dia de atraso é de US$ 30 mil. A espera média é de 40 dias – o dobro de tempo necessário para um navio atravessar o Atlântico. “Essa multa acaba sendo repassada para toda a cadeia produtiva”, ressalta Nilson Hanke Camargo, assessor técnico e econômico da Federação de Agricultura do Paraná (Faep). Ela custa caro aos exportadores de grãos e importadores de insumos (como fertilizantes), que acabam cobrando mais de outros clientes, de modo que a conta pode chegar até o consumidor final.

A Appa tem em mãos alguns projetos de cobertura para o terminal, o que reduziria as paralisações provocadas pelas condições climáticas. Mas ainda analisa a eficiência do investimento, já que, segundo a administração, não existe garantia de resultado. “Não há nenhuma cobertura funcionando no Brasil”, aponta Luiz Henrique Tessutti Dividino, superintendente da Appa.

A cobertura pode ser para o navio inteiro ou apenas para os porões que estiverem sendo carregados. A primeira opção custa US$ 60 milhões. A cobertura por porão é mais barata: a de material rígido custa US$ 6 milhões por carregador e a de lona, US$ 1 milhão. Geralmente são usados dois carregadores por navio.

Na tentativa de minimizar problema semelhante aos do terminal paranaense, o Porto de Santos investiu R$ 70 milhões na instalação do modelo fixo de cobertura metálica, que lembra a marquise de um estádio de futebol, para cobrir o berço de atracação do terminal sul. O protótipo, que ainda está em fase de testes, promete suportar chuvas com inclinação de até 41 graus.

Obras - Outras obras prometidas pela Appa e pelo governo estadual poderiam sair do papel por custo menor que o pago em demurrage no ano passado. Com o valor é possível fazer as dragagens de manutenção do berço do porto, da bacia de evolução, do Canal da Galheta e aprofundamento. O dinheiro também permitiria a construção de um novo silo com capacidade para armazenar 60 mil toneladas de grãos.

“Ninguém quer operar em um porto ruim, e Para­naguá tem um sobrepreço para trabalhar”, diz Luiz An­tonio Fayet, consul­tor logístico e conselheiro do porto. “Carga não aceita desaforo. Depois que um porto perde um grande cliente porque esse mudou a logística, não recupera mais. Paranaguá corre esse risco”, complementa Freire, do Sindop.

É bom lembrar que a demurrage não chega ao cofre da Appa. Ela é paga aos donos dos navios – que, provavelmente, prefeririam uma operação pontual, de modo que pudessem captar outros contratos. A multa é um importante sinal de ineficiência, que eleva os custos de operação em Paranaguá.

Justificativa - Segundo a Appa, série de fatores gerou fila recorde

A fila recorde de navios ao largo do Porto de Paranaguá é resultado de uma série de fatores, segundo o superintendente da Appa, Luiz Henrique Tessutti Dividino. Além do mau tempo dos últimos trinta dias que deixou o terminal paralisado mais de 12 dias, os fatores econômicos extremamente favoráveis também contribuíram o acúmulo de embarcações.

“O dólar alto e o ótimo preço das commodities geram uma corrida aos portos. Além disso, como o preço da soja e do milho é o melhor dos últimos cinco anos, os agricultores querem plantar mais na próxima safra, o que resulta no aumento da importação de fertilizantes”, explica Dividino.

Outra questão é a mobilização dos estivadores do Porto de Santos, que fez com que algumas embarcações desviassem a rota com destino a Paranaguá. Segundo o superintendente, a Appa recebeu 19 consultas nos últimos dias – dois navios seguiram para o litoral paranaense e três ainda não confirmaram a mudança de rota.

Ainda de acordo com Dividino, se o tempo permanecer bom, a promessa é de que a fila de navios seja reduzida pela metade no curto prazo. “A operação tem sido boa e estamos liberando quatro navios por dia. Se continuar assim, em dez dias estaremos com a situação regularizada”, afirma.

Melhorias - A quantia gasta com demurrage em 2011 – US$ 137 milhões – permitiria que uma série de obras de melhorias de infraestrutura fosse realizada no Porto de Paranaguá. Veja algumas delas.

• Dragagens

Dragagem de manutenção do berço: R$ 2,5 milhões.
Dragagem de manutenção da bacia de evolução e do Canal da Galheta: R$ 100 milhões.
Dragagem de aprofundamento: R$ 52 milhões.

• Armazenamento

Construção do silo com capacidade para 60 mil toneladas de grãos: R$ 20 milhões.

• Coberturas

Cobertura para o navio inteiro: US$ 60 milhões.
Cobertura para porão de material rígido: US$ 6 milhões por carregador.
Cobertura para porão de lona: US$ 1 milhões por carregador.

Multa - R$ 30 mil por dia é o valor médio da multa por demora na operação de carga e descarga – a chamada demurrage. A quantia pode ser maior ou menos dependendo da embarcação e da carga.

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