Em ano de safra recorde, exportador pode perder US$ 1 bi em logística

Publicado em
20 de Maio de 2013
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O agronegócio do Brasil exportará em 2013 volumes recordes do seu principal produto, a soja, mas o setor exportador de grãos amargará gastos extras de mais de US$ 1 bilhão, por conta dos problemas de logística e infraestrutura do país.

A avaliação é da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), que reúne as principais tradings do setor.

O cenário de gastos extras se desenha em um ano em que as exportações de soja deverão atingir uma máxima histórica de mais de 38 milhões de toneladas, aumento de quase 20% ante a temporada anterior.

Grandes volumes que poderiam representar ganhos --especialmente para um setor que lucra com a escala das movimentações-- têm significado perdas em muitos casos este ano.

Essas perdas estão ligadas às multas contratuais por atrasos nos embarques de grãos nos portos brasileiros e também custos maiores que os estimados no transporte rodoviário.

"É o pior dos anos em função da ´demurrage´ [valor pago pelo exportador pela sobre-estadia do navio] e de perdas nos transportes terrestres", disse à Reuters o diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes. "Apesar das exportações todas, nunca se perdeu tanto dinheiro."

CUSTO DO TRANSPORTE

Além disso, segundo ele, a despesa das tradings com o frete de caminhões --principal meio de transporte de grãos até os portos-- excedeu "em muito" o que se previa quando o exportador fechou os contratos com o agricultor.

"Isso, somando as perdas de frete com mais a demurrage, a gente acredita que deve ultrapassar US$ 1 bilhão no ano."

O valor estimado para as perdas representa mais de 4% da receita com as exportações do Brasil de soja e milho no ano passado, que somaram US$ 22,8 bilhões, segundo dados do governo brasileiro.

Em alguns casos, o custo da demurrage, que varia de US$ 15 mil a US$ 20 mil por dia, acaba saindo em cerca de US$ 600 mil por embarcação, considerando o custo de todos os dias que a carga levou para ser embarcada, além do planejado.

Atualmente, a situação de atrasos é pior no porto de Paranaguá (PR), uma referência de embarques agrícolas do Brasil, onde os navios levam cerca de 60 dias para atracar, disse o diretor da Anec.

Os atrasos ocorrem em função da fila de embarcações num ano de safra recorde do Brasil e demanda extremamente concentrada pela soja brasileira, após a quebra de safra nos EUA, tradicionalmente os maiores exportadores globais.

No caso dos portos, o diretor da Anec diz que a atual infraestrutura de Paranaguá não é "capaz de vencer" o atraso.

Ele citou ainda problemas como a falta de equipamentos adequados para agilizar as exportações.

SEM COBERTURA

Nos portos brasileiros, não há, por exemplo, cobertura de porões dos navios nos berços de atracação, o que impede o procedimento de embarques quando chove.

Além disso, disse Mendes, outros fatores que colaboram para o atraso, como a demora para a retomada das atividades de embarque toda vez que se troca um turno de trabalhadores.

Esses fatores, destacou o executivo, são questões práticas e paralelas às discussões da MP dos Portos, aprovada nesta semana no Congresso, que poderiam ser resolvidas independentemente de um novo marco regulatório para modernizar o setor.

No caso do transporte rodoviário, a nova lei dos motoristas colaborou para elevar o frete ainda mais, num ano de safra recorde, uma vez que reduziu o número de horas que cada profissional pode trabalhar sem descanso.

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