Economia cresce menos no 3º tri: indicadores de atividade apresentaram resultados díspares de julho a setembro

Publicado em
04 de Outubro de 2010
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A atividade fechou o terceiro trimestre em ritmo mais acelerado em relação ao segundo trimestre, mas, pelo conjunto de dados antecedentes levantados pelo Valor e segundo analistas consultados pela reportagem, a alta será a menor do ano. Enquanto no primeiro trimestre, a atividade cresceu 2,7% sobre os últimos três meses de 2009, e o período entre abril e junho registrou variação de 1,2% sobre o início do ano, os economistas avaliam que o ritmo entre julho e o mês passado apresentou alta inferior a 1% na comparação com o trimestre abril-junho.

À exceção da informação sobre as vendas de veículos novos em setembro, todos os indicadores de atividade disponíveis são referentes aos meses de julho e agosto, e eles apresentam um resultado difuso. Enquanto a venda de papelão ondulado, importante insumo industrial, caiu por dois meses consecutivos, 0,21% e 1,78%, o fluxo de veículos pesados - caminhões, basicamente - em rodovias pedagiadas cresceu nos dois primeiros meses do trimestre: 1,5% em julho e 2,2% em agosto, sempre na comparação com o mês imediatamente anterior.

De maneira geral, os números de julho são mais fortes que em agosto. A produção da indústria cresceu 0,6% em julho, mas sofreu leve queda em agosto, de 0,1%, segundo dados divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice mensal de atividade econômica do Banco Central, que serve aos analistas de bancos e consultorias como principal antecedente do desempenho mensal do Produto Interno Bruto (PIB), observou pequena elevação de 0,2% em julho - o resultado de agosto será divulgado na próxima semana. Foi o melhor resultado desde abril, início do declínio observado pelo índice do BC desde o auge atingido em março.

"O ritmo continua forte no consumo, mas a indústria fica para trás, o que é um tanto inevitável, diante do nível de utilização da capacidade instalada pressionado. Além disso, a parcela de importados não para de crescer", avalia Bernardo Wjuniski, analista da Tendências Consultoria.

As principais quedas na indústria em agosto foram observadas nos setores de metalurgia básica, menos 5,6%, e no refino de petróleo, menos 3,6%. Enquanto o tombo no refino foi provocado pela manutenção de uma refinaria da Petrobras, como o próprio IBGE divulgou, na sexta, o resultado do setor de metalurgia sinaliza maior fragilidade do setor industrial.

Segundo Carlos Loureiro, diretor do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), a distribuição de aço aumentou ao longo do terceiro trimestre, "mas não se trata de nenhum grande resultado". Segundo Loureiro, os distribuidores venderam 316 mil toneladas de aço em julho, 319 mil em agosto e em torno de 326 mil toneladas no mês passado. "Mas já chegamos a vender 390 mil toneladas no ano", diz Loureiro, que avalia que o forte ingresso de aço importado tem ampliado os estoques. "Estamos com estoques excessivamente altos, o equivalente a 2,5 meses de produção. Então é natural que a produção comece a diminuir, especialmente a partir do primeiro trimestre de 2011", afirma.

Para Wjuniski, os indicadores mais diretamente ligados ao consumo, como a produção de motocicletas e o licenciamento de veículos continuam fortes. Os fabricantes de motocicletas aumentaram sua produção 5,1% em julho e outros 16,8% em agosto. O licenciamento de veículos (automóveis, caminhões e ônibus) cresceu nos dois meses, 15% e 3,4%, segundo dados da Anfavea, associação dos fabricantes, mas as vendas registraram queda de 1,84% no mês passado, de acordo com a Fenabrave, federação dos distribuidores.

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o PIB passou por elevação entre 0,5% e 1% no terceiro trimestre sobre o período entre abril e junho. "Uma perda de força frente as últimas leituras, mas vale lembrar que a base é muito alta. As condições estruturais estão postas e continuam em elevação, como a queda do desemprego, a elevação dos salários e a concessão de crédito", diz.
 

Câmbio gera redução no ritmo da indústria

A a valorização do real, que atingiu sexta-feira o menor valor em dois anos, ao fechar em R$ 1,679, e a queda do saldo comercial - 53% menor em setembro deste ano em relação ao mesmo mês de 2009 - são apontados pelos economistas como causa e consequência da perda de ritmo da indústria verificada desde o fim do primeiro trimestre.

Segundo especialistas e empresários do setor, a questão cambial é "central" para entender a dificuldade de acelerar o ritmo de produção. "Há indicadores que mostram que os meses de julho e agosto foram bons para a atividade, mas não é a indústria que está gerando esse bom resultado", diz Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), para quem a valorização cambial foi determinante para a queda de 5,8% na metalurgia básica, em agosto, acompanhada de reduções menos expressivas nos segmentos de calçados, vestuário e móveis.

"O câmbio barateia o importado e encarece o produto exportado. O industrial, então, produz menos, porque exporta menos e porque o importado ganha mercado rapidamente", diz Souza.

De acordo com Carlos Loureiro, diretor do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), a participação do aço plano no consumo interno tem crescido bastante. Dos 6,2% registrados em 2008, os importados saltaram para 12% no ano passado e para 21% do total consumido, no primeiro semestre de 2010.

Em agosto, o aço importado já representou 27% do total consumido. "As usinas hoje estão entregando cerca de 25% menos aço do que entregaram em junho. Há espaço para aumentar a produção, mas o importado está substituindo o produto nacional", diz. (JV)

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