É preciso retomar os investimentos na infraestrutura rodoviária, por Marcos Battistella*

Publicado em
10 de Janeiro de 2017
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Depois de um ano crítico para as áreas do transporte rodoviário de cargas, os empresários devem iniciar 2017 ainda mais apreensivos, especialmente por causa da grave crise política e da perspectiva de um baixo investimento no TRC. Com rodovias, ferrovias e aeroportos em estado precário e mal conservados, o Brasil sofre com uma defasagem absurda em relação à infraestrutura rodoviária. O país tem quase 1 milhão e 700 mil km de rodovias, envolvendo as esferas federal, municipal e estadual. A maior parte dessas rodovias pertencem ao poder público, que se mostram incapazes de garantir os investimentos no setor. Esse quadro piora quando pensamos que o transporte rodoviário é o principal meio de transporte de cargas no Brasil, sendo responsável por quase 63% e 770 bilhões de toneladas por quilômetro útil. 

Apesar de o país ter uma extensa malha rodoviária, uma das mais extensas do mundo, o Brasil ainda está atrasado se compararmos com as potências mundiais. A cada 1.000 quilômetros rodados, 25 km de rodovias são pavimentadas, o que corresponde a apenas 12,3% da extensão rodoviária nacional. Nos Estados Unidos, são 438,1 km por 1.000 km² de área. Na China, 359,9 km e na Rússia, 54,3 km. Ao analisar as regiões, o Nordeste concentra o maior percentual de infraestrutura rodoviária (30,8%), seguido do Sudeste (19,3%), do Sul (18,5%), do Centro-Oeste (17,6%) e do Norte (13,7%). Os dados são da Pesquisa Rodoviária CNT 2016.
Nos últimos dez anos (de julho de 2006 a junho de 2016), a frota cresceu 110,4%, enquanto a extensão das rodovias federais cresceu somente 11,7%. Grande parte dos trechos que têm pavimento não estão em bom estado. Essas condições colocam o Brasil na 111ª posição no ranking de competitividade global do Fórum Econômico Mundial, no quesito qualidade da infraestrutura rodoviária.

As condições precárias das rodovias devem gerar um prejuízo aos transportadores de R$ 2,34 bilhões no balanço final de 2016, somente devido ao consumo desnecessário de mais de 700 milhões de litros de diesel. Esse valor leva em consideração a qualidade do pavimento, item que apresentou problemas em 48,3% da extensão avaliada na Pesquisa CNT de Rodovias 2016. De acordo com o estudo da Confederação Nacional do Transporte, o desperdício de diesel dos veículos de carga que transitam onde o asfalto tem problemas é, em média, de 5%. Isso se deve ao aumento das frenagens e acelerações. Outro problema é o aumento das emissões de poluentes. A estimativa da CNT é de que essa queima de diesel excedente contribua para a emissão desnecessária de 2,07 megatoneladas de CO2 neste ano. O cálculo da Confederação sobre o desperdício de combustível leva em consideração a previsão de consumo em 2016 e o preço médio de revenda do diesel comum, R$ 3,015 o litro (média de janeiro a agosto de 2016).

De uma forma geral, é possível afirmar ainda que, para solucionar os gargalos físicos, de investimento e institucionais, é fundamental que o Governo Federal reconheça que, sozinho, não tem condições de bancar toda a demanda. Para viabilizar a modernização e o crescimento da malha serão necessários incentivos à participação da iniciativa privada, além de um complexo planejamento. É essa, talvez a grande solução para o problema. Quando o governo estiver ciente da necessidade de reformular e ampliar os investimentos, poderemos atender o crescimento da demanda por do país.

*Marcos Battistella é o novo presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar).

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