Diretor de porto fluvial diz que ALL empurra problemas com a barriga

Publicado em
29 de Setembro de 2010
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O diretor da Administração do Terminal Portuário de Presidente Epitácio (Ateppe), Adenir Marcos de Melo, está cansado de reclamar da atuação da empresa América Latina Logística (ALL) nas ferrovias paulistas. Em entrevista ao Portal de Internet PortoGente, ele escancarou as dificuldades dos últimos anos, como a negociação de fretes. "E sabe o que a ANTT me diz? Que a ALL tem, pelo contrato de concessão, direito de agir de tal forma".

PortoGente - Quais os problemas com a ALL?

Adenir - Todos. Desde quando assumi a diretoria de portos de Presidente Epitácio, em 2006, sabia que a grande missão era retomar a busca de cargas no nosso terminal com a ALL. Após negociações com os empresários locais, tentei por várias vezes fechar contratos operacionais com a ALL, porém todos foram em vão.

PortoGente - O que deu errado?

Adenir - Comprovamos na ANTT e no Ministério dos Transportes que há mais de 2 milhões de toneladas por ano aqui, mas a ALL quer cobrar um frete absurdo de R$ 97,00/tonelada entre os portos de Presidente Epitácio e Paranaguá. Numa rodovia, o frete é de R$ 70,00/tonelada. Impossível qualquer negociação empresarial assim. Sabe o que a ANTT me diz? Que a ALL tem, pelo contrato de concessão, direito de agir de tal forma.

PortoGente - A empresa nunca foi receptiva aos seus apelos?

Adenir - Nunca imaginava tamanho descaso e falta de interesse por parte de uma concessionária, foram muitas as tentativas, além de muitas solicitações de tentar negociar frete, projetos de custos, demandas e tipos de cargas, equipamentos... Nunca se chegou a lugar nenhum, sempre empurra o problema com a barriga e quando se apertava o cerco, havia a trocava do gerente responsável da ALL. E tudo começava do zero.

PortoGente - Surpreende ver essa quantidade de acidentes nos trilhos?

Adenir - Não me surpreende não, na verdade são poucos que estão acontecendo. Na pouca malha que a ALL atende, trafega-se em baixa velocidade e mesmo assim sempre existe alguma colisão ou descarrilamento. É lamentável o recente acidente ocorrido, tem muita coisa que precisamos fazer. Não dá pra esperar o término do contrato com a ALL, tem muitas vidas em jogo e os prejuízos são irreparáveis.

ALL vai devolver trechos da Ferronorte 
  
A América Latina Logística (ALL) decidiu devolver ao governo federal quatro trechos da Ferrovia Norte Brasil (Ferronorte) que seriam construídos para melhorar o escoamento da produção das regiões Norte e Centro-Oeste para o Sul e Sudeste. A devolução já foi acertada com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e será formalizada em três semanas.

O governo agora terá de decidir se fará uma nova licitação dos trechos ou se passará para a estatal Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S/A a responsabilidade pela montagem das linhas. A devolução dos trechos foi decidida pela ALL no final de agosto.

Estudos elaborados pela concessionária indicaram que a implantação das linhas seria "insustentável" sob a "ótica empresarial". Ou seja, a empresa levaria muito tempo para conseguir retorno dos investimentos necessários para a construção.

"Eles não querem fazer o investimento e não são obrigados", disse Luiz Antonio Pagot, diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), lembrando que o contrato de concessão não traz nenhum tipo de obrigação de investimento por parte do concessionário.

"Eles já têm uma malha ferroviária consistente, estão pensando em outros ramais lucrativos e fizeram estudos que mostram que não vale a pena colocar dinheiro num negócio que vai render a longuíssimo prazo", acrescentou.

O objetivo das linhas era fazer a ligação de Cuiabá (MT) com o Triângulo Mineiro, Rondonópolis (MT), Porto Velho (RO) e Santarém (PA).

Concessão. O contrato de concessão que engloba as linhas foi assinado em 1989 pela União e a Ferronorte e tem um prazo total de vigência de 90 anos. A ALL assumiu a concessão em 2006, quando adquiriu a Brasil Ferrovias, empresa criada no ano de 2002 com a fusão da Ferronorte com a Novoeste e a Ferrovia Bandeirantes.

Até o momento a empresa já concluiu a construção da linha que liga Aparecida do Taboado (MS) com Alto Araguaia (MT). No acordo firmado com a ANTT para a devolução dos trechos, a ALL ganhou mais dois anos de prazo para terminar a construção e iniciar a operação comercial do trecho entre Alto Araguaia (MT) e Rondonópolis (MT). O investimento total nesse trecho será de cerca de R $ 750 milhões.

Com a decisão tomada pela ALL, o governo de Mato Grosso acertou com a ANTT a contratação de um estudo para avaliar a viabilidade da construção das linhas e qual o melhor modelo a ser adotado. Além das opções de fazer uma nova licitação e jogar para a Valec a responsabilidade de construir as linhas, existe uma terceira alternativa: deixar nas mãos do governo mato-grossense a construção dos trechos. O estudo só deve ser concluído em 18 meses.

A notícia é do Jornal o Estado de São Paulo

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