Descentralização muda mapa da produção de carros

Publicado em
01 de Julho de 2013
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Estados que há duas décadas não abrigavam montadoras

Estados que há duas décadas não abrigavam montadoras ou tinham discreta presença de fabricantes já respondem por mais de 30% da produção nacional de veículos. Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Goiás ganharam espaço no mapa da indústria automobilística, derrubando de vez a hegemonia de São Paulo.

Apesar de ainda ser o maior mercado brasileiro em consumo, São Paulo participa com 41,5% da produção, fatia que era de 74,8% em 1990, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

A descentralização é vista como saudável, pois leva a várias regiões um tipo de indústria considerada de ponta. "É uma indústria que exige mão de obra qualificada, infraestrutura, tem importante participação no Produto Interno Bruto (PIB) e impacto em diversos setores", diz Ricardo Pazzianotto, sócio da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC).

A regionalização vai prosseguir com a entrada no mapa da produção automotiva dos Estados de Santa Catarina e Pernambuco, que em 2014 e 2015 vão receber unidades da BMW e da Fiat. Na semana passada, o grupo Amsia, pertencente a investidores da Arábia Saudita, assinou protocolo de intenções para uma fábrica em Sergipe.

"A descentralização é importante para o Brasil, pois receber uma fábrica de veículos significa para o Estado a geração de mais empregos, mais renda, além da possibilidade de agregar produtores de autopeças e de insumos", diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan.

Fatia maior. O Paraná, que em 1990 respondia por 0,5% da produção, hoje participa com 15,4%. Na época, o Estado abrigava só a fábrica de caminhões da Volvo e hoje tem unidades da Volkswagen e da Renault. O Rio Grande do Sul, com 0,2%, saltou para uma fatia de 6,1% depois da chegada da

General Motors.

A Bahia, que recebeu sua primeira montadora, a Ford, em 2001, ultrapassou o Rio e no ano passado produziu 5,6% dos veículos brasileiros. O Estado vai abrigar, a partir do próximo ano, sua segunda montadora, a JAC Motors.

Com fábricas da MAN/Volkswagen e da PSA Peugeot Citroën, o Rio teve sua fatia reduzida de 6,7% para 4,4%. O Estado terá chances de melhorar sua performance com a inauguração, em 2014, da fábrica da Nissan. Bahia e Rio, assim como Goiás, não tinham fábricas de carros nos anos 90.
Minas Gerais, onde a Fiat tem a segunda maior fábrica de veículos do mundo, com capacidade que vai se aproximar de 1 milhão de unidades por ano, contribuiu com 25,2% da produção total de 3,38 milhões de veículos em 2012, a maior participação desde o fim dos anos 70, quando a montadora italiana se instalou em Betim.

Lá também estão as fabricantes de caminhões Iveco e Mercedes-Benz. Esta última negocia com pelo menos quatro Estados (Minas, Rio, Santa Catarina e São Paulo) área para instalar nova unidade de automóveis.

Menor participação. Com 41,5% de participação na produção, a menor desde que a Anfavea passou a divulgar esses dados, São Paulo perde fatias no bolo, mas segue recebendo novos investimentos. No ano passado, foram inauguradas fábricas da Toyota e da Hyundai, e no fim deste ano será aberta a unidade da Chery.

O Estado ainda concentra o maior número de fábricas, com duas unidades da Volkswagen, da General Motors e da Toyota e uma da Ford, da Scania, da Honda e da Mercedes-Benz. Segundo o presidente da Investe São Paulo (Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade), Luciano Almeida, São Paulo já reagiu no primeiro trimestre deste ano, período em que sua participação na produção de carros saltou para 45%.

O Estado aguarda decisões de projetos em negociação. Um deles é o investimento de R$ 2,5 bilhões da GM em uma nova linha de montagem em São José dos Campos. Também disputa a fábrica de automóveis que a Mercedes-Benz pretende construir no País, o projeto da Land Rover, ainda indefinido e um outro investimento do setor mantido em segredo.

Guerra fiscal. "São Paulo deve apresentar uma recuperação neste ano, mas a partir daí haverá uma estabilização", prevê Almeida. Ele ressalta que, apesar de perder participação, o Estado deve aumentar a produção em volumes absolutos. A previsão para este ano é de 1,68 milhões de veículos, número que só ficará atrás do recorde registrado em 2010, quando foram fabricados 1,743 milhão de unidades nas fábricas paulistas.

O governo local reclama do que considera concorrência desleal de alguns Estados. Segundo Almeida, São Paulo estuda alternativas para proteger as empresas locais "de eventuais benefícios ilegais que possam estar sendo dados por outros Estados".

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