Depois da greve dos caminhoneiros, cresce a procura por alternativas para transporte de cargas
Quase um ano depois da greve dos caminhoneiros, que praticamente parou o país por 11 dias entre o final de maio e o começo de junho de 2018, e, em meio à polêmica sobre o frete do transporte rodoviário de cargas, as empresas do segmento de logística estão apostando em novas alternativas para atrair e conquistar novos clientes.
O diretor da Datamar, consultoria especializada em transportes marítimos, Andrew Lorimer, disse: “A greve assustou todo mundo e mostrou o quão dependentes somos do transporte rodoviário. A paralisação fez com que, a partir de maio, o ritmo de crescimento da produção industrial e de vendas no comércio começasse a cair”.
Segundo Jaime Batista, gerente de vendas de cabotagem da Aliança, a crise detonada pela greve fez com que as empresas olhassem para outras alternativas, além da rodoviária, para o escoamento de cargas.
A empresa percebeu forte crescimento em algumas rotas marítimas. Uma delas é a que liga o Nordeste ao Sudeste. O volume triplicou da Bahia para São Paulo. “O tabelamento do frete fez com que a cabotagem se tornasse mais competitiva e despertasse mais o interesse entre as empresas”, diz o executivo.
Mas não é só na cabotagem que a empresa está investindo. Ela está reforçando sua atuação no sistema porta a porta e, para isso, investiu na aquisição de 50 conjuntos – cavalo e semirreboque – da Volkswagen. Com isso, a frota dedicada à disposição da empresa saltará para 169 unidades.
O projeto também prevê a construção de um terminal operacional em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, para facilitar o escoamento de cargas que chegam ou saem pelo porto de Santos, o maior do país.
“O objetivo é o de reforçar a operação da saída da mercadoria do cliente, passando pelo transporte marítimo, até a chegada no destino”, enfatiza.
Leque de serviços
Uma das maiores empresas de navegação e logística do mundo, a Maersk, quer se firmar como fornecedor integrado de logística de ponta a ponta, oferecendo transporte e serviços de mercadorias em contêineres por terra e mar para clientes no Brasil, Argentina e Uruguai.
E as ações não param por aí. Segundo Antonio Dominguez, diretor executivo da Maersk para a Costa Leste da América do Sul, o grupo está olhando para estratégias orgânicas, bem como potenciais de parceria, investimento ou aquisição para construir uma rede que permita atuar de ponta a ponta. “Estamos olhando todas as opções no setor, como caminhões ou armazéns”, diz ele.
Segundo o executivo, o grupo, uma das maiores operadoras logísticas do mundo, foi obrigada a acelerar a transformação por conta da greve dos caminhoneiros, no ano passado. “Nossos clientes começaram a pedir uma integração de serviços. Queremos construir uma rede terrestre de serviços logísticos para criarmos uma rede global integrada de logística de ponta a ponta”.
Olhos abertos
Outra empresa que sentiu reflexos positivos a partir da greve dos caminhoneiros foi a MRS, ferrovia que opera a malha no eixo Rio-São Paulo e em regiões próximas. Segundo ela, houve um pico na procura para transportes mais emergenciais. “De certo modo, o episódio abriu os olhos do setor produtor para a opção ferroviária, nem sempre cogitada de imediato”, informou a empresa por meio de nota.
Ela afirma que este cenário foi sendo interessante para as empresas clientes, que passaram a avaliar soluções multimodais e as vantagens dos trens. A MRS também reforçou sua parceria com a Tora Logística, que tem forte ênfase no transporte rodoviário e em operações de terminais. O objetivo é o de simplificar as operações logísticas para os clientes por meio de um serviço integral de uma ponta a outra”.