Participação da indústria brasileira no PIB, que chegou a 25% em 1985, caiu para cerca de 10,5% em 2016.
Além da alta carga tributária, o custo logístico trava o desenvolvimento do país. Segundo pesquisa da Fundação Dom Cabral (FDC), o transporte e o armazenamento das cargas consomem 11,7% da receita das companhias nacionais.
Como o valor é embutido nos produtos e repassado ao consumidor, a melhoria nas estradas, a viabilização de outros modais (como mais linhas ferroviárias e portos secos) e o desembaraço alfandegário poderiam refletir em queda no custo de vida da população.
A pesquisa da Fundação Dom Cabral foi realizada em 2015 e divulgada no ano passado. Entre a realização do estudo e o ano anterior, 2014, houve aumento de 1,8% nos custos logísticos, o equivalente a 0,21 ponto percentual. Naquela época, a logística representava 11,52% do faturamento.
Setores mais afetados
Os setores de agronegócio, automotivo e alimentação têm gastos maiores com transporte e armazenamento. Conforme explica o economista e professor do Ibmec Sérgio Guerra, um dos motivos é que as plantas das montadoras estão espalhadas pelo país.
Então, além de ser necessário unir os produtos na montagem dos veículos, é necessário enviá-los aos portos para exportação. Os embarques também encarecem os custos para os setores de agronegócio e alimentação.
A análise do especialista é corroborada pela pesquisa da FDC. Segundo o estudo, os transportes de longa distância representam 50% dos custos logísticos nas empresas.
O segundo maior gasto é com a distribuição urbana (transporte de curta distância), que representa 20%, seguido por armazenagem (15%). Os gastos administrativos, que envolvem os desembaraços alfandegários somam 8%.
Brasil está abaixo da Venezuela no quesito produtividade do trabalho nas fábricas
Em meio aos escândalos políticos e à incerteza econômica, o momento é de unir forças e buscar soluções para os problemas estruturais que travam o desempenho da indústria brasileira, com priorização de políticas que promovam a melhoria da produtividade.
Essas foram as principais diretrizes apontadas por especialistas e empresários no ciclo de debates “Competitividade industrial”, promovido pela Fiemg.
Na abertura do evento, o vice-presidente da Fiemg, Agnaldo Diniz, ressaltou a necessidade de alavancar a produtividade do trabalho na indústria.
“Saber que na América Latina, o Brasil está abaixo da Venezuela em produtividade foi como receber um balde de água gelada”, disse o vice da Fiemg.
Diniz lembrou que há 30 anos o nível de produtividade brasileira do setor era igual ao do Japão, mas o patamar foi caindo ao longo dos anos.
Segundo ele, a participação da indústria brasileira no PIB, que chegou a 25% em 1985, caiu para cerca de 10,5% em 2016. “Isso é péssimo”, resume.
O economista Sílvio Campos Neto, da Tendências Consultoria Integrada, apontou alguns erros que tem levado o país à situação de estagnação e perda de competitividade industrial. Entre eles destacam-se novas desonerações, crédito subsidiado e protecionismo.
Como saídas, ele citou a aprovação das reformas trabalhista e tributária e a redução da burocracia.
Já para Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, é preciso elaborar um arcabouço jurídico legal para proteger os projetos estruturantes no país.