Ao afetar negativamente a economia brasileira no bimestre maio/junho, a greve dos transportes mostrou o custo da dependência do modal rodoviário para empresas e para a produtividade. Estudo das economistas Ellen Regina Steter e Hanna Farath, do Bradesco, mostra que o problema é generalizado e mais delicado em alguns setores.
A mineração lidera os segmentos nos quais é mais alto o custo logístico das empresas, que alcançou, em 2012, 16% da receita líquida do setor, sendo 10% decorrentes exclusivamente do transporte. O custo de logística no agronegócio era de 15%, dos quais 8% relativos ao transporte. Seguem-se, pelo critério de custo de logística, os segmentos de siderurgia e metalurgia, papel e celulose e higiene, limpeza, cosméticos e farmácia.
Indicadores da Fundação Dom Cabral sobre um conjunto de 130 empresas dão conta de que os custos logísticos como proporção do faturamento bruto têm peso crescente: de 11,52% em 2014 passaram para 12,37% em 2017. Entre esses custos, o transporte é classificado como o de maior impacto na formação do preço final dos produtos.
O custo de logística seria menor se não fosse tão grande a dependência do transporte rodoviário: 65% do transporte total de carga depende de rodovias, segundo a Empresa de Planejamento e Logística (EPL). No segmento de carga geral, que inclui processados, celulose, borracha e plásticos, o porcentual atinge 87%. A seguir vem o agronegócio, em que o modal rodoviário é utilizado para o transporte de 60% das cargas. No caso da soja e do milho destinados ao consumo interno, 100% são escoados pelo sistema rodoviário.
O custo do transporte é agravado pelas distâncias: 42% da produção nacional de grãos é originada da Região Centro-Oeste e 49% da produção nacional é escoada pelos Portos de Santos e de Paranaguá. Os custos são tão altos que os produtores do Centro-Oeste não têm rota ideal previamente definida. A opção pelo Porto de Itaqui, no Maranhão, nem sempre é possível, pela falta de investimentos em escoamento.
Uma das agravantes é o estado das rodovias, pois apenas 38,2% delas são consideradas boas ou ótimas pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). A dependência rodoviária dificulta o aumento da produtividade, o que poderá ser agravado se ocorrer elevação real do valor dos fretes.