Crise argentina afeta exportações brasileiras

Publicado em
12 de Fevereiro de 2014
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Em 2013, as exportações para a Argentina foram uma das molas propulsoras do desempenho recorde da produção de veículos no Brasil

Desde janeiro, vêm da Argentina as notícias mais indigestas às empresas de veículos instaladas no Brasil. Se em dezembro o anúncio de que o governo de Cristina Kirchner vai cortar em quase um terço as importações já tinha esfriado expectativas sobre a atividade das montadoras brasileiras neste ano, agora, o agravamento da crise cambial no país vizinho torna o cenário ainda mais complicado.

Em 2013, as exportações para a Argentina foram uma das molas propulsoras do desempenho recorde da produção de veículos no Brasil. Junto com a substituição de carros importados por nacionais - já que a política automotiva brasileira também é restritiva a importações -, os embarques para o principal parceiro do Mercosul ajudaram a compensar a menor demanda doméstica e permitiram o crescimento próximo a 10% do volume de veículos montados, que somou 3,77 milhões de unidades.

A recente desvalorização brusca do peso tem impacto estimado em 150 mil veículos nas exportações para o outro lado da fronteira apenas no primeiro semestre, ou o equivalente a US$ 2,1 bilhões.

De qualquer forma, não se esperava que um crescimento baseado em desequilíbrios da economia argentina - onde se compra carro como proteção aos altos índices de inflação - seria mesmo sustentável. Medidas para estancar a saída de dólares no país vizinho viriam inevitavelmente.

No início do mês passado, a Anfavea, entidade que abriga as montadoras instaladas no Brasil, já incorporava essa premissa ao ser cautelosa na estimativa para a produção de veículos deste ano. A projeção da associação é de crescimento de 1,4%, após o avanço de 9,9% em 2013. Há analistas, porém, que apostam em queda não só da produção, em virtude do ambiente difícil para as exportações, mas também na venda de no Brasil.

O acordo automotivo com a Argentina, como disse recentemente o presidente da Anfavea, Luiz Moan, é um tratado de integração produtiva. As duas partes fazem grande intercâmbio comercial para complementar tanto a produção de peças como a de veículos. No caso das autopeças, o Brasil é superavitário, mas nas transações envolvendo veículos, o saldo positivo fica do lado argentino.
No ano passado, as compras de veículos argentinos no Brasil - de US$ 7,08 bilhões - superaram em quase US$ 420 milhões as exportações realizadas por montadoras brasileiras ao país vizinho.

Embora tenha superávit em automóveis de passeio e seja exportador de caminhões ao mercado argentino, o Brasil, na média, importa mais do que exporta as linhas de maior valor agregado. O déficit vem, principalmente, das importações de utilitários leves. Por isso, ainda que em volume a indústria brasileira embarque mais veículos do que a argentina, o saldo, em valores absolutos, é negativo.

Já o montante de componentes embarcados à Argentina no ano passado superou US$ 4 bilhões, enquanto, na direção oposta, as importações - de US$ 1,75 bilhão - não chegaram a metade desse montante, embora tenham apresentado uma alta de 15%.

Portanto, as dificuldades que os produtos importados terão daqui para frente no mercado argentino prejudicam a indústria de autopeças, junto com as montadoras de caminhões e de automóveis de passeio, produto mais importante da pauta de exportações daqui para lá. Por outro lado, ficará mais barato para as multinacionais instaladas nos dois lados da fronteira trazer ao Brasil os utilitários produzidos na Argentina.

A mais prejudicada na história será a balança comercial brasileira, que, nesse cenário, tem reforçada a tendência de déficit dentro da indústria automobilística. A diferença negativa, em valores globais, passou de US$ 12 bilhões em 2013.

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