Dados mostram que a idade dos veículos de carga é maior que a média nacional
Velhos e mal cuidados. Esta é a condição de centenas de caminhões que circulam pelas rodovias do Espírito Santo, vários deles carregando rochas. Por aqui, a quantidade de veículos de carga autuados por mau estado de conservação é crescente. Tudo indica que a idade deles está diretamente ligada a este problema.
De acordo com dados da Agência Nacional de Transportes - ANTT, a frota brasileira de caminhões simples, que devem pesar entre 8 e 29 toneladas, tem, em média, 16,1 anos de uso. Mas, segundo levantamento do Departamento Nacional de Trânsito - DENATRAN, a idade média da frota de caminhões dos municípios do estado é superior à média nacional, com cerca de 20,8 anos de atividade.
O estudo mostra que dentre as principais cidades com a maior atividade econômica no setor de extração e escoamento de rochas, todas contam com mais caminhões antigos do que novos. É o caso de Castelo, no Sul do estado, onde 54,7% dos caminhões têm entre 20 e 57 anos. Mesmo tempo de uso de 50% da frota de Nova Venécia e 42,9% dos caminhões registrados em Colatina, ambas cidades da região Norte.
Além dessas, em Cachoeiro de Itapemirim, o município mais conhecido pela extração de rochas ornamentais, a média da frota é de 26 anos. Lá, 59,6% dos caminhões foram fabricados entre 1960 e 1997. Na mesma região, fica a cidade de Atílio Vivacqua, com 55% da frota com 20 anos ou mais.
IDADE MÉDIA DOS CAMINHÕES NAS PRINCIPAIS CIDADES DO MERCADO DE ROCHAS
É também de Atílio Vivacqua que vem o caminhão que provocou, no último dia 10, uma tragédia que tirou a vida de 11 pessoas no Km 450 da BR 101, no sul do estado. Ele tinha 35 anos de uso, estava com a documentação irregular e no momento transportava granito. O veículo seguia no sentido Rio de Janeiro e, ao tentar fazer uma ultrapassagem proibida, fez com que as placas se desprendessem e atingissem um micro-ônibus, onde viajava um grupo de 20 pessoas da cidade de Domingos Martins. Em junho deste ano, outras 23 pessoas morreram em um acidente parecido, envolvendo um caminhão, um ônibus da Águia Branca e duas ambulâncias. Este é considerado o mais crítico já registrado nas estradas capixabas.
Os acidentes reacendem a discussão sobre as condições dos caminhões que circulam pelas estradas. De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal - PRF, o número de veículos de carga multados nas rodovias federais do Espírito Santo por mau estado de conservação, somente em 2017, já é maior que todo o ano de 2016. Foram autuados 866 caminhões até o momento, enquanto que no ano passado foram 788. Segundo o inspetor Macedo Miranda, chefe de comunicação da PRF aqui no ES, “o mau estado de conservação acaba estando ligado a idade dos veículos, porque as peças (como pneus e freios) vão se desgastando e, visando o lucro, muitos proprietários acabam adiando a manutenção dos caminhões”.
Os números da PRF mostram ainda que 515 veículos de carga já foram autuados em 2017 por irregularidades no licenciamento. A expectativa é que esse número também seja maior do que em 2016, quando 532 multas foram aplicadas. A velocidade dos caminhões nas rodovias também é motivo de preocupação. Aqueles com problemas no tacógrafo, aparelho que registra instantaneamente a velocidade/tempo dos veículos, somam 41 autuações. No ano passado, foram 54 multas.
O excesso de peso é outro fator que pode provocar acidentes. Neste ano,
409 multas
é o número aplicado pela PRF em veículos de carga, neste ano, por excesso de peso
caminhões foram multados por esse motivo, com 2.714.822 kg de cargas retiradas das estradas. Em 2016, foram 743 notificações e 5.484.822 kg. Todos os veículos autuados por excesso de peso são retidos e somente liberados após regularização.
Sem legislação
Apesar da afirmação de que a idade dos caminhões pode estar associada aos acidentes nas estradas capixabas, o Departamento Estadual de Trânsito - DETRAN afirma que não há uma legislação que proíba caminhões fabricados há muito tempo de circular com cargas pesadas, como as rochas que estavam nos veículos envolvidos nos fatídicos acidentes. O que deve ser observado é que veículos de carga devem dispor de equipamentos obrigatórios conforme a Resolução nº 14/1998, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), e tem que apresentar bom estado de conservação.
Nas rodovias federais, a responsabilidade de fiscalização cabe a Polícia Rodoviária Federal e ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT. Nas demais vias, fica a cargo dos órgãos de trânsito dos estados e/ou municípios integrados ao Sistema Nacional do Trânsito - SNT.
O Sindirochas diz que, em função da falta de uma regulamentação que condiciona a troca da frota dentro de um tempo determinado, a orientação para os empresários do setor de transporte de rochas é para que a Resolução 354, do Contran, de 2010, seja rigorosamente seguida. Ela determina a adequação dos veículos com a colocação de equipamentos de segurança, como travas para a carga, o sistema de travas para os blocos, correntes, entre outros. O sindicato lamenta que alguns motoristas e empresários não sigam corretamente as determinações do Contran.
Os caminhões devem ser inspecionados anualmente, e todas estas adaptações, segundo o Sindirochas, provocaram um aumento dos gastos para deixar os veículos dentro da legislação, fazendo com que a troca dos caminhões seja feita em espaço de tempo maior.