Grandes empresas na China correm contra o tempo para automatizar a produção e retomar suas operações
Com o novo coronavírus, empresas na China estão lutando para voltar a operar seus negócios, depois de perderem semanas de produção devido ao surto. Para reabrir fábricas, as companhias precisam enviar uma série de documentos ao governo chinês, listando o estado de saúde, viagens recentes, datas de quarentena e período de isolamento de todos os funcionários. É o caso da CTC Global, empresa da Califórnia especializada em soluções de TI e que tem produção na China.
Para reiniciar a produção, e empresa precisa monitorar a temperaturas dos funcionários duas vezes por dia, além de distribuir máscaras e luvas.
Localizada a 400 milhas de Wuhan, cidade centro do surto, a fábrica da CTC Global na China não está imune ao vírus. Ainda assim, a empresa tem conseguido lidar com a falta de funcionários devido às quarentenas, bloqueios nas estradas e pontos de verificação. Além de ter unidades em outros países, a CTC Global conta com produção altamente automatizada. “Nossa fábrica foi projetada para ser dominada por máquinas, com baixo uso de mão-de-obra”, afirma Marvin Sepe, CEO da companhia, ao site CNBC.
Voltando ao trabalho
O coronavírus representa um alerta para os chefes de cadeia de suprimentos em países como China e Estados Unidos. Quando cerca de 100 milhões de trabalhadores das fábricas retornarem às indústrias automotivas, de eletrônicos e de smartphones na China, grande parte das empresas já terão investido em robótica e automação.
Rosemary Coates, diretora executiva do Reshoring Institute, no Vale do Silício, afirma que empresas como a Deere & Co, fabricante de equipamentos agrícolas e de construção, estão montando equipes de crise para lidar com a escassez de produtos.
A ideia, assim como em outras empresas na indústria chinesa, é incluir o uso de mais robôs e outras automações que substituam os seres humanos. “A China comprou mais robôs no ano passado do que qualquer outro país, e agora é hora de colocar em funcionamento”, diz Coates à CNBC.
Nos últimos anos, a segunda maior economia do mundo passou pela chamada “revolução da robótica”. O país se tornou o maior mercado mundial de robótica industrial e o mercado que mais cresce no mundo, subindo 21% e chegando a US$ 5,4 bilhões em 2019.
Revolução robótica na China
Hoje, a China conta com mais de 800 fabricantes de robôs, incluindo grandes empresas como SIASUN e DJI Innovations. Até 2021, o país irá responder por 45% de todas as remessas de robôs industriais. O surto do vírus impôs uma "urgência por trás da tendência para o aumento da automação e uso da robótica na China”, de acordo com Emil Hauch Jensen, vice-presidente de vendas da Mobile Industrial Robots em Xangai.
Parte dos robôs autônomos da Mobile Industrial Robots, que podem ser usados para transportar cargas pesadas em armazéns e fábricas, são utilizados por grandes companhias, como Ford, Aibus, Flex, Honeywell e DHL. Segundo Jensen, um robô que pode trabalhar em um turno de 24 horas é capaz de substituir três trabalhadores e custar entre US$ 43 mil e US$ 72 mil. Com os salários na China subindo até 20% ao ano nos últimos anos, o impulso à robótica é forte.
Recuperando a produção
Grandes empresas americanas com operações na China foram fortemente atingidas pelo vírus. A nova fábrica da Tesla em Xangai retomou a operação em 10 de fevereiro, após quase duas semanas de paralisação. A Foxconn, que fabrica os iPhones da Apple na China, pretende automatizar 30% de seu 1 milhão de vagas, ainda este ano.
As montadoras da China sofrem impactos severos. Wuhan, conhecida como Detroit chinesa, conta com fábricas como General Motors, Honda, Nissan, Peugeot e Renault. Com as medidas do governo para manter as pessoas em casa, parte da cadeia se suprimentos foi interrompida.
A crítica à automatização da indústria chinesa é a controvérsia de que os robôs podem substituir trabalhadores, causando desemprego generalizado. Enquanto isso, os robôs estão sendo usados no país para uma ampla variedade de serviços, como a desinfecção de hospitais e ruas, entrega de alimentos, medicamentos e suprimentos.
Para isso, diversas startups de robótica estão sendo contratadas. A fabricante chinesa de robôs Youibot criou um robô de esterilização. A empresa acabou de assinar um contrato com uma grande empresa em Suzhou, perto do centro financeiro de Xangai, para entregar outros 35 robôs no início deste mês, de acordo com a CNBC.