Contrail faz mega-acordo com MRS em contêineres

Publicado em
19 de Novembro de 2010
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Para abocanhar uma expressiva fatia do negócio de transporte de contêineres que hoje é realizado em caminhões até o porto de Santos e "roubá-los" para o meio ferroviário, a MRS Logística acaba de firmar com a Contrail uma parceria comercial que deverá se tornar o maior contrato de movimentação desse tipo de carga no Brasil. O objetivo é transferir para os trens cerca de 45% do movimento atual de contêineres em Santos por ano. Atualmente, apenas 3% chegam pela ferrovia.

"Essa parceria vai mudar a cara do transporte de contêiner na região de Santos de São Paulo", diz, convicto, Guilherme Quintella, acionista controlador da Contrail. Segundo ele, trata-se de um modelo inovador que será adotado no Brasil para esse tipo de operação, com uso de vagões especiais. Outra vantagem, aponta ele, é que serão tirados das estradas rumo a Santos e de várias cidades, como a capital paulista e outras da região metropolitana, mais de 1 milhão de caminhões por ano.

A previsão do empresário é que a Contrail, a plena capacidade, com movimentação anual de 1,2 milhão de TEUs , fature cerca de R$ 800 milhões ao ano. Cada TEU corresponde a um contêiner de 20 pés - representa a sigla, em inglês, de Twenty-foot Equivalent Unit.

O negócio está formatado em três fases, no prazo de cinco anos, e prevê investimentos totais nesse período de R$ 600 milhões. Esses recursos serão usados na construção de terminais de captação e distribuição de contêineres, em frotas de caminhões e equipamentos diversos. À MRS caberá ainda investir no aumento da frota de locomotivas e na fabricação de vagões especiais, do tipo "double stack", que permitem o empilhamento de até dois contêineres.

A MRS, criada em 1996, com a privatização das ferrovias no país, opera 1,7 mil km de trilhos nos Estados de Minas Gerais, Rio e São Paulo. Sua principal carga, atualmente, é minério de ferro. A Contrail é controlada pela EDLP, empresa de participações de Guilherme Quintella. Ele atua em logística ferroviária no país desde os anos 80. Seu sócio na Contrail, com 33% do capital, é o executivo Augusto Pires, oriundo das áreas de operações da fabricante de bebidas AmBev e da ferrovia ALL.

A primeira etapa, informa Quintella, será implementada em um ano e o planejamento é que alcance movimentação de 300 mil TEUs por ano. Ela compreende a construção do Terminal Intermodal do Porto de Santos-TIPS em uma área de 300 mil metros quadrados, pertencente à MRS e que fica em Cubatão (SP). "Esse terminal terá a função de ser um grande ’hub’, o qual vai operar como regulador e ordenador do fluxo ferroviário de contêineres para os vários terminais no porto de Santos", informa Quintella. Ele destaca que o TIPS será um terminal "bandeira branca", ou seja, irá operar com contêineres de todos os armadores e de todos os terminais na Baixada Santista.

A operação no TIPS já começará usando vagões "double stack" - comum em países como os Estados Unidos - e já está prevista pela MRS a encomenda de cerca de 100 desses vagões. Trata-se da estreia da empresa nesse modelo, levando um contêiner empilhado sobre o outro, que, segundo informa, aumenta a eficiência do transporte e reduz o seu custo. Para isso, a concessionária terá de investir na adaptação de seus trilhos para fazer essa operação.

Na segunda fase - num prazo de três anos -, a Contrail vai instalar quatro terminais intermodais ao lado da malha da MRS em vários pontos: uma na região central de São Paulo, outro no ABC paulista, um terceiro na zona leste da região metropolitana da capital e um quarto no vale do Paraíba. Quintella informa que esses terminais, juntos com o TIPS, de Cubatão, terão condições de movimentar 700 mil TEUs por ano.

Essa fase do negócio está vinculada aos investimentos de R$ 230 milhões que a MRS está realizando na Grande São Paulo e na descida da Serra para Santos para agilizar o fluxo de cargas da ferrovia. Esses aportes de recursos contemplam dois projetos. Um deles, a segregação da linha existente para passageiros, a cargo da estatal CPTM, e para cargas, da MRS, na região metropolitana, orçada em R$ 100 milhões. O outro é a re-capacitação dos trilhos da cremalheira, na serra, com a encomenda de locomotivas especiais que chegam em 2011. Isso vai permitir, inicialmente, triplicar o volume transportado, para 24 milhões de toneladas ao ano, incluindo a operação com contêineres no sistema "double stack" já a partir de 2012.

Eduardo Parente, presidente da MRS, vê no acordo uma "oportunidade fantástica" no plano de diversificação de cargas da empresa, muito concentradas em produtos mínero-siderúrgicos (minério de ferro, aço, carvão, sucata e bauxita). "O modelo apresentado pela Contrail é uma mudança radical na forma de operar com contêiner e traz competitividade que a ferrovia não tinha na competição com caminhões". Ele estima que, na plenitude do projeto, daqui a cinco anos, vai representar algo como 10% da carga total da MRS. Em 2009, foi apenas 1% das 135 milhões de toneladas que a ferrovia transportou. "Estamos apostando em bons ganhos do negócio no longo prazo".

A terceira etapa do contrato MRS-Contrail na operação de contêineres depende muito de uma ação de governos (federal e estadual) sobre a transposição de cargas, pelo meio ferroviário, dentro de São Paulo e municípios vizinhos da capital. Cada vez mais o compartilhamento de trilhos onde trafegam trens de passageiros e cargas torna-se inviável e o problema tende-se a agravar com a expansão do fluxo de passageiros e produtos.

A solução passa pela segregação de mais trechos das linhas operadas pela CPTM, na malha que pertence à MRS, e pela criação de um anel ferroviário na capital, dando passagem em direção a Santos. Para este último, há duas opções: uma ao norte, entre Jundiaí e Rio Grande da Serra, que tem a simpatia da MRS, e outro ao sul da cidade. A definição depende de um estudo encomendado ao Banco Mundial e que deve ficar pronto no próximo ano.

Isso resolvido, informa Quintella, a Contrail vai construir pelo menos mais dois terminais ao longo da linha da MRS. Um no bairro da Lapa (região oeste da capital) e outro em Jundiaí, a 60 km de São Paulo. Com isso, a empresa adiciona capacidade de transportar 500 mil TEUs ao ano, totalizando 1,2 milhão de TEUs.

De acordo com o empresário, há um espaço enorme a ser explorado no negócio de movimentação de contêineres, que no mundo já responde por 70% do comércio de cargas gerais. No Brasil, a atividade vem crescendo 15% ao ano nos últimos sete anos: atingiu 7 milhões de TEUs em 2008. Desse montante, 2,7 milhões de TEUs foram operados no porto de Santos, divididos entre os terminais Santos Brasil (47%), Libra (33%), Tecondi (12%) e Rodrimar mar (8%).

Ele destaca que Santos, mesmo responsável por dois quintos do total do país, fica em 43º lugar no ranking mundial, liderado pelo porto de Cingapura, com 30 milhões de TEUs. Em Santos, novos terminais estão em construção - Embraport, BTP e Brites, aptos a duplicar o volume operado hoje.

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