Concessão federal apenas tapa buraco

Publicado em
12 de Abril de 2010
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Dois anos após a concessão para a iniciativa privada, duas das principais rodovias do País, a Fernão Dias (BR-381) e a Régis Bittencourt (BR-116), continuam em estado precário. O preço baixo do pedágio fixado pelo governo federal não possibilita que a concessionária, o grupo OHL, faça os investimentos necessários para melhorar as condições de tráfego e as obras se resumem a tapa-buracos.

A Fernão Dias, que liga São Paulo a Minas Gerais, desafia a paciência dos motoristas. Em vários pontos, há redução de pista por causa de obras pontuais.

A pista sentido Belo Horizonte está interditada no km 79, em Mairiporã, na região metropolitana, desde março. Uma encosta cedeu e afetou a estrutura de um viaduto e o tráfego foi desviado para a área urbana. A reabertura da estrada pode demorar seis meses. Em outros dois pontos, no km 64 e no km 60, aterros cederam e a pista ameaça desabar.

Na Régis, principal ligação de São Paulo com o Sul, os investimento se resumem a contenções das barreiras e reparos de emergência. A obra mais esperada, a duplicação dos 30,5 quilômetros do trecho crítico na Serra do Cafezal, entre Juquitiba e Miracatu, a 138 km de São Paulo, foi adiada para 2013.

A reportagem percorreu os 299,7 quilômetros do trecho paulista na semana passada e contou 21 pontos de interdição parcial, com afunilamento ou desvio de tráfego. No km 508, em Cajati, um deslizamento entortou os pilares de um viaduto. A pista sul foi interditada e o trânsito flui por um desvio que também sofre erosão.

A cerca de 90 km dali, em Miracatu, um trecho de dois quilômetros na pista norte está inutilizado pela queda de um barranco. O trânsito foi desviado para a outra pista. Nos dois casos, não há previsão para a liberação.

Motoristas reclamam do asfalto irregular, principalmente entre Miracatu e Juquiá e na região de Barra do Turvo. "A cabine trepida e a carga sacoleja", conta Márcio Fontoura, de 37 anos, de Uruguaiana (RS). Em muitos pontos, os tapa-buracos não são suficientes. A pista requer o recapeamento, mas a concessionária tem optado pela reposição do piso afetado. A roçagem não dá conta do mato do canteiro central. Faltam passarelas para pedestres nos trechos urbanos de Miracatu, Jacupiranga e Cajati.

O chileno Luis Contreras, que transporta cargas entre Santiago e Rio de Janeiro, reclama da falta de estacionamento para caminhões. "Depois das 21h, os postos ficam lotados e não se consegue espaço nem pagando."

São comuns assaltos e saques após acidentes. Contreras conta que um caminhoneiro foi morto por assaltantes no dia 30. "Roubaram a carga de pneus."

A privatização não eliminou o comércio irregular nas margens da pista. Em Cajati, a reportagem flagrou crianças disputando moedas atiradas pelos motoristas na beira do asfalto. Na subida da Serra do Azeite, as carretas trafegam com marcha reduzida e os moradores pedem dinheiro.

No km 517, um menino com cerca de 9 anos, com uma mochila escolar, corria pela pista e apelava para o motorista de uma carreta. Depois, ele e um colega se arriscaram para catar as moedas que tinham caído no asfalto. O agente da Polícia Rodoviária Federal Roberto Cortez disse que há também casos de prostituição infantil. "A gente inibe, mas não dá para manter viaturas fixas nesses locais."

Durante os feriados da Semana Santa, a rodovia registrou 69 acidentes, 34 com vítimas. Foram 48 feridos e quatro mortos.

Duplicação. Só para fazer a duplicação da Serra do Cafezal, um investimento de mais de R$ 300 milhões, o grupo OHL explorará o pedágio durante 25 anos, contados a partir de novembro de 2007. No prazo total do contrato, a empresa terá de investir R$ 3,8 bilhões em melhorias em toda a rodovia.

O trecho da serra é um pesadelo: chegam a se formar comboios de carretas com até 10 quilômetros. A pista sinuosa, com asfalto deteriorado, admite velocidade máxima de 60 km/h, controlada por radares.

Por que remoções são tão lentas na BR-116 (Zero Hora)

Ontem, mais uma vez, milhares de motoristas passaram por horas de martírio num engarrafamento infernal que se formou após um acidente com uma carreta no viaduto da Metrovel, em Canoas. A remoção do veículo, que carregava 22 toneladas de maçãs, durou duas horas, mas até a chegada dos guinchos foram oito horas de espera, resultando em mais de 10 quilômetros de congestionamento.

Como já ocorreu repetidas vezes na rodovia, a retirada de veículos de carga tombados se transforma em uma novela mexicana. Somente neste ano, ocorreram pelo menos outros sete casos em que a remoção demorou.

Sem infraestrutura para executar o serviço, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) depende de outro órgãos ou dos próprios donos dos veículos para liberar as pistas. Pela legislação brasileira de trânsito, quando há feridos, o Detran é responsável pela remoção. Sem pessoas machucadas, como foi o caso de ontem, a função pertence aos donos dos veículos.

Foi o que ocorreu. Da 1h, quando a carreta tombou e bateu na mureta do viaduto, até as 11h, quando o veículo foi retirado, ocorreram sucessivas complicações. Parte do veículo ficou pendurado e havia o risco dele despencar. Segundo Alessandro Castro, do setor de Comunicação Social da PRF, o empregado negociou com um guincho durante a madrugada, mas pela manhã, outra empresa apareceu para fazer o serviço.

- O que pode ter ocorrido é que eles começaram a cotar os preços com outras empresas e demoraram até fechar com a que executou a remoção - acredita Castro.

Foram necessários três guinchos, com capacidade de 27 toneladas cada um, para remover o contêiner e o caminhão. Com meia-pista liberada, o trânsito ainda conseguia fluir, mas com o início da manhã, o grande movimento da BR-116 transformou a rodovia num inferno.

Dnit estuda contratação de serviço de remoção

A PRF anunciou que elaborará um relatório do acidente de ontem encaminhará à assessoria jurídica do órgão. O caso tem chances de parar no Ministério Público, que poderá apontar os responsáveis pela demora.

O imbróglio para retirar o veículo e o suplício dos motoristas foi quase uma reprise de um acidente com outra carreta, em agosto de 2009. Da mesma forma que ontem, o Detran e a PRF não tinham equipamentos, e a dona da carga teve de fazer a retirada, o que durou inacreditáveis 24 horas.

Se a BR-116 tivesse uma estrutura semelhante a da freeway, com serviço de socorro e remoção disponível, a situação poderia ter sido diferente. O Departamento Nacional de Infraestrura de Transporte (Dnit) estuda a contratação de uma empresa, mas não há prazo.

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