Concentração logística: mito ou verdade? por Marco Antonio Oliveira Neves*

Publicado em
26 de Julho de 2010
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É grande a apreensão de muitos executivos e empresários do setor de prestação de serviços de logística e transportes diante de fatos recentes no mercado, no qual grandes fundos de investimentos ou empresas informam ou manifestam o interesse em adquirir uma determinada Transportadora ou Operador Logístico.

Principalmente entre as pequenas e médias empresas, existe uma grande preocupação quanto ao futuro. Existirá espaço para sobrevivência e crescimento, diante da formação de grandes grupos empresariais? Devo manter ou vender o meu negócio? Se continuar, qual a estratégia a ser adotada, diante dessa realidade?

Vamos aos fatos. O mercado, obviamente, apresenta grandes oportunidades, tanto para as multinacionais logísticas (TNT, Fedex, UPS, DHL, etc.) como para os novos grupos nacionais em formação (AGV Logística, Tegma Logística, Júlio Simões, Rapidão Cometa, Grupo Luft, Santos Brasil, etc.). Em um mercado em evolução, distante ainda de atingir sua maturidade, dentro de uma excepcional perspectiva de crescimento econômico, é normal testemunharmos movimentos de fusão e aquisição de empresas. Nesse cenário altamente positivo, também não é de se estranhar o fato de alguns fundos de investimentos norte-americanos e europeus manifestarem o interesse em adquirir empresas brasileiras.

Alguns outros fatores também interferem de certa forma nessa questão. Um deles está relacionado à sucessão das empresas. A quase totalidade das Transportadoras e Operadores Logísticos nacionais tem origem familiar, e ainda encontram-se nas mãos do fundador ou de seus descendentes diretos. Poucas se profissionalizaram e mesmo aquelas que buscaram uma alternativa de gestão empresarial, ainda dependem de algum membro da família, via decisões de um estruturado Conselho de Acionistas ou Conselho de Família. Muitas dessas empresas estão enfrentando grandes dificuldades nessa transição entre gerações e na migração de um modelo familiar para um modelo profissional, e acabam concluindo ser mais viável a venda da empresa.

Também colabora para esse movimento de fusões e aquisições o fato de muitas empresas apresentarem dificuldades na rentabilidade do seu negócio. Os resultados obtidos nos anos 70, 80 e 90 dificilmente se repetirão novamente, e muitas Transportadoras e Operadores Logísticos, decepcionadas com seus negócios, acabam optando por vender a empresa ou receber o aporte de recursos de sócios externos para fazer frente aos novos desafios do mercado.

A baixa rentabilidade do negócio agora não permite mais a administração da empresa na modalidade de tentativas e erros. A realidade de mercado é outra, mais complexa e menos suscetível a falhas. Muitas empresas não interpretaram corretamente as mudanças do mercado e atualmente enfrentam enormes dificuldades na gestão da operação (principalmente transportadoras de cargas fracionadas), na venda e na pós-venda, na administração do fluxo de caixa e na contratação e retenção de talentos (faltam motoristas, conferentes, líderes operacionais, vendedores, etc.).

A paixão pelo negócio e a relação quase que totalmente emocional com a empresa vem sendo, aos poucos substituída por uma visão racional e realista. O que é melhor, sofrer com os percalços de uma indústria combalida e pouco valorizada ou vender tudo e investir em imóveis, que apresentam maior rentabilidade e exigem menos trabalho? É mais fácil lidar com diversos Clientes ou com alguns inquilinos? Muitos empresários do setor, motivados pelo boom do setor imobiliário, acabam se desfazendo de seu negócio para direcionar seus esforços e recursos financeiros em novas empreitadas.

Porém, vender não é fácil. Afinal, quanto vale a sua empresa? Esse tem sido um dos maiores entraves na conclusão dos negócios. Ainda é muito difícil estabelecer o real valor de uma empresa de logística e transportes. Não basta considerar apenas o valor de ativos operacionais, será necessário desenvolver uma "fórmula mágica" que considere a marca da empresa e os contratos estabelecidos com seus Clientes, a rentabilidade atual e as perspectivas de negócios futuros.

O que restará então ao corajoso e perseverante empresário do setor de logística e transportes? Restará um excepcional mercado, que crescerá acima de 15% ao ano nos próximos anos, mas que cada vez mais exigirá especialização e maior atenção a aspectos qualitativos, relacionados ao planejamento estratégico, atendimento ao Cliente (não estamos falando de um SAC, mas de um estruturado GRC - Gestão do Relacionamento com o Cliente), qualidade, recursos humanos (esqueça o DP - Departamento Pessoal), precificação dos serviços e custeio da operação, inteligência de mercado, etc.

Haverá espaço para todos. Alguns embarcadores buscarão grandes corporações; outras preferirão empresas menores, mas fáceis de lidar, mais ágeis, mais "compreensivas" e mais flexíveis.

A questão não está no tamanho da sua empresa, mas no foco dado aos seus Clientes, no atendimento de suas necessidades e expectativas. As grandes empresas reunirão condições para personalizar soluções logísticas? Conseguirão atender pequenos e médios clientes?

Para que você tenha uma idéia mais clara dos rumos do processo de consolidação, nos Estados Unidos, 70% do mercado encontram-se nas mãos de pequenos e médios Operadores Logísticos e Transportadores. Portanto, não haverá fusão ou aquisição que venha concentrar grandes fatias de mercado nas mãos de determinada empresa. Isso até poderá ocorrer momentaneamente em um dado segmento específico, mas durará pouco tempo, pois monopólios e oligopólios pouco interessarão aos Clientes, que buscarão alternativas no mercado. As barreiras para a entrada de novas empresas serão maiores, obviamente, mas sempre haverá espaço para a ascensão de novos concorrentes.

E é difícil consolidar um mercado, no qual contamos com mais de 27.000 transportadoras que possuem 5 ou mais veículos em sua frota.

Ainda temos um longo caminho a percorrer nesse mercado. Sequer cobrimos 30% das possibilidades existentes. Por isso, reavalie o seu portfólio de serviços e veja o que você pode fazer a mais por (e para) seu Cliente. E não enxergue apenas o seu Cliente; visualize toda a cadeia de abastecimento no qual ele está inserido. Mapeie fornecedores primários e secundários, bem como os canais de distribuição e clientes finais (clientes do seu cliente).

E especialize-se. Identifique mercados específicos. Não basta dizer que vou operar no setor Químico ou Alimentício. É preciso identificar nichos de mercado dentro de cada um dos setores.

Daqui para frente não se assuste e nem se incomode mais com a notícia de que "A" comprou "B" e "C". Isso continuará acontecendo. Não tanto quanto alguns "gurus" e "profetas" do apocalipse alardeiam, mas também não tão pouco quanto alguns empresários e executivos gostariam de ver.

*Artigo escrito por Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda

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