Tome-se uma recessão prolongada. Tempere com uma grande quebra de safra e acrescente um acentuado excesso de caminhões. Para o setor de transporte rodoviário de cargas o resultado da combinação destes três ingredientes indigestos foi um grande aumento de defasagem nos fretes.
Pesquisa realizada pela NTC&Logística com quase duzentas transportadoras revela que, no caso das cargas completas (lotação), esta defasagem atingiu em julho de 2016, nada menos que 22,9%. No caso das encomendas, a defasagem, embora menor, ainda é preocupante: chega a 9,81%.
Lembre-se que esta defasagem compara os preços de mercado com o custo do transportes e que este custo não inclui impostos e taxa de lucro. Portanto, na prática, a diferença deve ser ainda maior.
Este ano, 41% das transportadoras tiveram de dar descontos nos fretes praticados. Outras 40% foram obrigadas a congelar os preços. As demais conseguiram reajustar preços, porém, abaixo da inflação anual do setor, que chegou a 9,08% para as cargas fracionadas e 7,30% para o setor de lotações.
Contribuíram para esta situação a grande recessão que assola o setor industrial e a quebra de 8,45% na safra de 2016, que, segundo o IBGE, deverá cair dos 209,5 milhões de toneladas de 2015 para 191,8 milhões de toneladas este ano.
Outro fator que travou o aumento de fretes foi a facilidade de financiamento de caminhões de vigou nos últimos anos. Graças a isso, não só transportadoras e autônomos, como até quem não era do ramo aventurou-se a comprar caminhões, sem que os antigos fossem retirados de circulação. Hoje, estima-se que existam mais de 300 mil caminhões sobrando no país.
Tal situação contrasta com a elevação dos insumos do setor nos últimos doze meses, especialmente o diesel (7,27%), despesas indiretas (9,04%), salários (8,72%), manutenção (9,49%) e lavagem (8,40%).
Embora, em menor escala, outros insumos também têm subido: óleo de câmbio (2,49%), óleo de cárter (2,26%), cavalo mecânico (0,65%), semirreboque (1,10%), rodoar (0,40%) e seguros (0,71%).
O único insumo que baixou de preço foi o Arla 32, com que de 18,5% nos últimos doze meses e 27,53% nos últimos 24 meses.
Felizmente, a economia está reagindo e as previsões mais otimistas indicam que poderá voltar a crescer em 2017, criando condições menos adversas para o repasse aos preços dos aumentos de custos e das defasagens.
Evolução dos custos do transporte de carga fracionada nos últimos 12 meses |
|
Item |
% |
INCT– Índice Nacional do Custo do Transporte de Lotação – 800 km |
7,30 |
Óleo diesel S-500 |
7,27 |
Óleo diesel S-50 |
6,71 |
Arla 32 |
-18,50 |
Óleo de Câmbio |
2,49 |
Óleo de Cárter |
2,26 |
Despesas indiretas |
9,04 |
Salário de motorista rodoviário |
8,72 |
Cavalo mecânico |
0,65 |
Semirreboque furgão |
1,10 |
Rodoar |
0,40 |
Pneu 295/80R22 |
0,71 |
Lavagem |
8,40 |
Seguros |
0,71 |
Manutenção cavalo mecânico |
9,49 |
Fonte: DECOPE/NTC |
Evolução dos custos do transporte de lotação nos últimos 12 meses |
|
Item |
% |
INCTF– Índice Nacional do Custo do Transporte de Lotação – 800 km |
9,03 |
Salários de motorista e ajudante – |
8,72 |
Despesas administrativas e de terminais |
8,33 |
Furgão para truque |
1,06 |
Furgão para caminhão leve |
2.40 |
Rodoar para truque |
1,26 |
MBB Atron 2322 trucado |
-1,01 |
MBB Accelo 815 |
1,88 |
Pneu 275R75 22 |
0,33 |
Pneu 207 R75 17,5 |
3,40 |
Recapagem pneu 1000 R20 |
1,06 |
Recapagem pneu 275r74 22 |
3,40 |
Lavagem furgão truque |
8,40 |
Lavagem furgão leve |
8,40 |
Seguro MBB Atron |
-0,67 |
Seguro MBB Accelo |
1,93 |
Manutenção MBB Atron |
9,49 |
Manutenção MBB Accelo |
9,49 |
Fonte: DECOPE/NTC |