Com MP dos Portos, Brasil deve avançar no ranking mundial

Publicado em
21 de Maio de 2013
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O Brasil vive um paradoxo no setor portuário. Em terminais para movimentação de minério de ferro, o país está na liderança do ranking mundial, ocupando o primeiro, o segundo e o quinto lugares. Entre os portos que movimentam contêineres, desce a ladeira para ocupar a 35ª posição, na lanterna dos 40 portos e terminais listados em levantamento feito pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Investimentos em ampliação de capacidade, modernização de equipamentos e melhorias no sistema de gerenciamento eletrônico de carga poderiam elevar o Brasil à 17ª posição em três anos. Um salto que, segundo especialistas, pode ser favorecido com a MP dos Portos, aprovada semana passada no Congresso.

Para Riley de Oliveira, especialista em portos da Firjan e autor do estudo, essa situação reflete a crescente especialização do Brasil na exportação de commodities, o que acabou privilegiando investimentos nos terminais que movimentam minério e grãos, em detrimento dos que movimentam contêineres, com cargas de maior valor agregado, como automóveis.

— É fundamental para o negócio de algumas empresas exportadoras ter portos eficientes. Isso as motivou a investir. No caso dos contêineres, cuja movimentação se concentra em portos públicos, o país ainda precisa melhorar para elevar sua competitividade — diz Oliveira.

O levantamento da Firjan considera apenas a infraestrutura portuária, excluindo acesso ao porto e burocracia, dois dos principais problemas do setor hoje. Foram analisados nove itens, como equipamentos, sistema de monitoramento de cargas e agendamento de caminhões, tamanho do pátio e calado, entre outros. As informações foram compiladas a partir de órgãos internacionais como Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Banco Mundial.

Quem aparece no 35º lugar no ranking de portos de contêineres é o Porto de Santos (SP), o único brasileiro da lista. Segundo Riley, embora os equipamentos estejam entre os melhores da América do Sul, ficam aquém dos usados em Europa, EUA e Ásia. Conseguem empilhar, em média, seis contêineres. No Porto de Hong Kong (3º colocado), as pilhas chegam a 13. Além disso, a movimentação de carga é modesta se comparada aos primeiros colocados. Santos movimentou 3,2 milhões de TEUs (medida usada para os contêineres) em 2012. O Porto de Cingapura e o Porto de Xangai, os dois primeiros da lista, têm capacidade para cerca de 25 milhões de TEUs.

Nos cálculos do especialista, investimentos em tecnologia e os já anunciados investimentos nos terminais da Embraport (da Odebretch) e da BTP, ambos em Santos e que vão ampliar a capacidade do porto para oito milhões de TEUs em 2015, seriam suficientes para fazer o país galgar quase 20 posições, alcançando a 17ª. Os especialistas destacam, porém, que o Brasil jamais figurará entre os primeiros colocados nesse ranking, pois tem limitações físicas. Os portos de Cingapura e Xangai têm calado de até 30 metros, o dobro do de Santos, o que lhes permite receber os maiores navios do mundo.

A Codesp, que administra o Porto de Santos, diz que cabe a ela apenas gerenciar o tráfego interno de caminhões, cabendo às empresas que exploram os terminais, como a Santos Brasil, de Daniel Dantas, o agendamento e o controle da movimentação das cargas. A empresa responde por 55% da movimentação de contêineres do porto, mas não quis comentar o estudo.

MP pode destravar investimentos
Para Claudio Loureiro, diretor da Centronave, que reúne companhias de navegação responsáveis por 75% do comércio exterior brasileiro, a MP dos Portos, ao abrir a possibilidade de terminais privados movimentarem cargas de terceiros, vai descentralizar a movimentação de contêineres:

— Com a MP, acredito que projetos parados saiam do papel, como o terminal privado da Log-in em Manaus. Há demandas no Norte.

O presidente da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de Uso Público (Abratec), Sérgio Salomão, frisa, no entanto, que o texto da MP é dúbio quanto à antecipação da renovação dos contratos em vigor, defendida pela associação como garantia para realizar investimentos.

Os dois terminais de minério que são considerados os melhores do mundo são Ponta da Madeira (MA) e Tubarão (ES), ambos da Vale. O quinto é o porto de Itaguaí (RJ), onde a mineradora também atua. O estudo da Firjan dividiu os portos e terminais em cinco categorias, além de minério de ferro e contêiner. No caso do carvão, Itaguaí aparece em quinto. Em grãos, Rio Grande (RS) está em sétimo, Tubarão (ES) em oitavo e o de Santos (SP), em 19º. Na categoria petróleo, o Brasil sequer aparece.

Se considerada a burocracia, outro levantamento da Firjan mostra que o Brasil fica em 106 º entre 118 países, com tempo médio de liberação de carga de 5,5 dias. A média mundial é de três dias.

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