Coamo prevê receita de até R$15 bi em 2018, com alta da soja e frota própria

Publicado em
25 de Julho de 2018
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Uma conjunção de fatores positivos pode elevar o faturamento da Coamo, maior cooperativa agrícola do Brasil, em cerca de 35 por cento em 2018, para até 15 bilhões de reais, disse à Reuters seu presidente, um ícone do agronegócio do Brasil.
 
José Aroldo Gallassini, um dos fundadores da cooperativa com sede em Campo Mourão (PR) nos anos 70, disse que a Coamo ampliará seus ganhos neste ano contando com melhores preços da soja no Brasil, que está sendo beneficiado pela disputa entre EUA e China.
 
Além disso, a cooperativa que atua no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul colhe agora os frutos de uma retenção de vendas da produção de grãos do ano passado --em 2018, a safra está sendo comercializada a melhores valores que em 2017, com a ajuda também do câmbio favorável.
 
Não bastasse a conjuntura de mercado positiva, a Coamo praticamente passou ilesa à confusão gerada pela implementação pelo governo brasileiro de uma tabela de frete rodoviário, uma vez que possui uma grande frota própria, evitando custos adicionais com o transporte que estão ameaçando multinacionais do agronegócio como a Cargill.
 
"O cooperado não vendeu a produção total do ano passado, deixou um pouco para este ano. Assim, devemos ter faturamento bem maior em 2018. Vai para 14 a 15 bilhões... agora está vendendo bem, e está vendendo volume", afirmou Gallassini, em entrevista por telefone.
 
O crescimento na receita da Coamo, que fechou 2017 com 11,07 bilhões de reais, queda de 3,3 por cento ante 2016, ocorrerá apesar de uma redução de 30 a 35 por cento na safra de milho afetada pela seca, que deverá levar a cooperativa a reduzir seu recebimento total de grãos para um patamar inferior às históricas 7,66 milhões de toneladas de 2017.
 
 
"Agora tem esse aspecto da China, a briga com o americano favoreceu os preços. Será um ano bom apesar do tumulto", disse ele, referindo-se às condições do mercado de soja em Chicago, que atingiu mínimas de cerca de dez anos neste mês, diante de tarifas de 25 por cento impostas pela China à soja dos EUA a partir de julho.
 
A situação vem sendo compensada por prêmios maiores pela soja do Brasil, que deverá elevar o plantio da oleaginosa a partir de setembro, de olho em um maior mercado chinês com as restrições aos norte-americanos pelo principal comprador global.
 
Do total que a cooperativa recebe, a soja representa a maior parte, ou quase cerca de 5 milhões de toneladas. E o produto está sendo negociado pela Coamo a valores muito maiores do que no ano passado.
 
"A soja chegou a até 80 reais (a saca), conforme a região... Ano passado teve uma parte vendida a 60, outra a 70 reais", comentou ele, ressaltando que as cotações do milho também estão muito mais altas do que em 2017, pela quebra da segunda safra em função da seca, que tem ameaçado agora o trigo.
 
"Em relação ao custo de produção, esse valor está muito bom, o cooperado está vendendo... Orientamos para vender, para fazer a média da sua produção. Se jogar, pode ganhar muito, mas também pode perder muito...", ponderou ele, ressaltando que o produtor precisa se precaver, até porque de uma hora para outra os norte-americanos podem se acertar com os chineses.
 
Com boa rentabilidade, a expectativa é de que os produtores da região da Coamo no Paraná e Santa Catarina invistam na próxima safra de soja, mas não em aumento de plantio, até porque essas áreas já têm limites de uma agricultura consolidada e o milho é deixado para a chamada "safrinha".
 
Em Mato Grosso do Sul, sim, haveria possibilidade de algum incremento de plantio.
 
"O cooperado já vendeu 15 por cento da safra (de soja) que ele vai plantar, por causa dos bons preços", disse Gallassini, comentando que situação de tamanha venda antecipada na Coamo é incomum para o plantio que começa em setembro.
 
FRETE
 
A Coamo, assim como todo o Brasil, sofreu os impactos da paralisação dos caminhoneiros em maio, mas tem lidado bem com consequências do protesto.
 
A cooperativa tem conseguido driblar os efeitos dos maiores custos gerados pela instituição de uma tabela de frete mínimo. Isso porque conta com grande frota própria.
 
"Temos 780 caminhões, compramos mais 151 caminhões... está para chegar, um pouco é aumento de frota e outro é para renovar a frota mesmo", revelou Gallassini, lembrando ainda que a cooperativa conta também com 400-450 veículos da chamada "frota dedicada", que são veículos contratados por todo o ano previamente.
 
A cooperativa ainda usa a chamada "frota spot" ou eventual, em momentos de maior volume.
 
"Tem que mudar essa tabela, não estão fluindo os fretes (do setor)... No caso da Coamo, não vamos ter esse problema... É uma pena que chegou neste impasse", disse o presidente da Coamo, que espera uma solução da parte do governo ou da Justiça.
 
A compra dos 151 caminhões pela Coamo foi planejada antes da paralisação dos caminhoneiros, notou o executivo, lembrando que a renovação e o crescimento da frota da cooperativa visam garantir a expansão dos negócios.
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