Enfrentar enormes filas de carros em quase todas as vias faz parte da rotina dos paulistanos. Encarar a lentidão no tráfego a qualquer hora e em qualquer dia da semana é um problema que todo motorista que dirigi pela maior cidade do País conhece bem, mas o que a maioria deles talvez não saiba é a verdadeira extensão do congestionamento enfrentado.
Órgão oficial da prefeitura para medição dos índices de engarrafamento, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) virou alvo de críticas de especialistas pela discrepância apresentada entre seus números e os registrados por empresas privadas. Atualmente, a companhia monitora apenas 5,4% das vias da cidade. São fiscalizados pela CET 868 km dos 16 mil km de vias existentes em São Paulo. Esse monitoramento restrito faz com que especialistas em trânsito como Horário Figueira afirmem que "não dá mais para recorrer à medição" da CET.
De acordo com o especialista, a metodologia aplicada pela companhia foi desenvolvida em uma época em que havia trânsito apenas na região central da cidade.
— O método deles é usado há cerca de 30 anos. Eles sobem em prédios e medem com binóculos apenas o centro expandido. E o resto da cidade? A CET diz que mede as mais importantes [vias], mas hoje em SP não existe via mais ou menos importante. Os bairros com congestionamento também têm problemas. Esse método deles foi importante na sua época, mas hoje existe congestionamento em todos os bairros, no Horto Florestal até a ponta lá da represa do Guarapiranga.
Diferença de índices
No dia 1º de junho deste ano, a CET registrou recorde histórico de congestionamento na cidade. Naquela sexta-feira, às 19h, a companhia contabilizou 295 km de lentidão em São Paulo. No mesmo dia e horário, o Maplink - empresa privada que também calcula os índices de trânsito e utiliza metodologia diferente da CET - mostrou que a capital teve efetivamente 507 km. Curiosamente, para o Maplink este nem foi o dia com maior lentidão registrada.
A enorme diferença nos números ocorre porque o Maplink diz abranger em sua medição praticamente todas as vias da capital paulista. Segundo o diretor comercial Frederico Hohagen, a empresa recebe informação de GPS de carros. Esses dados são rastreados via satélite, o que permite verificar a situação em todos os bairros.
— Nós coletamos os dados dos carros, processamos e atualizamos a situação do trânsito de 15 em 15 minutos. Recebemos informações de grandes vias, assim como das menores.
Para tentar se livrar do trânsito e da falta de informação correta sobre onde estão os congestionamentos, a designer gráfica, Maíra Menezes, 26 anos, disse que de um ano para cá adotou o sistema do Google Maps. Antes disso, ela conta "que cansou de ouvir" na rádio que determinado lugar tinha trânsito, e na verdade não tinha ou ao contrário.
— Com o meu Iphone eu acesso esse serviço do Google e consigo ver se o corredor está livre. Moro na zona norte e trabalho na zona sul. Depois que descobri esse sistema, consigo chegar em casa na volta em meia hora. Antigamente gastava cerca de uma hora e meia para fazer o trajeto.
Fins de semana
O especialista Horário Figueira critica a CET ainda por não fazer o controle do trânsito também aos fins de semana. Segundo ele, sábado está entrando para a lista dos dias mais complicados da semana. Opinião compartilhada por Hogahen.
— Por volta das 11h, nos observamos o maior pico do sábado. A noite costuma ter mais trânsito neste dia que nas segundas, terça e quartas-feiras.
Segundo o Maplink, atualmente, a região com maior congestionamento no horário de pico é a zona leste, seguida pela zona norte.
Outro lado
Procurada pelo R7, a CET informou que o ombudsman da empresa não poderia atender à reportagem porque “a atuação dele está focada em temas que envolvam a segurança no trânsito”. Questionada se pretende adotar sistemas mais modernos de medição, a empresa não se pronunciou até a publicação desta notícia.