O otimismo generalizado com a economia global vai ajudar a atividade no Brasil e reforça as projeções de recuperação para este ano. Segundo economistas, o cenário externo positivo e a onda de euforia nas bolsas mundiais são um impulso não só às exportações, que vão se beneficiar dos preços maiores de commodities, mas principalmente às condições financeiras, que, em nível expansionista, permitem desempenho mais forte do consumo.
Calculado pelo UBS, o Índice de Condições Financeiras (ICF) agrega nove índices: bolsa em termos reais, câmbio real, índice de volatilidade (VIX), juros longos e curtos (de cinco anos e um ano), expectativas de inflação, agregados monetários, empréstimos do sistema financeiro e investimentos estrangeiros diretos no país (IDP). O indicador entrou em terreno neutro em dezembro do ano passado e passou para 0,1 em janeiro. Segundo o economista Fabio Ramos, o ICF está refletindo o momento positivo da economia global e costuma antecipar a tendência dos indicadores reais de atividade em cerca de dois a quatro meses. Em seus cálculos, nos níveis atuais, o ICF aponta para expansão de 4% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), na comparação com igual período do ano anterior, no segundo trimestre de 2018.
Assim, a onda de euforia nas bolsas mundiais, ancorada nas expectativas de que o crescimento global será maior do que o previsto atualmente, reforça a projeção de que a economia brasileira vai avançar 3,1% este ano, diz Ramos. "E começa a sugerir que o crescimento pode ser um pouco maior do que isso."Na ponta mais otimista do mercado, Cristiano Oliveira, do banco Fibra, estima que o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer entre 3,8% e 4,1% em 2018, previsão que, de acordo com ele, já embute a ajuda das exportações à atividade. O crescimento sincronizado de economias desenvolvidas e emergentes vai contribuir para a aceleração do comércio mundial, o que favorece a alta dos preços de commodities e, portanto, dos termos de troca, diz. "Historicamente, o Brasil cresce em períodos que o comércio internacional aumenta."
A contribuição das exportações, já líquida das importações, deve ser levemente negativa para o PIB brasileiro este ano, pondera o economista, porque a recuperação doméstica vai aumentar o volume de compras do exterior. Além disso, no ano passado, a ajuda do setor externo ao PIB foi atipicamente elevada devido às safras recorde, que também são em parte exportadas. Mesmo assim, diz, o crescimento brasileiro será favorecido pelas exportações em 2018. A incerteza gerada pelas eleições presidenciais poderia limitar esse efeito positivo, afirma Oliveira, mas isso não está acontecendo."
O canal de transmissão seria o risco-país, que atualmente está no menor patamar dos últimos anos", afirmou.Para Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a maré favorável do setor externo está ajudando a controlar a percepção do mercado sobre as incertezas domésticas, como as dúvidas sobre a Previdência. Com a calmaria na taxa de câmbio, na bolsa e nos preços de ativos, o senso de urgência em relação à reforma diminui, avalia Ribeiro.Segundo o pesquisador, a principal ajuda do setor externo à economia brasileira não vem do canal de exportações - que representam apenas 12,4% do PIB - mas sim do "efeito riqueza" gerado pela valorização de ativos.
Um mundo com crescimento elevado, juros e inflação em patamar baixo é um "vento de cauda" relevante para a atividade doméstica, comenta. "Não há pressão de preços lá fora e os juros mais baixos ajudam a disciplinar a taxa de câmbio."O dólar mais baixo funciona como um impulso à demanda das famílias, diz Ramos, do UBS, via aumento da confiança e também redução dos preços de bens e alimentos derivados de commodities. Também há incentivo aos investimentos, já que máquinas e equipamentos importados ficam mais baratos. "O dinheiro proveniente das exportações também circula na economia."