Cenário ’otimista’ indica perda de R$ 58 bi em setores intensivos em água e energia

Publicado em
02 de Fevereiro de 2015
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A consultoria GO Associados se debruçou sobre a Pesquisa Anual da Indústria (PIA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para estimar o impacto direto e indireto de um eventual racionamento duplo - água e energia - sobre a produção dos setores intensivos no uso desses insumos. E as contas mostram que uma parada de produção equivalente a três dias na indústria pode representar uma perda de valor para a economia de R$ 58,7 bilhões, que representa uma queda de 1,3% no valor adicionado do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Essa é a conta "otimista" do impacto de um eventual racionamento no uso desses insumos, explica Gesner Oliveira, diretor da consultoria. Se a perda chegar a seis dias sem produção, a conta sobe para um impacto de 2,7% no valor adicionado do PIB, equivalente a R$ 117 bilhões. Os três dias de produção, explica Oliveira, foram arbitrados para permitir o cálculo da perda, mas se basearam na queda de 0,6% do PIB industrial entre 2000 e 2001 (primeiros seis meses do racionamento). Três dias, diz ele, representam 1% da produção anual da indústria (252 dias úteis), e como além de energia, a conta inclui água, 1% pareceu representativo do que pode ocorrer.

A conta, argumenta Oliveira, é conservadora pois considera só o impacto direto da perda na produção industrial dos setores intensivos em água e energia e soma a ela os efeitos indiretos e de renda sobre agricultura e serviços. "Não calculamos o efeito direto sobre esses dois setores", diz ele, lembrando que eles são intensivos em água.

Na primeira hipótese (de perda de R$ 58 bilhões), a previsão atual da GO Associados - de um crescimento de 0,5% no PIB deste ano - cederia lugar para queda de 0,5%. E junto com ela viria
uma perda de 841 mil empregos e de R$ 5 bilhões em arrecadação de impostos.

Na conta pessimista, seriam perdidos 1,7 milhão de empregos (entre diretos, indiretos e efeito renda) e R$ 10 bilhões em impostos.

Oliveira explica que a partir da PIA eles identificaram os setores intensivos em consumo de água e energia e mensuraram (com uso da matriz-insumo produto, também do IBGE) o impacto de diferentes tamanhos de racionamento sobre o valor agregado de cada um desses setores, considerando também sua localização. "Esses efeitos negativos podem ser atenuados por medidas que promovam a eficiência no consumo tanto de água como de energia", lembra Oliveira. E ele avalia que o espaço para ganhos desse tipo é grande.

Baseado na PIA/IBGE de 2010, Oliveira diz que existe uma sobreposição nos setores mais intensivos em consumo de água e energia. São eles metalurgia, alimentação, veículos automotores, produtos químicos, minerais não metálicos.

Vestuário completa a lista no uso da água e coque/refino entra na lista do uso de energia. Esses serão os setores mais afetados, diz ele. "A própria indústria de saneamento é eletrointensiva, as novas tecnologias para tratamento usam muita energia", acrescenta Oliveira, que já foi presidente da Sabesp.

Vinicius Botelho, do grupo de conjuntura do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), lembra que em 2001 a economia desacelerou de 4% ao ano para 0,5% diante do racionamento de 20% do consumo total por sete meses e meio. A maior parte desse recuo decorreu do "apagão". "Agora, nossos números indicam contração entre 1 ponto e 1,5 ponto para um racionamento homogêneo de 5% da carga durante um ano", diz

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