CCR permanece em estradas, mas busca rotas alternativas

Publicado em
06 de Agosto de 2010
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Maior companhia de concessões rodoviárias do país por faturamento, a CCR está em busca de outras rotas. Sem tirar um pé das estradas, segmento que responde por quase 90% de seus negócios, a companhia reforçou a estratégia de prospecção de novos negócios e se prepara para lançar mais uma empresa, a Samm, desta vez na área de transmissão de dados, aproveitando a rede de fibra óptica que já possui em quase toda extensão de sua malha. Além disso, está montando uma filial no Rio de Janeiro, que será dedicada à busca de oportunidades na área de mobilidade urbana. "Lá atrás, estabelecemos que nosso negócio é viabilizar investimentos e serviços em infraestrutura", afirma o presidente da companhia, Renato Vale. "É isso que sabemos fazer bem: somos bons desenvolvedores de negócios", acrescenta.

Essa visão de negócios, conforme o executivo, está refletida na aquisição da Rodovias Integradas do Oeste, a SPVias, anunciada nesta semana, que permite a conexão da malha da CCR RodoNorte à da CCR ViaOeste. "A SPVias é estratégica porque completa a interligação de nossa malha desde o Paraná, passando por São Paulo, até o Rio de Janeiro", argumenta Vale. "A partir de agora, vamos olhar (outras oportunidades) com muito cuidado, porque os retornos não são mais tão atraentes."

Por 73,45% do capital da concessionária, que opera um trecho de malha complementar ao da CCR no Estado de São Paulo, a empresa deve desembolsar R$ 947,2 milhões - outros 26,55% deverão ser adquiridos, elevando o negócio a cerca de R$ 1,3 bilhão. As conversas com a SPVias, lembra Vale, tiveram início em 2006, porém somente prosperaram a partir do fim do ano passado. "Por ser uma aquisição no mercado secundário (de empresa que detém concessão), a taxa de retorno ainda é adequada", acrescenta.

O foco em taxas de retorno atrativas remonta à própria origem da CCR, que iniciou-se no mercado de concessões rodoviárias quando ainda não havia regulação, os riscos eram maiores e, dessa forma, o retorno era superior ao oferecido pelos trechos leiloados mais recentemente. "Naquela época, não havia nem moeda", brinca Vale, referindo-se à Unidade Real de Valor (URV), criada em 1994, durante a transição para o real.

Criada em 1998, quando controladores de quatro concessionárias de rodovias - ViaLagos (RJ-124 e RJ-106), AutoBAn (sistema Anhanguera-Bandeirantes), NovaDutra (Via Dutra) e Ponte (Ponte Rio-Niterói) - decidiram unir forças, a CCR iniciou suas operações no ano seguinte. Em 2000, abriu capital na BM&FBovespa e, um ano depois, recebeu a portuguesa Brisa como parceira estratégica. Hoje, estão no bloco de controle da holding as construtoras Andrade Gutierrez (16,2%), Camargo Corrêa (16,3%) e Soares Penido Concessões (13%). A Brisa, que detém 16,3% das ações, já anunciou a saída da holding, por meio da venda de 6% dos papéis aos próprios controladores da CCR e oferta dos 10,35% restantes em operação privada. A transação, contudo, depende de autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e da Artesp, órgão regulador paulista, uma vez que há alteração no bloco de controle. Conforme Vale, o sinal verde deve ser dado na próxima semana.

A expansão do portfólio da CCR ganhou força em 2004, após a segunda oferta pública de ações, com a aquisição da ViaOeste, em São Paulo, que administra 168,6 km de rodovias entres as quais Castello Branco e Raposo Tavares. Desde então, a concessionária, que passará a administrar mais de 2,4 mil km de rodovias com a SPVias, venceu, junto com parceiros, a concorrência para operação e manutenção da Linha 4 do Metrô de São Paulo, e obteve a concessão de operação do trecho Oeste do Rodoanel. Sobre novas investidas em concorrências do metrô paulistano, Vale é cauteloso. "Vamos primeiro observar se o modelo adotado na Linha 4 funciona. Se funcionar e puder ser replicado, vamos avaliar", afirma. O mesmo tom é adotado quando o tema são os trechos Sul e Leste do Rodoanel, cujo edital para concessão foi publicado na quarta-feira. "Vamos analisar. É muito dinheiro".

Empreendimentos no exterior, acrescenta Vale, podem voltar a figurar no portfólio da CCR, que vendeu a posição de 10% que tinha na americana Northwest Parkway à Brisa, em 2009. Diante da crise, e do enxugamento do crédito no mercado internacional, muitas empresas estão dispostas a abrir mão de ativos em troca de caixa. Nesse contexto, boas oportunidades podem surgir para a holding brasileira. "Estamos olhando possibilidades no Chile e no México", conta.

Fora das estradas, a CCR apostou em serviços de tecnologia de pagamento, por meio da compra de participação na STP, que opera um sistema eletrônico de cobrança de pedágio e estacionamento, e, mais recentemente, à prestação de serviços de inspeção veicular, com a compra de 45% da Controlar. Esses serviços, que integram o segmento chamado como mobilidade urbana, deverão estar no foco da concessionária nos próximos anos. "Não vamos sair das concessões rodoviárias, porque pode haver boas oportunidades. Mas nosso foco está voltado a negócios que ofereçam taxa de retorno maior", resume Vale.

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