Carros velhos são 20% da frota

Publicado em
18 de Março de 2010
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O número de carros aumenta cerca de 8% todos os anos no Paraná. Mas nem só de carros novos vive o trânsito do estado. A cada 5 veículos, 1 tem mais de 20 anos de fabricação. O pagamento parcelado em até 80 vezes e a redução do Imposto sobre Produtos Indus­trializados (IPI) não garantem a renovação da frota. Especialistas apontam que as principais causas são a isenção do Imposto sobre Propriedade de Veículo Automo­tor (IPVA) para carros velhos e a demora do governo brasileiro em aprovar a inspeção veicular, que poderia tirar das ruas os carros sem condições de circulação.

Segundo o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), dos 4.683.631 veículos registrados em 2009 no estado, 1.064.914 saíram da fábrica há mais de 20 anos. No Brasil, conforme o último levantamento da Federação Na­­cional da Distribuição de Veículos Automotores (Fena­brave), a idade média da frota brasileira é de 13,2 anos. O presidente da federação, Sérgio Antonio Reze, lembra que a frota é uma das mais antigas do mundo.

Carro novo - Na década de 90, o governo apostou nos carros populares, mais baratos, para renovar a frota. Eles saíam de fábrica com motor 1.0 e sem acessórios. Recentemente, as concessionárias ampliaram os financiamentos para até 80 parcelas. Para amenizar os efeitos da crise nas montadoras, no ano passado o governo reduziu o IPI nos veículos novos.

O resultado foi um recorde de vendas. Segundo a Fenabrave, foram emplacados no Brasil, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, 692.228 veículos, entre carros de passeio, caminhões e motos. O aumento, comparado ao mesmo período de 2009, quando houve o emplacamento de 639.523 unidades, foi de 8,2%. O Paraná seguiu o mesmo ritmo, com um ligeiro aumento sobre o índice nacional. Foram 45.742 veículos novos em circulação, contra 42.034 do mesmo período do ano passado, ou seja, um salto de 8,8%. "A nossa frota é uma das mais antigas do mundo porque o país tem dificuldade em fazer a sua substituição, mas ela vem diminuindo, isso é matemático, na medida em que se aumenta o volume de vendas de carros novos", acredita Reze.

Manutenção - Independentemente da idade do carro, o importante é mantê-lo em dia. O professor de treinamento profissional do Serviço Social do Transporte (Sest/Senat) de Ponta Grossa Geraldo Camargo diz que os riscos diminuem à medida que o proprietário mantém a mecânica, a iluminação e os pneus regulados, além de seguir as determinações do fabricante referente à troca de itens e até mesmo de motor.

O coordenador de Veículos do Detran-PR, Cícero Pereira da Silva, admite que na maioria dos casos essa manutenção preventiva não é feita. "De modo geral, os donos de carros velhos não se enquadram nessa situação. Muitos estão rodando em condições precárias", considera.

IPVA - No Paraná, os carros com mais de 20 anos de fabricação não pagam IPVA. Em outros estados, a situação se repete, embora com períodos diferentes para critério de isenção. Os únicos pagamentos são do licenciamento anual e do seguro obrigatório. Quando são parados em blitzes, os veículos antigos precisam apenas apresentar essa documentação. "Até uns 10 anos atrás era um problema constante, mas hoje se reduziu drasticamente. Eu acho que os carros velhos circulam mais na zona rural, onde não há fiscalização", aponta o tenente Silvio Cordeiro, da comunicação social do Ba­­talhão de Policiamento de Trânsito de Curitiba. Mas, quando um carro velho cai numa blitz, os principais problemas verificados são pneus carecas, falta de iluminação e de equipamentos obrigatórios de segurança.

Quanto mais velho, mais poluente  

A idade da frota influi diretamente na quantidade de poluição emitida. Nos últimos anos, a indústria automobilística se adequou às exigências ambientais. Um carro fabricado em 1986, por exemplo, emitia 54 gra­mas de gás carbônico por quilômetro rodado. Hoje, essa emissão diminuiu para 0,3 gramas. As informações foram re­­passadas pela coordenadora do curso de bacharelado em Quí­­mica pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Eli­za­beth Weinhardt Scheffer. Ela ressalta que os fabricantes conseguiram reduzir em até 90% a emissão de poluentes.

"A qualidade do combustível e a tecnologia do motor são fatores importantes para o controle de emissão de poluentes. Com o uso, o desgaste de peças e componentes afeta as características de eficiência do motor, provocando índices mais elevados de emissão", completa. A coordenadora lembra também que a emissão de poluentes depende do tipo de motor e de combustível usado.

A adição de álcool à gasolina já foi um avanço. O Brasil, conforme Elizabeth, foi pioneiro ao adicionar compostos oxigenados, como o álcool, à gasolina, mas o gás natural veicular ou ainda os carros flex (abastecidos com álcool e gasolina) devem reduzir ainda mais os níveis de poluição provocada pelos automóveis.

Inspeção reduziria problemas 

O novo Código de Trânsito Bra­sileiro, em 1997, trouxe a exigência da inspeção veicular anual obrigatória para todos os veículos em circulação. A inspeção checaria itens de segurança e níveis de poluição. Quem não estivesse em dia seria descartado. A lei não foi regulamentada e, portanto, os estados ainda não são obrigados a cumpri-la.

O Projeto de Lei 5.979, que prevê a regulamentação, está no Congresso desde 2001 e já foi e voltou do plenário várias vezes. Agora, diz o deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), está novamente pronto para ser votado. Um dos pontos polêmicos da proposta é decidir se a inspeção será feita pelos estados ou terceirizada. "Eu acredito que a decisão ficará para o próximo presidente", acrescenta Leal.

Atualmente, afirma o professor de transportes do curso de Engenharia Civil da Uni­versidade Federal do Paraná (UFPR), Eduardo Ratton, o licenciamento só visa aumentar a arrecadação do estado. "O governo só quer saber se o dono do carro pagou o licenciamento no banco. Não quer saber se o carro está em boas condições, se tem freio, se tem pneu bom", comenta.

Renovação - Segundo o especialista em trânsito e fundador da Com­panhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo, Roberto Scarin­gella, três assuntos estão interligados quando se fala em frota antiga. O primeiro é a necessidade da regulamentação urgente da inspeção veicular. Com a inspeção, cria-se a necessidade de um programa de renovação da frota. E com a renovação, lembra Scaringella, abre-se um caminho para a reciclagem de sucata, que pode ser um segmento em crescimento na economia brasileira.

Scaringella aposta que a renovação da frota brasileira faria bem para a economia, inclusive para os cofres públicos, porque o Sistema Único de Saúde (SUS) gastaria menos com acidentados. "Um dos fatores de risco mais importantes com a existência de carros velhos em circulação são os acidentes, que fazem o governo gastar muito com os acidentados, sem falar nos dramas familiares", considera.

O especialista reforça ainda que não há um incentivo para a renovação da frota circulante. "Eu acho que o indivíduo deveria merecer um incentivo do Estado para trocar seu carro antigo por um carro usado mais novo, porque o salto entre o carro velho e o carro zero é muito grande", afirma.

Em outros países, como na Europa Ocidental, como cita o presidente da Fenabrave, Sérgio Antonio Reze, o governo reduziu impostos para a compra de veículos novos para reduzir os efeitos da crise econômica mundial. Scaringella ressalta que a inspeção já é uma realidade em outros países.

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