A logística é um dos principais problemas de infraestrutura do Brasil. O país tem nota 3,1 de 5 no quesito “competência” e ocupa uma mediana 56ª posição entre 167 avaliados, segundo o Índice de Performance da Logística, do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). A tecnologia, contudo, pode estimular a reinvenção do setor, com amplas possibilidades.
Com a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), por exemplo, a carga passará a protagonista, ocupando o lugar que hoje é da transportadora. A afirmação é de Orlando Fontes Lima Júnior, coordenador do Laboratório de Aprendizagem em Logística e Transportes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“No futuro, a carga vai acompanhar um sistema que informará sua localização, origem, destino, temperatura, umidade, luminosidade e até se foi chacoalhada e se está há muito tempo sem ser descarregada”, detalhou o professor durante o Logística Innovation Day, congresso realizado pela StartSe na última sexta-feira (27/09), em São Paulo.
A vantagem de uma ferramenta capaz de oferecer esse tipo de funcionalidade, é que qualquer intercorrência, como um erro de trajeto ou a abertura de caixas, será comunicada automaticamente e em tempo real ao responsável pelos produtos, via WhatsApp ou e-mail. “A tecnologia vai mudar o conceito de logística no mundo ao colocar a carga como protagonista do setor. É ela que futuramente vai “avisar” [emitir uma alerta] para onde deve ir e, desta forma, acionar as transportadoras”, explica o engenheiro naval sobre as potencialidades de soluções pesquisadas dentro do laboratório da Unicamp.
Segundo Lima, essa mudança será semelhante àquela que é conhecida atualmente por MaaS (Mobility as a Service), em que os serviços se adaptam às necessidades do cliente. No caso da logística, ele reforça que as transportadoras funcionarão como ônibus fretados, que prestarão serviços para empresas que precisarem fazer a movimentação e distribuição de cargas. “Em um caso extremo, as transportadoras podem até acabar por conta do corte de intermediários no supply chain. As empresas precisam se reinventar para permanecer no mercado”, sentenciou o coordenador.
Apesar das incertezas que permeiam o setor, o coordenador do laboratório da Unicamp garante que grandes mudanças não devem ocorrer no curto prazo, uma vez que ainda há muito a ser desenvolvido em tecnologia e que diferentes interesses precisam estar alinhados para um trabalho conjunto. “Acredito que o varejo seja o primeiro a avançar nesse segmento, já que temos bons exemplos de patentes na norte-americana WalMart e na chinesa Alibaba”, concluiu.