Caminhoneiros esperam em Ribeirão por frete que compense volta pra casa

Publicado em
23 de Abril de 2015
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Profissionais estão parados em postos por falta de serviço com preço justo. Categoria quer frete mínimo, mas reunião em Brasília acabou sem acordo.

 

Caminhoneiros estão parados em postos e estradas da região de Ribeirão Preto (SP) aguardando uma maneira de voltar para casa sem ficar no prejuízo. Eles reclamam que, além da baixa oferta de fretes, as propostas que aparecem não pagam o suficiente para compensar os gastos com a viagem de retorno.

Além da incerteza sobre quando vão voltar para casa, os motoristas dizem estar economizando com itens de primeira necessidade devido ao acúmulo de despesas causado pela espera.

"Difícil até para ficar estacionado, porque se tu não paga o estacionamento não fica. Hoje, por exemplo, se tu não paga ou não colocar uma cota de óleo de abastecimento no seu caminhão tu não tem onde ficar, tu não tem onde tomar banho de graça", afirma o caminhoneiro Joel Corrêa.

Caminhões se acumulam em postos da região de Ribeirão Preto por causa de frete (Foto: Reprodução/ EPTV)Caminhões se acumulam em postos da região
por causa de frete (Foto: Reprodução/ EPTV)

Em todo o país, a categoria defende a fixação de um valor mínimo de fretes, mas, após umareunião sem acordo em Brasília (DF) na quarta-feira (22), a Secretaria-Geral da Presidência informou que o tabelamento é impraticável devido a diferenças na qualidade das estradas e nos tipos de cargas transportadas.

Defasagem do frete
O preço do frete, hoje negociado de maneira livre entre contratante e contratado, caiu 37% em todo o país nos últimos cinco meses, de acordo com a Federação dos Transportadores Rodoviários Autônomos do Estado de São Paulo (Fecamsp). Queda que faz com que os valores pagos, segundo os profissionais entrevistados em Ribeirão Preto, não compensem gastos com óleo diesel e pedágio, que subiram.

Além disso, apesar da isenção aprovada por eixo suspenso pela presidente Dilma Rousseff desde 17 de abril, no Estado de São Paulo o benefício não foi concedido por decisão da Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).

Antonio Luiz Ennes Filho, caminhoneiro, em Ribeirão Preto (Foto: Reprodução/ EPTV)Ennes Filho queria ter voltado para casa no feriado, mas não conseguiu por causa do frete (Foto: Reprodução/ EPTV)

Quando entrevistado pela reportagem, o caminhoneiro Sidnei Ponzio informou que estava há seis dias parado em Ribeirão esperando por um frete. Segundo ele, o valor ideal seria de R$ 3 mil, mas as ofertas máximas que chegaravam eram de R$ 2 mil. Para ajudar, ele alega que os pedágios paulistas pesam a mais no bolso. “No Estado de São Paulo se paga o truck erguido a mesma coisa. No Sul não”, reclama.

Ele se disse disposto a esperar por mais três ou quatro dias, se necessário, mas soube de colegas que preferiram ficar no vermelho. “Sábado desceu uns oito, dez caminhões ou mais vazios para o Sul, para Santa Catarina.”

Esperar também não tem sido uma saída econômica. Antonio Luiz Ennes Filho conta que, à espera de um frete adequado para a Bahia, está tendo despesas que ao longo dos dias começam a pesar. “Tudo você paga. Pagam-se cinco reais para tomar banho, agora você imagina todo dia. Agora mesmo um café ficou cinco reais, quase. Não tem lugar que não cobre pelo banho. Para estacionar é tudo cercado, quem abastece tem lugar para estacionar, quem não abastece não tem. Tem que ficar rodando até achar um lugar”, diz.

Ele, que queria ter voltado para casa no feriado, disse ter recebido ofertas de R$ 2 mil, em média, para levar cargas ao Nordeste, mas que o montante não valeu a pena. O ideal, para não ter prejuízo, seria de R$ 3 mil, segundo ele. “Não compensa, não. O óleo, o pedágio, não tem como.”

Reunião sem acordo
O governo federal anunciou na quarta-feira (22) que descartou a proposta defendida pelos caminhoneiros de fixar um valor mínimo, obrigatório, para o frete no país. De acordo com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, o tabelamento impositivo do frente “não tem apoio constitucional e é impraticável”, devido, por exemplo, às diferenças na qualidade das estradas e dos tipos de cargas transportadas nos diversos pontos do país.

O valor mínimo nacional do frete foi uma das principais reivindicações do movimento de caminhoneiros que tomou conta do país em fevereiro, bloqueando estradas e causando, inclusive, desabastecimento em algumas regiões. Em 26 de fevereiro, governo e representantes assinaram um acordo que previa, entre outros pontos, o perdão a multas por excesso de peso aplicadas nos últimos dois anos, a sanção integral da nova Lei do Caminhoneiro e a isenção de pagamento de pedágio para o eixo suspenso de caminhões vazios.

Apesar da lei federal, as rodovias estaduais de São Paulo continuam a fazer a cobrança integral desde o dia 17 de abril. A agência que regula serviços de transporte em São Paulo comunicou ter respaldo jurídico para não colocar a mudança em prática.

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