Abrava criticou medidas anunciadas pelo governo federal para tentar conter alta dos combustíveis
A Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) fez novas críticas às medidas anunciadas pelo governo federal para tentar conter a alta dos combustíveis. A avaliação dos profissionais é de que a aprovação, pelo Senado, da proposta federal que fixa em 17% o ICMS cobrado pelos Estados é uma medida temporária e que pode não ter qualquer efeito sobre o preço praticado na bomba.
Segundo a Abrava, o ministro da Economia, Paulo Guedes, seria o principal “responsável” pela situação no preço dos combustíveis e o governo falhou ao não adotar medidas com efeito de longo prazo.
“O governo se acomodou e por ironia do destino o ministro apelidado de posto Ipiranga, que deveria resolver esse problema, é o grande culpado deste caos, e hoje chegamos neste ponto crítico, sendo que ainda temos sérios riscos de falta de combustível”, afirma a Abrava. “Muitas especialistas afirmam que esse problema tem soluções viáveis, mas está claro que essa não é a prioridade, o que vemos é um governo desesperado.”
A reportagem questionou o Ministério da Economia sobre a afirmação. Não houve resposta até a publicação deste texto. A Abrava voltou a falar em greve e a criticar a política de preços da Petrobras, que se baseia na variação internacional do preço do petróleo para estipular sua tabela no Brasil. A avaliação é de que o governo continua a jogar o problema para frente, preocupado apenas com as eleições de outubro.
“De uma forma ou de outra, mantendo-se essa política cruel de preços da Petrobras, sem a garantia que o caminhoneiro autônomo tenha suas despesas de viagem integralmente ressarcidas, a categoria vai parar. Se não for por greve, será pelo fato de se pagar para trabalhar. A greve é o mais provável e não demora muito”, afirmou.
Caminhoneiro autônomo
Segundo a Abrava, que é presidida por Wallace Landim, conhecido como Chorão Caminhoneiro, a situação é ainda mais grave quando envolve os caminhoneiros autônomos, aqueles que atuam como prestadores de serviço e não são funcionários de uma empresa específica. Isso ocorre porque eles sequer conseguem repassar os custos de combustíveis para o frete, já que este tem preço definidos previamente por outros agentes da cadeia de transporte.
“A verdade é que o caminhoneiro autônomo, ou seja, uma simples pessoa física, por não ter a chance de participar das negociações dos fretes entre empresas de transporte e embarcadores, e de não participar das negociações entre compradores e vendedores de mercadorias, acaba ficando refém dessas negociações, além de não ter sozinho força suficiente para interferir nesses contratos, quase todos, de caráter sigiloso."
Na semana passada, a Petrobras sinalizou que o custo dos combustíveis – principalmente o do diesel – segue uma tendência de alta e assim continuará. Em uma nota enviada à imprensa com “esclarecimento da Petrobras sobre a prática de preços de mercado”, a petroleira afirma que “não há fundamentos que indiquem a melhora do balanço global e o recuo estrutural das cotações internacionais de referência para o óleo diesel”.
Na avaliação da Petrobras, o atual cenário mundial é de escassez e, como o Brasil é deficitário em produção de óleo diesel, tendo importado quase 30% da demanda total em 2021, o resultado é este: “poderá haver maior impacto nos preços e no suprimento”.
Os caminhoneiros entenderam o recado. “Sabemos que a Petrobras deve anunciar novos aumentos para a gasolina e para o diesel, respectivamente, 17% e 16%, em breve. Ora, não precisa ser um economista para chegar à conclusão que 2 ou 3 aumentos consumirão toda redução que se pretende fazer por meio dos tributos, correndo o risco de os litros desses combustíveis ficarem ainda mais caros do que é hoje, em pouco tempo, mesmo considerando as cargas tributárias atuais”, afirma a Abrava.
A associação afirmou ainda que “qualquer percentual, de qualquer tributo, que se anuncie retirar do preço de combustível será ineficaz para sua efetiva redução”.
“O que se tem é uma diminuição temporária que, talvez, seja suficiente para reduzir o valor por dois ou três meses, no máximo, sendo que isso, ainda dependerá da frequência de aumentos promovidos pela Petrobras, que está atrelado ao mercado internacional. Pesa ainda o fato de que não se pode precisar se, na ponta da cadeia, ou seja, nos postos de combustíveis, essa redução será realizada na sua plenitude.”