Segundo especialista, os motoristas não levam em conta itens como depreciação e remuneração de capital
Nelson Bortolin
Apesar de os caminhoneiros responderem em pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) que têm faturamento líquido de R$ 5.011, não é bem essa a realidade da classe. É o que mostra o engenheiro de transporte Lauro Valdivia, da RLV Consultoria. “Às vezes, ele acha que está ganhando, mas não está. Na verdade, está tendo prejuízo”, afirma.
Há uma série de itens que o autônomo deveria considerar em sua planilha de custo que, na verdade, ele não considera. Um deles é a remuneração do capital. “Se o motorista não tivesse aplicado capital no caminhão, esse dinheiro poderia estar rendendo no banco”, explica.
No caso da manutenção, o caminhoneiro não costuma fazer a conta correta. “A cada dia de trabalho, ele está gastando pneus e peças. São despesas que vai ter lá na frente que não está contabilizando adequadamente. Precisa calcular e separar um dinheiro para isso todo o mês”
Valdívia diz que o autônomo precisa ter um salário que justifique seu trabalho. “Tem de ser um valor maior do que recebe um caminhoneiro empregado. Não há justificativa para ser autônomo, investir capital e trabalhar mais, se não for para ganhar mais”, ressalta. Do contrário, vale a pena procurar emprego nas transportadoras.
Há outros itens a serem contabilizados, como os impostos e os mais básicos, como o diesel, a alimentação, o pedágio, que deveria ficar a cargo dos embarcadores, mas acaba na conta do caminhoneiro.
Outra coisa muito importante a se considerar é a depreciação. A cada dia, o caminhão vai perdendo valor e é preciso guardar dinheiro todo mês para trocá-lo no futuro.
Valdívia duvida que, após fazer todas as contas, um caminhoneiro tenha realmente R$ 5 mil de faturamento líquido. “Para isso, ele tem de trabalhar sol a sol, dirigir 18 horas por dia, todos os dias, se matar de trabalhar. E isso não é correto.”
Apesar das considerações, Valdívia não acredita que a tabela de frete seja a solução para os caminhoneiros. “Há muito caminhão no mercado. Não tem carga suficiente para tanto caminhão. A única solução é a melhora da economia”, afirma.
Devido à estagnação econômica, segundo ele, os embarcadores também não conseguem vender seus produtos com os preços adequados. “Se vigorar uma tabela com fretes mais altos, eles vão acabar comprando caminhões para eles mesmos transportarem seus produtos.”
POLÊMICA
Artigo publicado semana passada pelo jornal O Estado de S.Paulo pela advogada Tatiana Amar Kauffman cita a pesquisa da CNT para mostrar que o caminhoneiro ganha bem e não precisa de tabela de frete. O texto, exclusivo para leitores do jornal, está disponível no site do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de Ribeirão Preto (Sindetrans).
O artigo causou polêmica no site da Revista Carga Pesada. “Senhora advogada. Pelo conteúdo do seu artigo, nota-se que a senhora simplesmente intrometeu-se em assunto que não tem nenhum conhecimento. Procure informar-se sobre quanto custa um caminhão; quanto custam 22 pneus; quanto custa um litro de diesel; quanto se gasta de pedágios; quanto custa uma refeição nas estradas; quanto se paga por um banho de 6 minutos nos postos de combustível”, reclamou José Jorge de Jesus.
“Doutora, dá uma olhada na frota de autônomo. Está sucateada. Meu caminhão é de 1991 e dá manutenção diária. Nos ensine como sobram R$ 5 mil”, disse Roberto Martins.
“Essa doutora é formada por livros e não pela vida. Não tem conhecimento do que acontece nas estradas. Hoje pagamos tudo: para tomar banho, para estacionar, para descarregar. Não tem noção de quanto pagamos por cada pneu. É muito fácil fazer cálculos”, escreveu Márcio Jesus de Lima.