O presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno, disse na noite de ontem que não deve acontecer paralisação de caminhoneiros no próximo dia 29, conforme a categoria vinha ameaçando nos últimos dias.
A avaliação foi feita após o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, ter assumido novos compromissos com as lideranças do setor, depois de uma reunião que durou mais de quatro horas.
“Acho que nós conseguimos administrar essa situação de momento. Não deve ter paralisação de caminhoneiros”, disse Bueno, ao deixar reunião no ministério.
Segundo ele, o ministro garantiu que será acionado o gatilho de reajuste da tabela de frete para refletir o aumento do diesel superior a 10%, desde a última do início do ano. Os novos valores devem ser calculados nesta semana e entrar em vigor já a partir da próxima segunda-feira, quando estava programada a nova greve.
Além disso, os caminhoneiros deixarão de ser penalizados ao denunciar o descumprimento do piso do frete pelos embarcadores. Aliás, será adotada uma medida em sentido contrário, pois os próprios profissionais do transporte rodoviários de carga poderão levar os casos de descumprimento da tabela aos sindicatos, que, por sua vez, vão submetê-los à apuração da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Em nota, o Freitas afirmou que “a construção dessa agenda vai amortecer o efeito do diesel, vai fazer com que o dinheiro sobre na contratação de cada frete e vai fazer com que a referência de preço seja praticada”.
“Estamos com uma agenda sólida, que está sendo construída com base numa conversa e nos pleitos dos caminhoneiros”, disse Freitas, em uma lista de promessas que inclui “estudar a eliminação de multas desnecessárias aos caminhoneiros”.
“Agora, o governo assumiu compromisso, com a representação legítima da categoria, inclusive de fazer uma fiscalização mais efetiva do piso mínimo do frete”, afirmou Bueno.
O representante dos caminhoneiros autônomos, Wanderlei Alves, o Dedeco, também apoiou a iniciativa de permitir que a fiscalização seja realizada pela própria categoria. “O ministro se comprometeu que o próprio caminhoneiro será um órgão fiscalizador de seus sindicatos, que irá passar para o CNTA e logo irá trazer direto para o governo a relação das empresas e dos embarcadores que não estiverem cumprindo o piso mínimo. No prazo de 30 dias eles serão autuados.”
Dedeco disse que também não vê mais razão para dar início a uma nova greve diante do compromisso assumido pelo governo. “Da minha parte, eu peço aos caminhoneiros que se acalmem e esperem sim [que as promessas sejam cumpridas]”, afirmou.
O encontro em Brasília ocorreu depois que lideranças do movimento dos caminhoneiros disseram que foram atrás de explicações “mais convincentes” do governo sobre o apoio prometido à categoria. A fragmentação na liderança do movimento continua sendo um dos maiores desafios para o governo em manter a interlocução com os caminhoneiros.
Para lidar com a liderança difusa, o governo trabalha com ministros em diferentes frentes de articulação para monitorar o risco de paralisação, atender às demandas das categorias e minimizar problemas para o país. Freitas tem sido o principal articulador do governo, mas conta com o reforço principalmente dos ministros Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo), Onyx Lorenzoni e Floriano Peixoto (Secretaria-Geral).
Principal conselheiro do presidente, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, não tem se envolvido diretamente nas negociações, mas é sua pasta que cuida do monitoramento de riscos eventuais de uma greve.
Um militar de alta patente que auxilia o presidente afirmou que atualmente o monitoramento aponta para “baixa adesão” e o dia 29 — que tem sido apontado por algumas lideranças como possível dia de greve — ainda não é considerado como um risco.