Caminhões viram inimigos do trânsito, por Nelson Bortolin

Publicado em
25 de Maio de 2011
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São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Curitiba. Diante do aumento da circulação de automóveis e do transporte coletivo urbano ineficiente, as maiores cidades brasileiras estão apertando o cerco aos caminhões em locais de grande fluxo. O problema maior é na capital paulista, onde esses veículos já sofrem restrições desde os anos 90. Na baiana, as carretas estão sob a mira das autoridades municipais há cerca de um ano. Já nas capitais gaúcha e paranaense, as proibições começam agora.

A partir de 2 de junho, os veículos com mais de sete metros de comprimento e capacidade de carga acima de 10 toneladas serão multados se entrarem no centro histórico de Porto Alegre. Segundo o presidente das empresas de transporte de cargas do Rio Grande do Sul, José Carlos Silvano, a intenção inicial da prefeitura era restringir os caminhões em toda a região central. "Mas conseguimos negociar e a restrição ficou só para o centro histórico", afirma.

Em agosto, os transportadores vão se reunir com as autoridades de trânsito municipais para avaliar a medida. Mas, para Silvano, a prefeitura deveria investir nas vias urbanas e no transporte público, em vez de restringir os caminhões. "Deveriam se preocupar em retirar as carroças e os cavalos que ainda existem por aqui e não em tirar o caminhão que tem a função social de abastecer a cidade", critica.

O presidente do sindicato dos lojistas de Porto Alegre (Sindlojas), Ronaldo Sielichow, acredita que a solução negociada entre comerciantes, transportadores e a administração municipal está de bom tamanho. "O projeto original, quando foi apresentado, era muito ruim, estabelecia horários de restrição mais severa e deixaria o centro da cidade desabastecido. Acreditamos que, após as negociações realizadas, chegamos a uma solução que não vai prejudicar a cidade", afirma.

Já em São Paulo, a situação é mais grave. O sindicato que representa as empresas de transporte (Sectesp) entrou na Justiça contra mais uma decisão da prefeitura paulistana que restringe o tráfego de caminhões.  Com a inauguração do rodoanel no ano passado, as carretas foram proibidas na Marginal Pinheiros, na Avenida Bandeirantes e em algumas ruas do bairro Morumbi. A medida inviabilizou o abastecimento da região de Santo Amaro, segundo o sindicato.

"Para chegar a Santo Amaro, os caminhões tiveram de começar a fazer rotas alternativas passando por Taboão da Serra e Diadema, por exemplo. Mas as prefeituras desses municípios também estão proibindo os caminhões", conta Adauto Bentivegna Filho, diretor executivo da entidade.

Ele ressalta que abastecer Santo Amaro por meio de VUC (Veículo Urbano de Carga) é impossível já que a região possui muitas fábricas e a demanda por matéria-prima é grande. Além da ação judicial, o sindicato tenta convencer a prefeitura a liberar ao menos o acesso de caminhões cadastrados a essas vias. "Mas isso ainda não foi possível".

A história de restrição ao tráfego de caminhões na maior cidade do País já tem pelo menos 20 anos. Na década de 90, os VUCs começaram a ser fabricados no Brasil devido às primeiras restrições no centro. Inicialmente essa área restrita, lembra Adauto, era de 11 quilômetros, onde as cargas só poderiam chegar via VUCs. Depois a área de restrição cresceu para 24 quilômetros (em 2007). E em 2008 atingiu 100 quilômetros quadrados.

Naquele ano, a prefeitura paulistana chegou ainda a proibir os VUCs durante o dia nesta região. Mas os transportadores conseguiram negociar e uma nova permissão foi dada para o período das 10 às 16 horas, o que é insuficiente segundo o Setcesp. A saída encontrada pelas transportadoras foi investir em vans, fiorinos, kombis e caminhonetes.

Em Curitiba, a primeira restrição a caminhões está marcada para começar em julho. Eles não poderão circular na Linha Verde. A reportagem procurou o Setcepar, sindicato que representa as transportadoras do Paraná, mas, por meio da assessoria de imprensa, a entidade informou que está negociando uma solução com a prefeitura da capital. E que se pronunciaria até o fim de semana.

Em Salvador, a decisão da administração municipal de restringir o tráfego de caminhões, a exemplo de São Paulo, também foi parar na Justiça.

Decreto que restringe carga e descarga de caminhões em Salvador está suspenso


Associação de distribuidores obteve liminar na Justiça


A Associação dos Distribuidores e Atacadistas da Bahia (Asdab) obteve uma liminar na Justiça suspendendo o decreto 20.714 (2010) da Prefeitura de Salvador que restringe a carga e descarga na capital. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas da Bahia (Setceb), a Prefeitura já deixou de fazer a fiscalização ontem, mas pretende recorrer da decisão. "A liminar do juiz foi muito positiva. Ele entendeu que o decreto coloca no mesmo balaio uma rua do centro de Salvador e outra erma de um bairro afastado", explica o presidente do Setceb, Antonio Siqueira. "Hoje, as pessoas estão proibidas até de fazer mudança na cidade durante o dia", complementa. O decreto, em vigor desde 13 de junho, proíbe as operações de carga e descarga entre 6 e 21 horas, de segunda a sexta-feira, e das 6 às 14 horas do sábado. Veja o que diz o artigo 3º do decreto: Art. 3º As operações de carga e descarga de bens e de mercadorias no Município do Salvador só poderão ser realizadas nos períodos compreendidos: I - de 21h (vinte e uma horas) às 6h (seis horas), de segunda a sexta-feira; II - de 0h (zero hora) às 6h (seis horas) dos sábados e de 14 (quatorze horas) às 8h (oito horas) entre os sábados e domingos; III- Em qualquer horário, aos domingos e feriados, salvo se realizadas na orla de Salvador, quando somente poderão ocorrer no período compreendido entre 0h (zero hora) e 8h (oito horas) e das 16h (dezesseis horas) às 24h (vinte e quatro horas).

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