Dois em cada dez condutores presos por embriaguez ao volante são motoristas de caminhões e carretas. Não é pouco, se considerarmos que eles têm nas irresponsáveis mãos algumas centenas de toneladas de força de um veículo desgovernado a 80 km/h.
E alguém turbinado pelo álcool rodando literalmente mais alto que os demais, pesa dão, sobre seis ou 18 pneus, sente-se poderoso, intocado, sem consciência de que corre risco pessoal e, muito menos, consciência de que está provocando riscos para os demais.
A ideia de "passar por cima" ronda fácil a etílica cabeça zonza: "eu tenho a força!" Mesmo com o aumento da severidade da lei contra o álcool na direção, os acidentes com motoristas de caminhão alcoolizados já enchem os noticiários deste ano.
Em Pinhão, na PR-459, um caminhão atropelou uma camioneta e matou o motorista dela, de 31 anos.
O bafômetro mostrou que o condutor estava alcoolizado e foi preso.
No Distrito Federal.
um motorista de carreta, trafegando sobre 18 rodas, ia em direção a Goiânia e provocou um acidente.
Estava com quatro vezes o mínimo tolerado para não ser crime.
Foi preso, perdeu a habilitação e recebeu multa de R$ 1.915.
Outro, com 25 toneladas de farelo de soja, foi preso em Cascavel por estar com 11 vezes o limite de álcool.
Perto de Goiânia, na BR-060, o motorista parou um bitrem em cima do canteiro central.
Confessou ter ingerido "só meia dúzia de tragos de cachaça".
Cansaço, saudades de casa, solidão ...
e a marvada da pinga vira companheira de algum responsável por um pesado caminhão e sua carga, compartilhando a estrada com centenas, milhares de outros veículos, tudo se movendo em alta velocidade.
Uma roleta viciada, em que todos perdem.
Há três anos, existe no Brasil um equipamento que impede a partida do motor se o motorista não soprar nele.
E se o ar expelido dos pulmões contiver álcool, isso emperrará a partida.
Uma empresa transportadora que, animada, estava instalando o equipamento, fez a experiência com seus motoristas.
Metade estava sem condições de permitir a partida, o que significaria prejuízos imediatos depois de paradas para lanche ou refeição à beira da estrada.
Se a Lei Seca é ameaça e se um equipamento impede o arranque e ainda assim a bebida alcoólica é habitual entre os que enfrentam a estrada com carga, o que fazer? Eu confesso que já perdi a crença na tal "conscientização".
que virou remédio para tudo neste país irresponsável.
A tal "conscientização" em geral substitui a multa, a punição, a aplicação da lei com severidade.
Em país sério não existe "conscientização", Existe punição.
De punição em punição, quem está torto acaba endireitando.
Na minha infância, cada chinelada me ensinou a distinguir entre o certo e o errado.
Tapinha nas costas e, afago na cabeça não ensinam ninguém.
Sem isso, o que se ensina a impunidade.