Câmara aprova

Publicado em
30 de Abril de 2014
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Texto, que amplia jornada de trabalho e permite multas apenas em rodovias homologadas pelo governo, agora segue para votação no Senado. Outros destaques da lei são o aumento de 7,5% para 10% da tolerância sobre os limites de peso por eixo, mantendo 5% para o PBT e a proibição de cobrança de pedágio sobre eixos suspensos. 

Nelson Bortolin

A Câmara dos Deputados aprovou ontem à noite o substitutivo aos projetos de lei 4246/12 e 5943/13 que revoga a Lei 12.619, a Lei do Descanso, e apresenta novas regras para jornada de trabalho e tempo de direção dos motoristas profissionais. As principais mudanças são: o aumento de 4 horas para 5,30 horas o tempo após o qual o motorista é obrigado a descansar 30 minutos; e a redução de 11 horas para 8 horas do período de descanso ininterrupto entre dois dias de trabalho. As outras três horas podem coincidir com o tempo de parada. Ambas as regras valem para caminhoneiros empregados e autônomos.

O aumento da jornada de trabalho do empregado, de duas para quatro horas extras diárias (além das 8 horas regulares), ficou condicionado a aprovação em acordo coletivo de trabalho. Já o descanso semanal remunerado do empegado baixou de 35 para 24 horas.

Se aprovada no Senado, a nova Lei do Descanso só passa a ser fiscalizada punitivamente, ou seja, com multas, após seis meses. E somente em rodovias previamente homologadas pelo governo. As multas aplicadas até agora com base na Lei 12.619 ficam perdoadas.  Somente após três anos de promulgação da lei é que ela valerá para todas as rodovias do País, independentemente de homologação.

plenario

Também haverá mudança no tempo de espera para carga e descarga. No substitutivo, ele fica limitado a duas horas consecutivas e será remunerado num valor correspondente a 30% da hora normal. Quando a espera for superior a duas horas, o tempo será considerado como descanso, desde que sejam oferecidas aos motorista condições adequadas para tanto.

O projeto também diz que o governo terá cinco anos para ampliar a disponibilidade de pontos de paradas.

O substituto aprovado ontem retirou a possibilidade de remuneração do autônomo em dinheiro vivo, que era prevista no texto original do projeto 5943. O valor da estadia devida ao autônomo é de R$ 1,38 por tonelada/hora a partir da quinta hora de espera.

Foi incluída no substituto a permanência da pesagem dos veículos por eixo, sendo que o limite de tolerância passa dos atuais 7,5% para 10%. O limite para peso bruto total fica em 5%.  

O Plenário rejeitou a proposta de criação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Transporte de Cargas Nacional (Procargas) que incluía o estabelecimento de um novo imposto, a Cide Cargas, que seria pago pelo embarcador numa alíquota de 1,25% do valor do frete.

O diretor executivo da Associação dos Transportadores de Mato Grosso (ATC), Miguel Mendes, acompanhou a votação e considerou o resultado “um avanço”. Ele acredita que a proposta será apreciada pelo Senado e sancionada pela presidente Dilma Rousseff sem novas alterações.  “Não acredito em mudança ou vetos neste texto que foi construído com a participação de todo mundo: dos líderes do governo no Legislativo e com representantes da Casa Civil”, explica.

Segundo o diretor, a lei como está hoje inviabiliza as empesas de transportes que não teriam como cumpri-la. Ele ressalta que a infraestrutura do País não comporta as regras atuais da Lei do Descanso. “Quando um caminhoneiro vai ao Mato Grosso ele fica mais tempo esperando para descarregar do que rodando. As estradas estão em péssimas condições e não há lugar para descanso”, afirma.  

Mendes considera que as mudanças foram boas tanto para os empresários de transporte como para os motoristas. “Tanto é que muitos motoristas foram ao plenário da Câmara apoiar o projeto”, conta.

O direto ressalta que além de assegurar direitos aos caminhoneiros, o projeto é positivo porque “acaba com a polêmica” sobre excesso de peso por eixo ao estabelecer uma tolerância maior (de 7,5% para 10%). E porque proíbe a cobrança de pedágio por eixo erguido.

Já os contrários às mudanças acreditam que elas aumentarão o número de mortes nas rodovias (clique aqui e leia mais). 

Discussão do projeto foi acalorada

Parlamentares favoráveis e contrários às mudanças na Lei do Descanso discursaram em Plenário

Agência Câmara

Muitos parlamentares se manifestaram durante a discussão do projeto ontem. O líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), defendeu a possibilidade de jornada de 12 horas diárias. Ele lembrou que o aumento das horas extras para quatro só será autorizado por acordo coletivo. “Ninguém queira tutelar o motorista e acreditar que ele não terá o poder de reduzir as horas extras se assim quiser”, disse Chinaglia.

Já o deputado Chico Alencar (Psol-RJ) criticou. “Isso (aumentar a jornada) é inaceitável para partidos que tenham o mínimo de comprometimento com os direitos trabalhistas”, disse Alencar.

O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), da bancada ruralista, defendeu o projeto. “Estou ouvindo desde cedo essa ladainha de defender a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), mas temos médicos cubanos escravizados e ninguém fala em CLT. O que estamos fazendo aqui é um acordo entre todos os motoristas para reformar essa legislação”, disse. Celso Maldaner (PMDB-SC) também fez defesa da mudança alegando que a Lei 12.619 encareceu o frete e diminuiu o número de motoristas disponíveis.

Já o deputado Hugo Leal (Pros-RJ) criticou. Ele disse que aumentar a jornada de 10 horas diárias para 12 horas diárias é “trabalho escravo”. Leal lembrou que o Plenário já aprovou a redução de jornada de diversas categorias, como os garis. “Estamos retrocedendo em pontos fundamentais nesse projeto”, reclamou.

Vanderlei Macris (PSDB-SP) e outros parlamentares reclamaram que não tiveram acesso ao substitutivo. O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) tentou adiar a votação. “Estamos defendendo o bom processo legislativo. Ninguém no Plenário sabe exatamente o que estamos votando”, disse.

O líder do PSol, deputado Ivan Valente (SP), disse que o projeto tinha o único objetivo de permitir o escoamento da safra sem se preocupar com a população. “Somos contra a exploração contida nesse projeto”, disse. Valente foi vaiado pelas galerias, repletas de partidários do projeto. 

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