Brasil vive um de seus piores momentos

Publicado em
30 de Novembro de 2015
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Para especialista, País precisa realizar mudanças, não apenas na estrutura institucional, burocrática e tributária, mas também cultural

A queda do Brasil em termos de competitividade da 57ª para a 75ª posição, segundo Relatório Global de Competitividade 2015-2016 publicado no Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), gerou mais incertezas por parte do setor sobre como será o resto de 2015 e o que podemos esperar de 2016. De acordo com o levantamento, os pontos que mais pesaram no desempenho foram inflação em alta, falta de confiança, crises econômicas e políticas, além da questão do déficit fiscal e a corrupção.

Na opinião da especialista em comércio internacional do L.O. Baptista-SVMFA, Cynthia Kramer, a confiança nas instituições e o déficit das contas públicas (em outras palavras, a corrupção), são os principais fatores. “A falta de capacidade para inovar, decorrente do baixo grau de instrução também podem ser apontados como causas do problema”, diz.

Os autores consideram que o Brasil sofre com a deterioração de suas instituições e um baixo rendimento macroeconômico. O Brasil obteve o pior resultado de todos os países emergentes, dado que Índia, Rússia e África do Sul progrediram consideravelmente (16, 8 e 7 postos, respectivamente), enquanto a China se manteve estável e Turquia caiu seis posições.

Outras duas quedas consideráveis na região latino-americana foram as da Bolívia, que no ano passado estava na 105ª colocação e este ano está na 117ª; e El Salvador, que em 2014 se situou na 84ª posição e em 2015 está na 95ª. Do outro lado da moeda se encontram México e Colômbia, que aparecem em 57º e 61º respectivamente, e que ganharam posições em relação aos 61º e 66º de um ano atrás. As primeiras três posições na América Latina continuam sendo do Chile (35º), Panamá (50º) e Costa Rica (52º), embora as três tenham diminuído suas posições para 33º, 48º e 51º, respectivamente.

download (2)Segundo o fórum, os países emergentes estão em condições frágeis para resistir a choques econômicos futuros, porque não conseguiram melhorar sua competitividade desde a crise de 2008. Para se preparar, a América Latina deveria investir nas áreas de infraestrutura e inovação. “Os quesitos instituições, ambiente econômico, saúde, educação primária, sofisticação e inovação do ambiente empresarial é que fizeram com que o Brasil piorasse seu desempenho nesse último ano”, questiona a especialista.

Para ela, a crise econômica pode ser um medidor, mas a competitividade exerce um papel fundamental no desenvolvimento do país. “Pena que o governo demorou um pouco para dar a devida importância ao tema. A falta de competitividade dos produtos brasileiros no exterior pode ser apontada como um dos motivos que levaram à crise econômica que estamos vivenciando na atualidade. Se o “Custo Brasil” não fosse tão alto, os produtos brasileiros quando exportados teriam maior competitividade e, como consequência, as indústrias brasileiras estariam melhor”.

Segundo Kramer, uma série de medidas são necessárias para termos maior competitividade global. “Quando apontamos o “Custo Brasil” como a principal causa a ser combatida, não estamos apenas falando da corrupção, mas também da falta de infraestrutura, altos custos trabalhistas/tributários e burocracia excessiva”, explica a especialista, ressaltando ainda que o Brasil vive um de seus priores momentos. “É inegável que a queda é mais alta depois de uma subida, e foi exatamente o que ocorreu com o Brasil que cresceu muito entre 2010 e 2011. É um momento que exige mudança, não apenas na estrutura institucional, burocrática e tributária, mas também cultural. Para nos desenvolvermos, temos que investir em educação”.

Kramer acrescenta ainda que tais mudanças deverão ser vistas ainda esse ano, mas os efeitos talvez só possam ser notados a partir do segundo semestre do próximo ano. “Vejo o futuro com otimismo. O Brasil tem um potencial enorme em agronegócio que deve ser explorado com maior atenção”, acrescenta.

Novos investimentos X Novos acordos

Os novos investimentos do setor, que foram anunciados no primeiro semestre desse ano, são para alguns representantes do setor uma esperança de que alguma coisa possa mudar no futuro. Na opinião de Kramer, alguns investimentos específicos, como a construção da transoceânica, podem trazer ganhos, mas não para o Brasil. “A construção da transoceânica, com investimentos chineses conforme anunciado no primeiro semestre desse ano, pode certamente trazer ganhos, mas entendo que para o Brasil, não tanto. A transoceânica cruzará a Amazônia, região em que não estão concentrados nem nossos produtores rurais/industriais, nem nosso público consumidor. Temos em investir em malha ferroviária como principal meio de transporte”, disse.
Para ela, os investimentos em infraestrutura são fundamentais contribuintes para a competitividade “pois é a forma de escoar os produtos para o exterior”. Sobre novos acordos, a especialista é categórica ao dizer que “o Brasil não pode ficar parado”.

Ela cita ainda como exemplo, a parceria firmada no mês de outubro chamada de “Parceria Transpacífica (TPP)”, que segundo ela, pode ser uma forma de pressionar os europeus e os BRICS a firmarem novas parcerias. “Mercosul e União Europeia estão estreitando relacionamentos e, após 20 anos de negociações, ficaram de apresentar suas propostas de liberalização comercial nesse último trimestre de 2015. Quem sabe agora não sai o tão esperado acordo Mercosul/UE?”, pondera.

Com uma visão brasileira internacionalmente não confiável, o Brasil ainda precisa de meios mais produtivos e mais fôlego para reverter essa situação e também essa imagem. “Somente conseguiremos reverter essa situação se a corrupção for combatida e mostrarmos para o mundo que somos um país sério”, disse, acrescentando ainda que em breve EUA e UE talvez concluam o TTIP (Parceira Transatlântica para Comércio e Investimento). “A OMC encontra dificuldades para fechar acordos no âmbito multilateral. O Brasil precisa estabelecer parcerias para não ficar isolado”, finaliza.

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