Brasil decepciona, mas segue importante

Publicado em
26 de Setembro de 2014
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No Salão de Hannover, executivos lamentam queda das vendas no País

PEDRO KUTNEY, AB | De Hannover (Alemanha)

Cortes, da MAN LA: “Investimentos terão de acontecer”
O fraco desempenho do mercado de caminhões e ônibus no Brasil este ano foi objeto de lamentos de alguns dos executivos presentes no IAA Nutzfahzeuge, salão de veículos comerciais que acontece esta semana em Hannover, Alemanha, reunindo fabricantes de todo o mundo. Ao comemorar os resultados globais da ZF, um dos principais fornecedores de transmissões para o setor, o CEO Stefan Sommer pontuou: “O grande problema é a América do Sul, onde Brasil e Argentina não correspondem às nossas expectativas”, disse, enquanto mostrava que o faturamento na região, onde a operação brasileira corresponde a 90%, caiu 24% no período janeiro-agosto em comparação com os mesmos meses de 2013. “Esperávamos que a Copa do Mundo fosse trazer expansão dos negócios, mas funcionou ao contrário. Esperamos agora por situação melhor em 2015, após as eleições”, completou. 

Contudo, apesar do momento de baixa, todos mantêm o discurso de confiança no futuro. “Esta feira não acontece em um momento bom para o Brasil, mas não existem problemas de fundamentos para crescer. Oque acontece agora é a espera pela decisão de compra enquanto o cenário não se define”, avaliou Roberto Cortes, CEO da MAN Latin America, falando em Hannover a um grupo de jornalistas dos mercados onde a divisão atua. Líder na venda de caminhões acima de 6 toneladas de PBT, a empresa projeta retração de 14% em suas vendas de caminhões e de 18% nas de ônibus este ano, além de queda acima de 20% nas exportações, que representam 21% dos negócios e são fortemente afetadas pela recessão na Argentina. “Já estamos em setembro e não vamos ver nada muito diferente, deverá haver segundo turno nas eleições (presidenciais) e até o fim de outubro continua tudo parado. Espero que os investimentos voltem a partir de novembro”, projeta. 

Cortes lastreia seu otimismo na agenda que o País tem de cumprir para superar seus gargalos, citando que estão previstos aportes de quase R$ 1 trilhão em obras de infraestrutura nos próximos anos. “Por isso, seja lá qual for o resultado da eleição, esses investimentos são necessários, têm de acontecer”, diz, elencando projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), construção de moradias do Minha Casa Minha Vida, equipamentos necessários à exploração do petróleo contido no pré-sal, obras das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e a constante demanda gerada pelo agronegócio brasileiro. Além disso, Cortes lembra que há enorme potencial de um possível programa de renovação das frotas de caminhões e ônibus no País.

Segue o mesmo raciocínio Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil, que projeta o mercado de caminhões 13% menor este ano, com cerca de 130 mil unidades vendidas. “Infelizmente os picos de 2010 e 2012 (162 mil e 165 mil, respectivamente) não se repetiram. Avaliamos que 2015 também será um ano de ajuste e baixo crescimento do PIB, com o mesmo patamar de 2014, depende do que o governo vai fazer, mas o potencial está lá para atingir 200 mil em 2020”, disse o executivo a jornalistas brasileiros. 

“Temos chance de retomar o caminho do crescimento com a evolução do agronegócio, avanço dos projetos de construção civil e um programa de renovação de frota. Sabemos que a infraestrutura é o maior gargalo do País e qualquer governo terá de enfrentar e resolver esse problema. Também acreditamos que a idade da frota brasileira de caminhões não condiz com o tamanho da economia brasileira”, avaliou Schiemer. 

ESPAÇO PARA CRESCER

“O Brasil sempre será um mercado importante para nós (é o maior do mundo para caminhões da marca de Mercedes-Benz). Apesar do momento difícil a situação deverá melhorar no futuro”, disse Wolfgang Bernhard, CEO da divisão de veículos comerciais da Daimler, que entre outras marcas inclui a Mercedes-Benz. “Temos espaço pequeno para crescer nos mercados maduros, por isso temos de avançar nos emergentes, que representam potencial importante de ganhos. Apesar de vendermos veículos de menor valor agregado nesses mercados, isso não quer dizer que a rentabilidade seja baixa, pois precisamos fazer menos investimentos em tecnologias sofisticadas, usamos soluções que já estão amortizadas”, destaca. 

“Continuamos investindo e estamos preparados para aproveitar o crescimento no Brasil”, lembrou Schiemer, destacando que a empresa tem plano de investimento em andamento de R$ 1 bilhão para o período 2014-2015. Cortes, da MAN Latin America, vai na mesma linha: “Nosso programa de R$ 1 bilhão (2012-2017) está mantido e a maior parte dele ainda está por vir. Não estamos postergando nada”, disse, revelando que os aportes serão feitos no desenvolvimento de novas gerações produtos, entrada em novos segmentos e ampliação do conteúdo nacional dos veículos.
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