O Brasil fechou nesta semana a contratação de novas usinas de energia eólica e de geração solar a preços menores que os de hidrelétricas, que são tradicionalmente o carro-chefe e a mais barata fonte de produção de eletricidade no país.
Os leilões de segunda e quarta-feira para contratação de energia registraram fortes deságios ante os preços teto estabelecidos pelo governo, em meio a uma acirrada disputa dos investidores interessados em construir os empreendimentos, que deverão ser entregues entre 2021 e 2023.
Os resultados mostraram a sede de investidores como Enel Green Power, AES Tietê e EDP Renováveis em vender energia renovável nos primeiros leilões para projetos eólicos e solares desde 2015, após o governo cancelar licitações no ano passado devido à falta de demanda por eletricidade em meio à crise financeira do país.
“Tivemos quase dois anos sem leilão, então isso faz com que os fornecedores… mergulhem o preço, e isso ajuda a explicar o preço baixo. Mas ainda assim, se você me perguntasse duas semanas atrás, eu não esperaria que rompessem patamares tão baixos”, disse à Reuters o diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego.
“A conjuntura favoreceu, a taxa de juros está caindo, isso acaba interferindo no resultado”, acrescentou o consultor.
No leilão A-6 desta quarta-feira, os projetos eólicos chegaram a negociar a venda da produção futura por um preço médio de cerca de 98 reais por megawatt-hora, contra uma mínima recorde anterior, em licitação de 2012, de quase 119 reais atualizado pela inflação.
Na contratação da segunda-feira, o chamado leilão A-4, as usinas solares praticaram preços médios de cerca de 145 reais, contra uma mínima de 245 reais de um pregão de 2014.
Enquanto isso, as hidrelétricas tiveram preço médio de cerca de 219 reais nesta quarta-feira, contra valores médios entre 218 e 213 reais de usinas termelétricas a biomassa e gás natural.
DISPUTA ACIRRADA
O resultado histórico para as renováveis, com forte deságio frente aos preços teto estabelecidos para os leilões, foi fruto de enorme disputa entre investidores para fechar os contratos de longo prazo para entrega de energia às distribuidoras.
Por parte dos investidores, destacaram-se estrangeiros, como os italianos da Enel Green Power, com projetos eólicos e solares e presença nos dois certames, a AES Tietê, da norte-americana AES Corp, que viabilizou usinas solares, além da EDP Renováveis, da portuguesa EDP, e da francesa Voltalia, que também viabilizaram empreendimentos.
Juntos, os dois leilões realizados nesta semana acrescentarão cerca de 4,5 gigawatts em capacidade à matriz brasileira, sendo 674,5 megawatts para entrega em 2021 e 3,8 gigawatts para conclusão em 2023.
Os empreendimentos contratados deverão somar mais de 18 bilhões de reais em investimentos para serem implementados, com a maior parte, ou quase 14 bilhões de reais, associada aos empreendimentos com entrega para 2023.
Os resultados comprovaram expectativas do mercado, de uma licitação mais movimentada para os empreendimentos com maior prazo de conclusão, devido à perspectiva de gradual recuperação da economia brasileira após a recessão enfrentada em 2015 e 2016.
COM LEILÕES, BRASIL TEM UMA DAS CINCO MENORES TARIFAS DE ENERGIA RENOVÁVEL DO PLANETA
Os dois leilões de energia nova realizados nesta semana (empreendimentos que ainda serão construídos), registraram tarifas médias muito baratas. Ficaram entre as cinco menores de todo o planeta. E serão provenientes, em sua maioria, de energia renovável. Usinas eólicas e solares dominaram o certame. Não houve contratação de usinas térmicas a carvão, também qualificadas para a competição.
Cálculos da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) mostram que os valores contratados no leilão, abaixo de US$ 40 o MWh (megawatt hora), só são possíveis, além do Brasil, no México, no Chile, na Argentina e nos Emirados Árabes.
É uma grande vitória para o consumidor brasileiro, diante do cenário dos últimos meses, onde a energia ficou cada mês mais cara, com um regime de chuvas insuficiente e um sistema dependente de usinas hidrelétricas.
No leilão A-6 (com entrega para seis anos, em 2023), realizado ontem (20), houve um deságio médio de 37,8%. Na disputa pela fonte eólica, que dominou a licitação, o deságio chegou a 64,27%. (em 21/12)
Por Leila Coimbra, da Agência iNFRA