O aumento do frete internacional foi o principal problema para empresas com operações de comércio exterior, mostra pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada nesta quarta-feira (19).
A “Consulta Empresarial: Logística Internacional”, realizada pela confederação junto com 465 empresários, mostrou que o problema do aumento do frete internacional foi citado em 90% das respostas.
Três em cada cinco empresas que exportam ou importam foram altamente afetadas pelas condições do mercado marítimo internacional nos últimos meses. Ao todo, 83% das exportadoras e 71% das importadoras precisaram suspender ou postergar algum embarque.
Dentre as empresas que tiveram de suspender ou postergar o transporte de produtos, muitas não conseguiram cumprir contratos com clientes. Isso ocorreu para 90% em exportações e 80% em importações, devido às dificuldades ocasionadas por problemas na logística mundial.
Para a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri, o mundo ainda sente os efeitos da desorganização do transporte marítimo mundial, que sofreu uma reação em cadeia devido ao fechamento de portos em importantes mercados e à consequente retenção de navios e de contêineres.
Segundo a gerente, esse desequilíbrio levou a um aumento de preços, “que ainda persistem e se somam aos desafios estruturais de competitividade do comércio exterior brasileiro”, afirmou, em nota.
Aumento do frete é o maior problema
A conjunção de fatores que marcam o desarranjo do transporte marítimo internacional acirrou a disputa por navios e contêineres, pressionando o valor de frete, em comparação com o período anterior à pandemia da Covid-19, como revelou a consulta da CNI.
O custo elevado foi o principal problema enfrentado pelas empresas, segundo a pesquisa, com 92% das exportadoras impactadas. O percentual sobe para 95% entre as importadoras.
Nas operações de exportação, a falta de contêineres é tida como segundo maior empecilho, sentido por 80% das empresas consultadas pela CNI. Na sequência, a indisponibilidade de navios ou de espaço nas embarcações e o cancelamento/omissão dos embarques programados dividem o terceiro lugar, com impacto em 76%.
Nas importações, a baixa oferta de navios disponíveis ou de espaço nas embarcações é a segunda grande dificuldade na atuação, enquanto a falta de contêineres é a terceira. Ambas afetaram sete em cada dez empresas, de acordo com a pesquisa.
Suspensão e adiamento de embarques
As empresas brasileiras tiveram de suspender ou adiar embarques com maior frequência, apontou a CNI.
Isso ocorre devido à escassez de navios e de contêineres em algumas rotas e o consequente aumento de prazos de permanências das embarcações nos terminais, como explica o levantamento.
No caso do Brasil, a indisponibilidade de contêineres pode ser mais agravada em função da baixa eficiência aduaneira-portuária, como afirma Negri, “pelo fato de o país estar distante das principais rotas de navegação e movimentar apenas 1% do fluxo global de contêineres”.
Entre as importadoras, 73% recorreram às medidas, enquanto nas exportadoras esse percentual sobe para 81%.
Das exportadoras que precisaram suspender ou postergar, 90% relataram descumprimento dos contratos, 91% mencionaram alteração da modalidade de embarque e 94% registaram cobrança adicional sobre o uso do contêiner.
No caso das importadoras que passaram pela mesma situação, 80% listaram problemas de não cumprimento dos contratos. A cobrança adicional sobre o uso do contêiner foi citada por 88%, e 91% mencionaram alteração da modalidade de embarque.
Piora nas relações com os mercados mais importantes
A maioria das empresas declarou que as condições pioraram nas relações com os seus mercados mais importantes, sejam de destino ou origem, de acordo com a CNI.
Em comparação com o início de 2021, as exportadoras brasileiras experimentaram uma piora com Estados Unidos/Canadá (73%), Europa (69%) e China (66%). As importadoras reportaram piora de 66% com os mesmos mercados.
Todos os principais mercados das companhias consultadas registraram amplo aumento no custo do frete, quando comparados com os valores pré-pandemia.
Um crescimento superior a 500% foi vivenciado por um quarto das exportadoras que operam com o mercado norte-americano, e por um quinto das que trabalham com o latino-americano.
Em relação às importadoras, o percentual de empresas que perceberam aumento acima de 500% foi maior no caso de mercadorias originárias da China (23,9%). Em seguida, têm-se o frete originário na Ásia (19,6%), com exceção da China.
Além disso, novos fatores intensificaram as questões da logística global, segundo a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI. “O outro lockdown ocorrido em Xangai afetou ainda mais as linhas comerciais com a Ásia, enquanto o conflito entre a Rússia e a Ucrânia suspendeu rotas com origem e destino para esses dois países”.
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