A recessão dos últimos dois anos vem provocando mudanças no setor de transporte rodoviário de carga. Empresas e autônomos estão migrando de seus segmentos originais para outros menos afetados pela crise. A entrada de novos concorrentes é uma das justificativas para a difícil situação pela qual passa o transporte de grãos. E também vem afetando o segmento farmacêutico, tido como “primo rico” do setor.
Segundo Thiago Amaral, diretor comercial da RV Ímola – transportadora com sede em Guarulhos e 13 centros de distribuição espalhados pelo Brasil – a entrada de “aventureiros” na atividade jogou o preço do frete para baixo. “Sentimos bastante com a chegada desses entrantes. São pessoas que atuavam em setores como o de transporte de peças automobilística”, conta.
De acordo com estudo feito pela FGV Projetos para a NTC&Logística, o mercado de transporte de medicamentos movimentou R$ 775 milhões, em 2013. “Somos um setor que transporta produtos de alto valor agregado, mas temos custos muito altos também”, afirma o diretor. Atividade regulada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o transporte de medicamentos tem uma série de exigências legais a cumprir. “Nossa frota é qualificada e uma licença da Anvisa pode custar mais de R$ 30 mil”, explica.
Além disso, de acordo com Amaral, os custos com pessoal também são maiores. A RV Ímola, segundo ele, tem farmacêuticos contratados em todas as suas bases. “Nós trabalhamos com produtos que impactam a sociedade de uma maneira muito séria. Se o medicamento não chegar, o paciente pode morrer. Se chegar numa temperatura não adequada pode não fazer efeito.”
Apesar de a indústria farmacêutica ter crescido 12% em 2015, em plena crise econômica, os embarcadores não estão aceitando reajustes no frete, que estaria congelado há dois anos. Segundo o diretor, devido aos novos entrantes, os laboratórios sempre vão encontrar fretes mais em conta. Essa situação deve perdurar enquanto esses transportadores conseguirem driblar as regras da Anvisa, ou até que seus segmentos de origem voltem a aquecer.
O diretor é otimista em relação a 2017. Ele acredita que a economia irá crescer 1%. “Na crise, a gente aprende a trabalhar com mais eficiência. Esses dois anos serviram para nos tornarmos mais eficientes. Sairemos fortalecidos”, declara. Entre as medidas tomadas para reduzir custos, a transportadora teve de cortar 30% do quadro de pessoal.
Segundo Amaral, a retomada da economia fará com que os transportadores de outros setores voltem para sua atividade original. “A indústria farmacêutica voltará a recorrer aos antigos players que sempre estiveram focados no segmento.”
Com frota própria de 180 caminhões e 200 agregados, a empresa atende clientes como a Hypermarcas e o laboratório Aché.