Nelson Bortolin
De 9% a 13% mais altos. Essa é a expectativa para o frete de grãos no primeiro semestre deste ano, segundo o economista Samuel da Silva Neto, do Sistema de Informações de Fretes (Sifreca), da Esalq-Log, da USP de Piracicaba. A maior parte desse porcentual é composto de repasse dos aumentos do diesel. Foram cerca de 20% no segundo semestre de 2017.
Uma das características da nova safra é o atraso de uns 15 dias na colheita no Centro-Oeste. “Será uma safra mais concentrada. E a colheita de aquecer só em fevereiro”, avisa. Segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a safra será quase 7% menor que a anterior. “Não é ruim se considerarmos que a do ano passado foi ótima, com volumes recordes de soja”, afirma.
Neto não acredita em expansão do frete no segundo semestre devido a uma retração prevista para a produção do milho da segunda safra. “Teremos menos milho para exportação. O transporte de grãos para o mercado interno não aquece o frete porque tem fluxo cadenciado”, afirma
O economista ressalta que o transporte ferroviário de grãos, principalmente a partir de Rondonópolis, tem crescido, o que ajuda a segurar o valor do frete rodoviário em boa parte do País. “A boa notícia é que, enquanto o valor do frete cai em direção ao porto, ele aumenta em direção ao terminal da ALL. A rota hoje mais importante no País é Sorriso-Rondonópolis”, conta.
Apesar do atraso na colheita, os fretes acompanhados pelo Sifreca estavam cerca de 15% mais altos na primeira quinzena de janeiro, na comparação com o mesmo período do ano passado. De Rio Verde (GO) a Santos, o valor por tonelada havia subido de R$ 127 para R$ 145. E, de Toledo a Paranaguá, no Paraná, de R$ 78,20 para R$ 90. “Esta não é a melhor comparação porque os fretes no início de 2017 estavam particularmente baixos”, ressalva.
Para o diretor executivo da Associação dos Transportadores de Mato Grosso (ATC), Miguel Mendes, ainda é cedo para apostar em recuperação do frete. “Temos que aguardar a intensificação da colheita.” Mas ele acredita que haverá aumento nas tarifas. “A safra vai ser boa e a oferta de caminhões será menor”, diz ele ressaltando que muitas empresas de transporte e autônomos quebraram em virtude da crise econômica.
Transportadoras com contratos longos com as tradings devem puxar o reajuste do frete, segundo Mendes. “Elas têm gatilhos em seus contratos. Todo vez que o diesel sobe, o valor do frete acompanha. Para você ter uma ideia, a cada mil reais de carga transportada, 500 reais ficam com óleo diesel”, declara.
O diretor diz ainda que os transportadores se preparam para enfrentar novamente velhos problemas no transporte de grãos. “O agendamento de carga continua sendo uma dificuldade. O transportador só fica sabendo no último momento as informações sobre a descarga, o que atrapalha nosso planejamento logístico.” A deficiência de infraestrutura e o fato de os embarcadores não repassarem o vale-pedágio são outros problemas citados por ele.