As Complexidades e Desafios na Relação entre Embarcadores e Transportadores de Cargas de Projeto

Publicado em
02 de Agosto de 2023
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A movimentação de cargas de projeto, que envolvem cargas superpesadas e superdimensionadas, é uma tarefa complexa que requer um planejamento detalhado, coordenação precisa e cumprimento estrito das regulamentações e normas de trânsito. Essa operação exige uma estreita colaboração entre os embarcadores (empresas que enviam as cargas) e os transportadores (empresas que realizam o transporte), a fim de garantir a segurança, eficiência e sucesso da operação. No entanto, a relação entre essas duas partes nem sempre é harmoniosa e muitas vezes é afetada por diversos problemas e desafios. Neste artigo, destacaremos as principais razões que costumam azedar a relação entre embarcadores e transportadores na movimentação de cargas de projeto.

1. Processo de BID (Bidding)

O processo de BID, ou cotação de preços, é um dos pontos iniciais na relação entre embarcadores e transportadores. A competição por contratos muitas vezes leva os transportadores a oferecerem valores reduzidos para vencerem a disputa, o que é fortemente agravado pela pressão, cada vez maior, por preços mais baixos, o que pode levar a um serviço de menor qualidade ou até mesmo a prejuízos para os transportadores, que podem não conseguir cobrir adequadamente os custos do transporte e optarem pelo uso de estrategemas de sobrevivência, aumentando os riscos, gerando ressentimentos e desconfianças entre as partes, comprometendo inclusive a imagem do segmento como um todo.

2. Escolha da Combinação de Veículos

A escolha da combinação de veículos adequada é fundamental para o transporte de cargas de projeto. No entanto, nem sempre os embarcadores estão dispostos a arcar com os custos de contratar veículos mais especializados e adequados à carga, optando muitas vezes por soluções mais baratas, mas que podem não ser as mais seguras ou eficientes. Isso pode gerar tensões com os transportadores, que podem não querer assumir riscos desnecessários ou trabalhar com veículos inadequados.

3. Falta de Transparência na Precificação do Frete, em especial com relação às inúmeras e elevadas Taxas e Tarifas que incidem especificamente sobre esse tipo de transporte

A falta de transparência na precificação do frete é um problema recorrente na relação entre embarcadores e transportadores. Especialmente no caso de cargas de projeto, onde há incidência de taxas e tarifas específicas, como TUV (Taxa de Utilização de Vias), TAP (Tarifa Adicional de Pedágio) e Escolta Policial, a ausência de clareza sobre como esses valores são calculados e repassados aos transportadores pode gerar descontentamento e conflitos. A falta de entendimento sobre os custos totais envolvidos na operação pode resultar em negociações tensas e desentendimentos.

4. Prazos para Obtenção de AET e Execução do Transporte

A obtenção da Autorização Especial de Trânsito (AET) é um processo que exige tempo e coordenação, envolvendo diversos órgãos e instâncias. A demora na emissão da AET pode prejudicar o planejamento do transporte e causar atrasos, o que geralmente gera insatisfação por parte dos embarcadores. Por outro lado, os transportadores também podem ser prejudicados quando os prazos para a execução do transporte são muito apertados, comprometendo a segurança da operação, em especial considerando a deterioração crescente da infraestrutura logística.

5. Impacto da Deterioração da Infraestrutura Logística

A deterioração da infraestrutura logística, especialmente quando se trata de pontes e viadutos com restrição de capacidade portante, é um fator crítico que frequentemente afeta o planejamento e a execução do transporte de cargas de projeto. Infelizmente, muitos embarcadores subestimam o verdadeiro impacto dessas limitações na viabilidade e no custo do transporte, o que pode resultar em desafios significativos durante a operação.

6. Restrições de Capacidade Portante

A infraestrutura de pontes e viadutos em muitas regiões pode não ter sido projetada para suportar o peso das cargas superpesadas ou superdimensionadas, comuns em cargas de projeto. Isso impõe limitações severas ao transporte, exigindo rotas alternativas ou a realização de modificações nas próprias estruturas para permitir a passagem segura das cargas. A necessidade de identificar e contornar essas restrições aumenta o tempo e os recursos necessários para planejar e executar o transporte, impactando os prazos e os custos envolvidos.

7. Atrasos na Execução do Transporte

A identificação de restrições na infraestrutura logística e a necessidade de elaborar soluções alternativas podem levar a atrasos na execução do transporte. Os embarcadores, frequentemente, não antecipam adequadamente esses possíveis contratempos em seus planejamentos, o que pode resultar em atrasos indesejados nos prazos de entrega das cargas. Essas situações de imprevistos também podem gerar desgastes na relação entre embarcadores e transportadores, à medida que estes últimos são responsabilizados pelos atrasos, apesar dos desafios infraestruturais enfrentados.

8. Atendimento aos Requisitos Legais e Obtenção de Licenças

O transporte de cargas de projeto requer o cumprimento rigoroso de todas as regulamentações e requisitos legais, além da obtenção das licenças necessárias para a realização da operação. A falta de cumprimento dessas exigências pode resultar em multas, apreensão da carga e até mesmo em sanções legais para as partes envolvidas. A pressão para cumprir essas obrigações legais muitas vezes pode gerar conflitos e tensões entre embarcadores e transportadores, especialmente quando algum aspecto não foi devidamente planejado e executado.

Conclusão

A movimentação de cargas de projeto é uma atividade que envolve inúmeros desafios e complexidades, e a relação entre embarcadores e transportadores desempenha um papel crucial no sucesso dessas operações. É fundamental que ambas as partes busquem um diálogo aberto e transparente, com uma compreensão mútua das dificuldades e responsabilidades envolvidas. A colaboração efetiva entre embarcadores e transportadores é essencial para garantir a segurança, eficiência e cumprimento das obrigações legais, proporcionando resultados satisfatórios para ambas as partes envolvidas e para o segmento como um todo. Além disso, a valorização do trabalho dos transportadores e o reconhecimento das particularidades e custos envolvidos no transporte de cargas de projeto contribuem para uma relação mais harmoniosa e produtiva entre todas as partes interessadas.

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