Artigo - Tecnologia embarcada em Guindastes, voltada à Segurança*

Publicado em
06 de Fevereiro de 2017
compartilhe em:

Aparentemente a tecnologia embarcada nos guindastes não foi capaz de grandes reduções nas taxas de fatalidades nas atividades de movimentação de carga

Com objetivo de tornar mais segura operações com guindaste e com as possibilidades abertas pelo desenvolvimento tecnológico muitos dispositivos de engenharia foram introduzidos pelos fabricantes visando aumentar a segurança dos equipamentos.

Os guindastes modernos saem de fábrica protegidos contra sobrecargas, com controle de sobre-enrolamento, com proteção de fim de curso do moitão, controle limitando o peso em função da abertura da lança, sinalização e limitação do uso em velocidades do vento impeditivas, controle da abertura de patolas, controle de inclinação etc.

Com esta parafernália tecnológica embarcada no equipamento aparentemente sobraria pouca oportunidade para ocorrência de acidentes pelo menos deveria ocorrer reduções nas taxas de acidentes fatais, teoricamente, foi assim que pensávamos quando nos deparamos com os primeiros equipamentos modernos entrando no mercado.

Mas os números de acidentes fatais ainda continuam elevados na movimentação de carga.

Nos Estados Unidos da América (USA), existem hoje mais de 250 mil operadores de guindastes, sendo 150 mil guindastes em operação na indústria de construção e outros 100 mil em atividades portuárias e indústria naval etc.

Considerando que estão normalmente expostas ao risco no mínimo outras 4 pessoas, como sinaleiros, amarradores de carga e higger, a quantidade de pessoas expostas pode ser muito maior dependendo dos padrões locais de movimentação de carga e os padrões de isolamento e segregação de área, então esta população exposta ao risco pode ser muito maior.

Em 2013 nos estados Unidos tivemos 79 fatalidades foi relacionada a movimentação de carga.

A análise da OSHA sobre acidentes de guindaste na indústria e construção em geral identificou uma média de 71 fatalidades a cada ano nos utimos anos.

Embora não haja dados para determinar a população exposta com precisão, mas considerando o risco da população exposta se considerassemos os padrões corretos de isolamento de área e sinalização, poderemos estimar em 1.250.000 o universo de pessoas expostas por ano.

Isto resultaria em uma taxa de falha de 56,8 fatalidades por milhão de pessoas expostas por ano. Verificamos que esta taxa de fatalidade fica bem abaixo das taxas de fatalidades da Industria de construção Civil nos Estados Unidos da América, veja quadro abaixo:

fatal-10

No período de 1992 a 2006 os acidentes fatais com movimentação de carga nos Estados Unidos tiveram o seguinte comportamento (veja gráfico abaixo):

guindastes-1

Acreditamos que de 1992 a 2006 deve ter havido aumento considerável no número de equipamentos em operação nos USA, podemos então verificar que apesar do número absoluto de Acidentes Fatais decorrente de todas as atividades de movimentação de carga no período de 1992 a 2006 tenha mantido uma tendência constante, ou seja, não houve crescimento da taxa no período, isto indica que houve melhorias significativa da taxa de falhas levando em consideração o aumento da população exposta no período.

Observando somente guindaste atuando na indústria de construção civil identificamos uma leve tendência de crescimento, onde deve ter ocorrido maior crescimento de guindastes em atuação, mas ainda menor que o crescimento no setor.

Principais causas dos acidentes identificadas nas investigações realizadas

guindastes-2

 

 

 

 

 

 

Para análise pegamos o ano de 2013 que é o último com estática disponível na internet.

No ano de 2013 nos estados Unidos ocorreram 79 fatalidades relacionados à movimentação de carga, como em 2013 já existia domínio tecnológico para embarcar tecnologia de proteção e segurança para controle e proteção de sobrecargas e controle de sobre-enrolamento, controle de fim de curso do moitão, controle limitando o peso em função da abertura da lança, sinalização e limitação do uso em velocidades do vento impeditivas, controle da abertura de patolas, controle de inclinação etc.

Olhando então para o resultado fica a pergunta; “Porque não foi observado reduções nos acidentes nas atividades de movimentação de carga”?

Pensando na resposta encontramos 03 viáveis explicações;

  1. O número de guindaste em operação pode ter aumentado de forma significativa entre 2006 e 2013, aumentando a exposição de forma que mascarou os ganhos obtidos.
  2. Os Guindastes sem tecnológica embarcada ainda em operação são muito em maior número que os adaptados e os novos que entraram com tecnologia embarcada.
  3. Os principais grupos de eventos fatais ainda não foram mitigados pela tecnologia embarcada.

Analisando o item “3” obtido através da analise relativa ao Histórico de Acidentes Fatais temos:

No período de 1992 a 2006 é fácil observar que toda tecnologia embarcada não mitigou os principais riscos de fatalidade nas atividades de movimentação de carga, constantes do histórico, porque:

1 – Eletrocussões por contato com rede energizada foram responsáveis por 24,7% dos acidentes no período.

Este tipo de risco não foi mitigado pela tecnologia embarcada focada nos controles de sobrecarga, controle de abertura de patolas e outros.

2- Prensado pela carga – 20,8%

Tecnologia embarcada também não mitiga este tipo de risco, que depende da existência de padrões rígidos e do comportamento humano.

3 – Prensado pelo Guindaste ou partes do Guindaste – 19,7%

A Tecnologia embarcada também não foi projetada para ser capaz de mitigar este grupo de risco.

4 – Colapso Guindaste – 14,0%

A tecnologia nova embarcada tem parcial impacto na mitigação de acidentes relativo a este grupo de risco, uma vez que impede que os guindastes operem com sobrecarga, impede que se opere sem abertura adequada de patolas.

Entretanto colapso pode acontecer decorrente a manutenção/inspeções deficientes, afundamento de patola, etc. que não cobertos pela tecnologia embarcada.

5 – Quedas da Carga/Cesto ou do Guindaste – 8,8%

Queda da carga/ queda do cesto ou queda de pessoas não foram mitigados pela tecnologia embarcada.

6- Pego dentro do Guindaste ou entre guindaste – 4,7%

Não foi mitigado também

Conclusão:

A tecnologia embarcada trouxe redução no risco limitada a um grupo com participação de 14,0% dos acidentes catalogados num período analisado de 15 anos.

86,0% dos acidentes constantes do histórico na movimentação analisados não foram mitigados pela tecnologia embarcada.

Vamos abordar então nos novos post que tecnologia existente pode mitigar estes riscos que não foram afetados pela tecnologia embarcada e que ações e padrões rígidos devem ser implementados para redução da taxa de fatalidades nestes casos.

Nosso objetivo é salvar vidas

* Autor: JUAREZ BARBOSA

- Engenheiro Mecânico PUC-MG 1979 Graduação Plena
- Pós Graduação Economia e Finanças pela PUC – Campinas - 2001 / 2002
- Top Management Total Quality Control, realizado no Japão através da JUSE, em 1993.
- Qualificação em ensaios não destrutivos, inspeção de poços verticais e guinchos de transporte de minério e pessoal para mina subterrânea, na ANGLOAMERICA Co. 1988.

Referências bibliográficas

  1. Crane and hoist safety – https://www.osha.gov/archive/oshinfo/priorities/crane.html
  2. Crane-Related Deaths in Construction and Recommendations for Their Prevention – http://www.elcosh.org/document/1781/d000823/Crane-Related%2BDeaths%2Bin%2BConstruction%2B%2526%2BRecommendations%2Bfor%2BTheir%2BPrevention.html?show_text=1
  3. Crane-Related Deaths in Construction & Recommendations for Their prevention http://www.elcosh.org/document/2053/d001029/Understanding+Crane+Accident+Failures%3A+A+report+on+the+causes+of+death+in+crane-related+accidents.html?show_text=1
  4. S. Bureau of Labor Statistics Census of Fatal Occupational Injuries Research File
Boletim Informativo Guia do TRC
Dicas, novidades e guias de transporte direto em sua caixa de entrada.