Artigo - Como o baixo nível educacional trava o Brasil, por Paulo Roberto Guedes*

Publicado em
03 de Junho de 2016
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Como é do conhecimento de todos, há diversos – e graves - problemas para serem resolvidos no Brasil atual. Da política à economia, da saúde à segurança pública e da infraestrutura à urbanização, todos são temas demasiadamente importantes e que merecem a atenção de qualquer governo. Tenho utilizado este espaço para comentar alguns daqueles que entendo os mais importantes no momento: política, economia e infraestrutura logística são alguns dos assuntos abordados.

Mas para que avancemos, de forma concreta e sustentável, rumo ao grupo dos países desenvolvidos, precisamos melhorar a Educação, base fundamental para a manutenção da Democracia, da Cidadania e da Dignidade dos brasileiros, seja como ser humano, como cidadão ou profissional.

Volto a insistir, a educação é tema que precisa ser resolvido de forma urgente, definitiva e profissional, sem ‘meias-verdades’ e sem propostas provisórias ou amadoras. Até porque os bons resultados esperados não virão a curto-prazo. E para que se evitem transtornos, como aqueles recém-ocorridos em São Paulo, toda e qualquer proposta para melhoria do sistema educacional brasileiro precisa ser feita com transparência e discutida à exaustão com especialistas e toda a sociedade. É impossível a implantação de reformas nos sistemas educacionais de um país, de um município ou de uma cidade, sem que se tenham estabelecidos canais de negociação com todos os envolvidos, principalmente sindicatos de professores, diretores ou associações de pais e mestres.

Por outro lado, também como é do conhecimento de todos, “a produtividade do trabalho é imprescindível para que uma sociedade obtenha ganhos concretos e sustentáveis”. E a produtividade do trabalho (1), por sua vez, somente será obtida a partir da capacitação das pessoas, de muita pesquisa, inovação e desenvolvimento científico. Uma das receitas, para isso, é unir o setor produtivo brasileiro à universidade, convencendo esta última de que, além do relevante papel na educação de nossos jovens, através da transmissão de conhecimentos, ela precisa produzir conhecimentos, incluindo aqui, aqueles voltados à produção. Neste ponto, permito-me avançar um pouco mais: a união entre a classe empresarial e os responsáveis pelo direcionamento da educação, em qualquer país, precisa ocorrer, no mínimo, desde o ensino fundamental, pois é importante estimular os alunos, principalmente os adolescentes, que ir à escola pode ser uma atividade agradável e produtiva. É necessário que o aprendizado de todos os alunos, em todos os níveis, seja garantido, pois o prosseguimento na vida escolar ficará totalmente prejudicado caso a base não seja de qualidade.

O economista Eric Hanushek (2), doutor em economia pelo MIT e professor da Universidade Stanford dos EUA, fez um estudo em cerca de 80 países e constatou que “a boa formação escolar de uma população explica em torno de 75% do PIB”. Adiante pondera: “e olhe que estamos tratando apenas de conhecimento básico mesmo – matemática, linguagem, ciências e a capacidade de juntar as peças e solucionar problemas simples”.
O coordenador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), matemático Marcelo Viana, em entrevista feita para a Revista Veja, de 27/04/2016, quando comentava sobre a relação entre educação e ciências e o PIB, corrobora com as observações feitas por Hanushek quando afirma que “segundo um estudo feito na Inglaterra, uma boa base educacional e científica na área (matemática), aumenta o PIB do país em cerca de 10%. Isso ocorre porque, graças à matemática de excelência, a produtividade se eleva em campos como a computação e as engenharias, que fazem girar a roda da economia criando empregos muito acima da média”.

Portanto, escolas com alto padrão (3) e ensino de qualidade (4), nas quais os alunos não ficam somente decorando datas e fórmulas, mas aprendendo a resolver problemas, estão diretamente ligadas ao aumento da produtividade e, consequentemente, ao crescimento de um país. Profissionais capazes e bem formados são instrumentos da inovação (5) e do aumento da produtividade do trabalho e da produção (6).

Infelizmente, para o Brasil, artigo do Professor Renato J. Ribeiro, ex-ministro da educação do Governo Dilma, publicado no caderno Aliás, do jornal o Estado de São Paulo, em 27/12/2015, faz um cruel diagnóstico quando comenta a educação básica: “nela há um ponto decisivo, um foco terrível, que tem de ser enfrentado com prioridade: a alfabetização”. E vai além: “em 2014, dos alunos de terceiro ano do fundamental na escola pública do Brasil inteiro, isto é, meninos e meninas em torno dos oito anos de idade, 22% não sabiam ler, 34% (não sabiam) escrever e 57% não dominavam as quatro operações matemáticas”. Portanto, ainda segundo o ex-ministro, “a prioridade zero tem de ser alfabetizar todos na idade certa”.

Faço questão, aqui, de ressaltar dois comentários extremamente oportunos, considerando as dificuldades atuais pelas quais passa a educação no Brasil. O primeiro é da antropóloga da USP, Eunice Durham (7): “Na prática, (os professores) não sabem alfabetizar. Escrevem mal. Não sabem matemática básica e não sabem sequer ensinar aritmética. São muito mal formados, inclusive, já antes, no ensino fundamental. E não há nenhum processo para reforçar a formação”. O segundo comentário é do filósofo, físico e matemático Bernardo Toro (8): “Professores e sindicatos precisam entender que a Educação não pertence somente a eles, pois frequentemente as reivindicações e as causas desses profissionais se sobrepõem ao interesse geral e às boas práticas de ensino”. De fato, é de conhecimento público que a atuação de muitos sindicatos, lamentavelmente, contribui, por exemplo, para que a meritocracia (9) não seja implantada correta e plenamente, principalmente quando, em detrimento do desempenho e da qualidade, evoca-se o princípio da isonomia salarial.

Já, segundo a Diretora Sênior Global de Educação do Banco Mundial, em artigo publicado no Estadão de 29/11/15, quando comentava as informações do Relatório do Banco Mundial (Sustentando Melhorias no Emprego e nos Salários no Brasil: uma Agenda de Competências e Empregos), “o desenvolvimento de competências como leitura, interpretação de textos, raciocínio matemático e de aplicação de um repertório científico e cultural em problemas da realidade é importante para qualquer caminho profissional posterior”. “Essas competências devem ser trabalhadas nas escolas regulares e reforçadas em cursos profissionais ao longo da vida de cada indivíduo”. Apesar da clara evolução havida, o Brasil ainda tem um índice muito aquém, se comparamos com países mais desenvolvidos, de alunos do ensino secundário que também frequentam a educação profissional. Dados extraídos do Relatório do Banco Mundial informam que enquanto no Brasil, apenas 7,8% dos alunos do ensino secundário também estavam matriculados no ensino profissional, a União Europeia, em 2010, tinha 49,9%, a Áustria 76,8%, a Finlândia 69,7% e a Alemanha 51,5%. E mais, “os países que têm destaque na formação profissional, também se saem bem no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes realizado pela OCDE)”.

Para nossa tristeza, esse atraso é refletido quando constatamos o péssimo desempenho do Brasil, quando se analisam índices diversos, tais como o PISA, já citado, a taxa de alfabetização do povo brasileiro, a participação dos estudantes nos exames do ENEM ou mesmo quando avaliamos os recém-formados, seja nos exames da OAB ou do CREMESP.

Bernardo Toro, aqui já citado, entre diversas observações interessantíssimas, coloca mais uma que vale a pena comentar quando fala do Brasil: “como saber o currículo que deve ser implantado (que estabeleça metas de aprendizado nas salas de aula) se não há sequer um projeto para o País? Isso precisa ser levado em consideração na hora de ponderar quais conhecimentos são de fato relevantes e quais podem ser descartados”. É preciso que a ‘grade’ curricular permita ao aluno, além de adquirir conhecimentos, formar-se como cidadão, consciente de seus deveres e direitos e com possibilidades de exercer livremente essa cidadania.

Está provado que os países com um currículo nacional, baseado nas melhores práticas e experiências, sempre apresentam índices educacionais bastante satisfatórios. Desde setembro do ano passado o Brasil vem discutindo uma proposta feita pelo Ministério de Educação para elaboração de uma Base Nacional Comum Curricular. Para uma grande maioria de educadores e profissionais do ensino, essa proposta, além de ter problemas graves, joga o nível ainda mais para baixo. Essa é, inclusive, a opinião da doutora Paula Louzano, formada em política educacional pela Universidade Harvard, pesquisadora visitante da Universidade de Stanford e uma das maiores conhecedores do assunto. Em entrevistada para a Revista Veja em 24/02/2016 ela critica a proposta do governo, pois “não estabelece objetivos claros para o aprendizado e vai formar alunos menos preparados que os de outros países”, uma vez que, ainda segundo ela, “não está explícito que aluno esse currículo deve formar no fim do ensino médio, objetivo primordial de qualquer currículo em qualquer parte do mundo”. É consenso nacional, apoiado inclusive pela grande maioria de especialistas no assunto, que uma educação de qualidade exige a clara definição dos conteúdos a serem ensinados nas escolas, em cada uma das disciplinas que compõem a grade curricular. Como já salientado, entretanto, esta discussão, além de ter grande viés ideológico, e também corporativo (segundo o Secretário Estadual de Educação do Estado do Rio de Janeiro, Antonio Neto, “o currículo tem sido pensado na perspectiva do professor, e não na do jovem”), está longe de ser considerada uma prioridade. Estamos atrasados!

Portanto, a baixa qualidade do ensino brasileiro em todos os níveis, consequência do que aqui se expos, aliada à baixa eficácia dos investimentos realizados (mais do que a quantidade de recursos é preciso estabelecer formas mais eficazes e corretas de aplicação e controle), têm permitido, ao longo dos anos, uma capacitação (qualificação) extremamente baixa de nossos profissionais.

O mesmo ocorre quando nos deparamos com as estatísticas que avaliam a Inovação no Brasil. Fica evidente que é cada vez mais difícil obter benefícios oriundos da “inovação” e do desenvolvimento tecnológico, a não ser pela via da importação, refletindo, inquestionavelmente, a baixa competência da maioria de nossos profissionais. Dados do MDIC e da SECEX demonstram essa carência de forma inequívoca (10).

Observando agora, os índices de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), um dos pilares principais do desenvolvimento de um país, o Brasil também não tem muito o quê comemorar, pois segundo dados publicados pela Revista de Audiências Públicas do Senado Federal os investimentos brasileiros em P&D, no ano de 2011, alcançaram, em média, apenas 1,16% do PIB, enquanto Israel destinava 4,40%, Finlândia 3,87%, Coréia do Sul 3,74%, Suécia 3,43%, Japão 3,36%, Dinamarca 3,06%, Suíça 2,99%, EUA 2,90%, Alemanha 2,82%, Áustria 2,76%, Islândia 2,64%, União Europeia 2,30% e França 2,26%. Estas e outras estatísticas, que tratam de investimentos em educação e P&D, foram publicadas por mim na Revista Mundo Logística nº 36, aqui já citada. Saliente-se, inclusive, que investimentos em P&D devem ter como contra partida o aumento da competência das pessoas, caso contrário não se conseguirá obter os efeitos benéficos que se desejam.

A consequência óbvia é a de que investimentos em educação, em ensino profissionalizante, em ciência (11), pesquisa e em inovação (12), sempre com qualidade e controle (13) e acompanhamento de resultados, são fundamentais para o crescimento e o desenvolvimento de qualquer país. Vale à pena lembrar que, em quaisquer circunstâncias, no governo ou na empresa privada, sempre respeitando o orçamento previsto.

Resumindo: o pouco e ineficiente incentivo no campo da ciência, da pesquisa e da inovação e a baixa qualidade do ensino são diretamente proporcionais às baixas qualificação e capacitação do trabalhador e, consequentemente, obstáculos ao aumento da produtividade do trabalho e ao desenvolvimento. É difícil que se obtenha um desempenho satisfatório na pesquisa, na inovação, na melhoria da qualidade ou no aumento da produtividade, se o nível educacional não contribui para isso! É um círculo vicioso que, de forma inexorável, condena qualquer país ao atraso.

Embora o slogan Pátria Educadora possa ter produzido alguns efeitos mercadológicos para o governo anterior, sabe-se que a educação no Brasil, desde muito e ainda, não é vista como estratégica para se alcançar o desenvolvimento. Um rápido exemplo é a quantidade de ministros da educação que tivemos nos últimos governos, posto que a nomeação para esse cargo somente foi utilizada como “moeda de troca”. Muitos dos ministros nomeados, inclusive, sem qualquer capacitação para tal.

“No Brasil de hoje há uma insatisfação crescente com a educação. O que as autoridades querem não é o que desejam estudantes, professores e famílias. E a maior parte dos políticos não tem conhecimento, atualização, experiência e, sobretudo, sensibilidade para perceber que, enquanto a educação no mundo toma novos rumos, com enorme rapidez, aqui estamos estagnados e colocando em risco o futuro do país”, diz Andrea Ramal, jornalista, escritora e especialista em assuntos ligados à educação, em artigo escrito para o site G1 do dia 23/05/2016.

Concluo com o que já havia citado em artigos anteriores: é preciso que nossos trabalhadores se tornem cada vez mais profissionais, focados nos clientes, capacitados, antenados (14), preparados para a solução de problemas e para o futuro, principalmente no que diz respeito aos avanços tecnológicos (15), e mais cidadãos. Aproveito, também, a excelente ‘dica’ dada pela escritora Lya Luft e incluo, na lista, mais uma característica necessária: mais educados (16).

Entretanto, em face do aqui exposto, isto somente irá acontecer quando a Educação for prioridade nacional, considerada como estratégica e instrumento de desenvolvimento da nação (17).

No campo da Educação não há espaço para improvisos, incompetência, demagogia ou populismo. Enquanto nossa população e nossos profissionais, não tiverem uma educação eficaz, jamais teremos uma pátria educadora e, muito menos, um país desenvolvido.

(1) Assunto já tratado por mim há quase três anos, através de artigo publicado na Revista Mundo Logística (nº 36 de set/out de 2013): “O valor da capacitação profissional para o desempenho logístico”.

(2) Resumo do estudo de Eric Hanushek foi comentado em entrevista dada para a Revista Veja de 16/12/2015.

(3) Hanushek, nos estudos já citados, comprovou que estudantes que tiveram aulas com professores de alto gabarito, ganham anualmente, quando profissionais, mais do que outros que tiveram professores de menores qualificações. Esta também é a opinião da professora Katherine Merseth, diretora do Programa de Formação de Professores da Universidade Harvard, quando diz que: “treinar gente talentosa para dar aulas é a fórmula para qualquer país trilhar o caminho do crescimento”.

(4) De acordo com artigo do jornalista Rolf Kuntz, publicado no Estadão, dia 22/05/2016, pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), divulgada em 2015, “o Brasil ficou na penúltima posição, num conjunto de 15 países desenvolvidos e emergentes” no quesito competitividade econômica. Especificamente no quesito ‘qualidade do ensino’, o Brasil ficou com a 10ª posição num total de 12 países. Entretanto, no item despesas com educação, a posição brasileira é a 8ª num total de 13. “De acordo com a tabela, a Coreia gasta o mesmo que o Brasil (3,3% do PIB), mas ocupa o 1º lugar em qualidade”. Ainda, segundo pesquisas e comentários do jornalista Rolf Kuntz, “com gastos proporcionalmente menores que os do Brasil, apareceram o Chile, a Rússia, a China e o México, mas todos ficaram em posições superiores à brasileira no quesito qualidade”.

(5) Ken Robinson, consultor inglês especializado em educação e inovação, em uma entrevista dada para a Revista Veja, de 20/04/16, faz observação interessante: “a criatividade é o processo de ter ideias originais e, se por acaso, o assunto pelo qual uma pessoa se interessar não fizer parte do currículo (da escola), então sua habilidade será negligenciada”. Portanto, conclui ele, as escolas não deveriam “apostar em currículos segmentados”. Deduz-se, consequentemente, que desenvolver uma cultura na qual a inovação e a criatividade sejam estimuladas e encorajadas, tanto via educação, como através das próprias estratégias econômicas é um caminho que propicia grandes ganhos de produtividade e avanços tecnológicos. Foi o que ele sugeriu às autoridades de Singapura, em meados da década 80, no século passado, que queriam transformar aquele país em um centro de desenvolvimento e criação. Pelos resultados obtidos, sabe-se que funcionou, pois o sistema de ensino implantado é considerado como um dos mais evoluídos do mundo. Semelhante ao que ocorre nos Estados Unidos, na Europa, Hong Kong, Japão e Coréia, as aptidões de cada estudante são levadas em consideração na elaboração do currículo do ensino médio, fazendo com que os talentos existentes sejam cada vez mais bem aproveitados. Rossieli da Silva, vice-presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) fez um comentário oportuno para a Revista Veja no dia 06/04/16: “Tentar padronizar os estudantes é um desperdício de talentos”.

(6) Segundo as pesquisas da CNI, aqui já citadas e que foram comentadas por Rolf Kuntz, dentre 15 países desenvolvidos e emergentes, o Brasil ficou na penúltima posição no quesito competitividade econômica e, no item produtividade dos trabalhadores industriais, nosso País ficou na 12ª posição num total de 14 competidores.

(7) Antropóloga e Livre-Docente da USP, Eunice Durham, referência em pesquisas sobre educação superior, em entrevista para a Revista Pesquisa Fapesp, abril de 2016.

(8) Colombiano, filósofo, físico e matemático Bernardo Toro, em entrevista concedida para a Revista Veja de 18/11/15.

(9) “Para atrair os melhores (para a carreira de professor), precisamos de mais meritocracia e menos corporativismo”, diz a professora Katherine Merseth, aqui já citada.

(10) Enquanto no ano 2000, o déficit na balança comercial de produtos industriais de alta e média/alta tecnologia era de US$ 16 bilhões, em 2013 esse déficit chegou a US$ 93 bilhões! Isto quer dizer que em 2013 o Brasil conseguiu exportar apenas US$ 49,7 bilhões de produtos industriais de alta e média/alta tecnologia e as importações chegaram a US$ 142,6 bilhões. No período analisado as exportações cresceram 153,6% e as importações 300,1%, numa clara evidência de que nossa dependência, com relação a esses produtos, só tem aumentado.Isto já havia sido retratado pelo Senado Federal brasileiro no ano de 2012, quando da realização de seminário aqui já citado: a exportação de produtos de alta e média tecnologia (complexos) em 2000 representava 36% das exportações brasileiras e em 2010 alcançou apenas 23%. Entre 2005 e 2009 o Brasil vendeu poucos produtos de alta tecnologia, sendo que sua participação oscilou de 0,5% para 0,49% do total exportado no mundo. As “commodities” primárias, em 2000, representavam 37% das exportações e chegaram a 51% em 2010. No XXVI Fórum Nacional, trabalho apresentado por Claudio R. Frischtak e Katharina Davies em Maio de 2014 (Inter B Consultoria - “Brasil: Decifrando o Paradoxo da Inovação”), concluiu que “o esforço dos países para se aproximar da fronteira da inovação se reflete no plano da competitividade e do comércio de produtos de alta tecnologia”. “A trajetória recente do comércio internacional do Brasil é nesse sentido preocupante: enquanto que as exportações de produtos de alta tecnologia ficaram praticamente estagnadas, com uma tendência descendente, as importações dessa categoria vêm apresentando uma clara tendência de elevação pós 2009”. E sintetizam: “o país está atrasado”.

(11) Ainda em abril deste ano, o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia foi reduzido em 25%, o menor dos últimos 12 anos. Com isso, os órgãos ligados ao Ministério (CNPq e Capes), que concedem bolsas de estudo e incentivos a estudantes, por exemplo, tiveram que suspender ou cancelar programas que estavam em andamento.

(12) “Ainda é difícil convencer as pessoas de que a inovação começa na educação de base. Ciência e tecnologia começam com a criança que o cientista foi no passado”, reclama o Senador Cristovam Buarque, quando da realização do Seminário ‘Caminhos para a Inovação’, em 2012 no Senado Federal. Aliás, registre-se, a conclusão principal do seminário: “Pesquisa, tecnologia e, finalmente, inovação”.

(13) Bernardo Toro comentou que “quando a sociedade não está suficientemente organizada, os bens públicos são usurpados por grupos guiados pelos próprios interesses”. “Ocorre com a educação” (grifos meus). Por outro lado, Douglass North, prêmio Nobel em Economia, quando fazia uma análise sobre o Brasil, no ano de 2006, afirmava: “Há uma aliança próxima entre interesses políticos e econômicos. O resultado é uma barreira para a competição e para mudanças institucionais inovadoras e criativas. Isso impede o Brasil de se tornar uma nação de alta renda”. E continua: “Esses grupos se protegem da competição, numa ação que tende a fechar a economia e barrar a eficiência”. Ainda, segundo ele, este é, talvez, a principal razão do atraso brasileiro, pois esses “grupos de interesse, em conluio com o governo, expropriam o futuro da nação” (grifos meus). Artigo de Giuliano Guandalini, publicado pela Revista Veja de 12/12/2015 (“A Fórmula da Riqueza”).

(14) “Que estejam atentos a tudo o quê acontece ao seu redor e não somente no seu segmento econômico, pois há diversos agentes que, direta ou indiretamente, nos forçam a adotar providências para atendê-los: sociedade, cliente, fornecedor, empregado, acionista, governo e natureza (meio-ambiente) são alguns exemplos. Qualquer um desses agentes (verdadeiros patrões) que seja contrariado criará sérios obstáculos ao correto funcionamento da sociedade e da economia. Produzir e poluir? Nem pensar. Produzir e sonegar? Também não. Produzir e desrespeitar as leis? É claro que não.” Abordo este tema no artigo “Tendências dos Operadores Logísticos”, publicado na revista Mundo Logística de Março/Abril de 2013, no qual são tratados temas ligados aos “Patrões das Empresas”. Ou como diz Carlos Vitor Strougo, diretor de Relacionamento Institucional da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH): “Os gestores precisam ter alto nível intelectual, cultural e analítico – do pensamento à economia. Quem entende como o mundo funciona, consegue compreender as expectativas de inter-relacionamento”. Em seu livro “Talento - A Verdadeira Riqueza das Nações”, Alfredo Assumpção reconhece esse executivo e o trata como Agente de Mudanças, profissional que saberá ajustar os caminhos da empresa às demandas de mercado, melhorando a produtividade e a lucratividade empresarial.

(15) “Tecnologias de crescimento exponencial estão transformando o modo como levamos nossa vida e aprimorando nossa capacidade de produção e de criação” – Médico, Engenheiro e Escritor, Peter Diamandis, é um dos mais respeitados empreendedores no Vale do Silício/EUA. (Entrevista realizada pela Revista Veja em 09/03/16).

(16) “um povo educado é um povo informado, que saberá ter consciência de suas responsabilidades e escolher seu destino”. “Com a educação de todos, sem exceção, virão os demais benefícios necessários a um povo digno, como saúde, infraestrutura, segurança, economia equilibrada e florescente, ótimas relações com países estrangeiros e lugar de destaque entre as nações civilizadas” – Escritora Lya Luft em artigo (“Deseducando o Brasil”) publicado na Revista Veja em 03/02/2016.

(17) “A Reforma Educacional de Nova York: possibilidades para o Brasil”, trabalho produzido por Norman Gall e Patrícia M. Guedes, coordenado pelo Instituto Fernando Braudel e publicado pelo Itaú Fundação Social, em 28/07/2009, mostra os excelentes resultados obtidos na cidade de Nova York, e como o Brasil poderia aproveitar-se daquela notável e exitosa experiência. A reforma educacional de Nova York, realizada a partir do ano 2002, mostra que é possível “superar obstáculos institucionais e desenvolver lideranças que se responsabilizem pelo aprendizado de seus alunos”. Com vontade política, profissionais dedicados, inexistência de feudos políticos e assistência legal que consiga implantar medidas inovadoras, é possível realizar reformas eficazes que quebrem formas antigas de pensar e agir no sistema educacional vigente. Conforme conclui o estudo publicado, “o processo dessa reforma educacional pode servir de inspiração para prefeitos e governadores brasileiros, porque aponta para alguns eixos fundamentais de mudança:

1. Autonomia e Descentralização;

2. Monitoramento e Responsabilização;

3. Apoio presencial ao professor;

4. Envolvimento das famílias e dos pais;

5. Alternativas para recrutamento e contratação de professores e diretores de escolas;

6. Segurança escolar;

7. Participação do setor privado;

8. Relacionamento com Sindicatos”.

* Paulo Roberto Guedes é consultor de empresas, professor do curso de Logística Empresarial do GVPec, da EAESP/FGV e colunista do Portal Guia do TRC e de diversas publicações relacionadas ao desenvolvimento da logística e dos transportes.

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