Artigo: acontece!, por Paulo Ricardo Mubarack

Publicado em
20 de Março de 2014
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28 de fevereiro de 2014, voo da Azul de Vitória para Campinas, 15 h. Portas fechadas, avião ainda na pista, iniciando procedimentos para decolagem. Eu, sentado no 14A, janelinha, tomando um mini banho por conta de pingos caindo de forma constante do teto do avião. A comissária disse, ao limpar a água, que “isto sempre acontece quando os motores estão ligados, o ar funcionando e as portas abertas, mas o senhor pode ficar tranquilo que, quando decolarmos, a água parará de cair na sua cabeça”.

O cara ao meu lado, um sujeito aparentemente humilde, estilo “montador de máquinas”, ficou olhando, curioso, a minha situação. Virei para ele e disse: “Viu que projeto ruim? Água não pode pingar na cabeça das pessoas em hipótese alguma!”. Ele respondeu: “Acontece, né?”.

Como assim, “acontece?”. Fatalidade? Erros grosseiros de projeto são normais? Que nível baixo de exigência nosso povo tem! Atrasos, acidentes, mutilações, mortes no trânsito, acontecem, né? “Era a hora dele”, dizem alguns quando o avião cai ou o carro mata. “Deus quis assim”, “era prá ser”, dizem outros.

As frases bobas vão se sucedendo. Elas carregam, na realidade, a covardia e a acomodação perante a realidade. Mais fácil falar estas bobagens do que consertar as coisas. Mais fácil lamentar, chorar, colocar uma camisa branca com a foto da vítima, realizar uma passeata, do que ralar anos e anos estudando formas melhores de fazer as coisas.

Não podemos tolerar esta cultura do “acontece, né?” dentro das empresas. Uma empresa moderna e pujante não permite o erro grosseiro e não admite o conformismo. Eis um dos principais atributos da liderança: não permitir atitudes frouxas, sem indignação, sem resposta enérgica e rápida, perante perdas de vendas e aumento de custos. Como iniciar de forma sistemática esta boa prática dentro de uma organização? Pelo processo de seleção. Se este for frouxo, entrarão frouxos. E frouxos formação uma empresa cada vez mais frouxa. Como poderia ser diferente? Frouxos formando uma empresa forte? Simplesmente isto não existe. A seleção dos novatos deve ser realizada pelas melhores cabeças de uma empresa e não ser delegada irresponsavelmente para uma analista de RH ou para uma agência terceirizada. Quem dispende tempo selecionando as melhores pessoas jamais se arrepende. O contrário acontece todo dia. O diretor de uma fábrica ou do varejo deve entrevistar pessoalmente até os estagiários antes da contratação. Que ninguém se surpreenda com esta afirmação ou que a classifique como utopia, porque todos empresários e executivos afirmam que “gente é meu ativo mais importante”. Quando uma empresa contrata um estagiário, por exemplo, ele precisa olhá-lo não como mão-de-obra temporária e barata, mas deve enxergar nele o futuro gerente. E para selecionar o futuro gerente, até o presidente deve se envolver. Sem negociação!

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